26 de dezembro

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Silvia Fonseca

Silvia Fonseca é jornalista e trabalhou por 30 anos no jornal O GLOBO, onde foi Editora Executiva. Tem pós em Gestão de Redação, tem uma consultoria em soluções de mídia e é sócia fundadora do A Seguir: Niterói. Nasceu em Minas, mas mora em Niterói há 32 anos.
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Ainda pode piorar mais

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Mulher ferida na invasão da Ucrânia pela Rússia. Foto reprodução da internet

Sempre pode piorar. Não sou uma pessimista, ao contrário. Mas é o fim do mundo começar a respirar depois de dois anos de pandemia, com a vacinação enfim atingindo um percentual seguro da população, e vem aí uma guerra. A invasão da Ucrânia pela Rússia e todos os horrores que estamos vendo nos últimos dias têm um pano de fundo parecido com o que vimos aqui no Brasil desde o primeiro diagnóstico de Covid, num longínquo 26 de fevereiro de 2020: governantes despreparados, autoritários, ensandecidos em busca de poder e força.

Morreu-se mais aqui do que o vírus era capaz de matar. São mais de 600 mil famílias que perderam seus amores. Mortes que poderiam ter sido evitadas se tivéssemos comprado as vacinas quando elas nos foram oferecidas. Mas sequer falamos a mesma língua: o Governo Federal delirava no seu negacionismo, governadores e prefeitos agiam por conta própria, uns acertando, muitos errando, e deu no que deu.

Ainda estamos em plena pandemia. Apesar das análises otimistas de que já já a Covid vai virar endêmica e que vamos conviver com esse vírus maldito como normalizamos a gripe, por exemplo, há especialistas que fazem previsões de uma longa luta ainda contra os males da doença. Porque mesmo quando (e se) controlado o vírus, ainda sentiremos seus efeitos, sendo as doenças mentais um dos principais.

Aí vem um doente mental lá do Norte e bota suas tropas, suas bombas e seus tanques para ameaçar e destruir civis na Ucrânia. O Brasil, vergonhosamente e para desonra de sua história na diplomacia internacional, veste de novo a máscara do negacionismo e se omite. Não que tenha qualquer importância a esta altura do campeonato o que vier a fazer o Governo de plantão por aqui, mas um país se faz com políticas públicas voltadas para os interesses de todo o seu povo, e não de lunáticos no poder.

Então é isso: gostaria de ser mais otimista neste balanço dos dois anos de Covid no Brasil, mas meu estômago é fraco. Tenho pena dos que achavam, no começo da pandemia, que sairíamos melhores dessa tragédia. Não sairemos melhores.

A política se deteriorou enormemente, e não foi só por causa da Covid. Estamos de novo nas mãos do Centrão, do fundo eleitoral de R$ 4,9 bilhões, da mesma guerrinha por poder de sempre, dos agrotóxicos espalhados como poeira, da destruição. Vem aí uma campanha eleitoral e nada mudou. Antes, uma guerra para piorar a situação da economia planetária, e por consequência da vida das pessoas.

Vacinem-se, cuidem-se. Antes de melhorar ainda pode piorar bastante.

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