O fim de semana era um convite a um passeio pela cidade, que tem ganhado novas atrações e eventos. A reabertura da Boa Viagem, o Mercado Municipal, os shows, a ocupação das praias com atividades esportivas… Mas o percurso não exibe apenas boas notícias.
A transformação é visível no Centro, com o início de obras para a construção de prédios na Rio Branco, com direito à vista para o mar, e na Feliciano Sodré. Serão condomínios com prédios de 18 a 20 andares. Formam ilhas numa parte da cidade que se deteriorou ao longo dos anos. A começar pela Amaral Peixoto, centro de comércio e negócios que não esconde sinais de abandono. Nas ruas transversais, pichações e lixo mostram uma cidade que ficou para trás. Grades, concertinas e endereços abandonados dão a dimensão do problema.
Niterói tem 35 mil imóveis fechados. A paisagem se repete em outros bairros. Em Santa Rosa, ao longo da Mário Viana. No Fonseca, em qualquer rua fora da Alameda São Boaventura. A insegurança, a deterioração dos bairros, o trânsito… as razões são muitas e se misturam. Provavelmente a violência será a mais determinante. Os imóveis perdem valor e são abandonados.
Me passou pela cabeça revisitar alguns endereços onde morei – ou que frequentei ao longo vida. Minha casa no Vital Brazil, a casa da minha avó, em Santa Rosa, a chácara de uma tia, no Fonseca.
Não tem mais campo de futebol no “Vital”. A feira continua lá na quarta-feira. E o posto de Saúde movimenta o bairro. A minha casa antiga hoje tem muros de dois metros de altura, grades e está toda pichada. Em Santa Rosa a experiência foi ainda pior. A casa foi escondida por um paredão, também pichado. No Fonseca, moradores na calçada recomendaram nem entrar na rua, tomada pelo tráfico… No meu último endereço, em São Francisco, há quatro casas “de rua” à venda… e sem compradores.
A cidade se renova, no Centro, se expande para a Região Oceânica, atrai construtoras e são muitos os imóveis em oferta em Icaraí, no chamado mercado de luxo, mas, ao mesmo tempo, há uma cidade que fica para trás, presa no tempo, no esquecimento e, claro, nos engarrafamentos.