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O número mostra a velocidade do avanço da variante Ômicron em Niterói: foram confirmados 30.176 casos da doença apenas este ano, quando a variante descoberta na África do Sul começou a se espalhar pelo Brasil. Os dados foram apresentados pelo Secretário de Saúde do Município, Rodrigo Oliveira, em entrevista ao A Seguir: Niterói. Para que se tenha uma ideia do que isto representa, no ano passado, com a explosão da P1, a variante de Manaus, e a Delta, a mais letal de toda a pandemia, a cidade reportou um total de 26.648 casos de Covid.
– O impacto da Ômicron só não é maior porque o Brasil tem bons índices de vacinação – e Niterói, números entre os melhores do Brasil. É possível que a variante apresente uma menor taxa de letalidade que as outras. Porém, em muitos lugares que não têm a mesma taxa de vacinação o problema é bem maior, com aumento de internações e mortes, como se pode ver em Nova York, por exemplo – explica Rodrigo Oliveira.
Em Niterói, a taxa de ocupação dos hospitais aumentou na última semana. O Sindicato dos Hospitais Particulares de Niterói informou que há 92 pessoas internadas em leitos e 117 pacientes em UTIs. Na rede pública, no último balanço da Secretaria Estadual de Saúde, eram 51 doentes em leitos e 16 em UTIs, nos hospitais do SUS. Hospitais que tinham liberado as áreas reservadas para doentes de Covid, voltaram a reservar vagas para as vítimas da doença. O Hospital Oceânico, por exemplo, reabilitou boa parte dos leitos dedicado a doentes de Covid.
– A diferença é que no pico da pandemia, a taxa de letalidade chegou a 3,4% dos casos e agora é de 0,01%. Mas, de nenhuma forma, podemos acreditar que estamos diante de uma gripezinha, de forma alguma. Este resultado só acontece pelo esforço da vacinação e pela manutenção dos cuidados sanitários, como o uso de máscaras – sustenta o Secretário.
A explosão da ômicron
O Secretário de Saúde Rodrigo Oliveira destaca que, ao contrário da primeira onda da Covid, em 2020, quando pouco se sabia sobre o coronavírus e sobre o combate à doença, a nova variante chegou ao Brasil num momento que o país atingia marcas significativas na vacinação e já tinha a experiência do enfrentamento das variantes P1 e Delta. Nesta entrevista ao A Seguir: Niterói, ele avalia o impacto da Ômicron na cidade – hoje e daqui para adiante.
A Seguir: Niterói: Praticamente todos os registros da Covid, este ano, se referem à variante Ômicron. A cidade chegou muito perto de zerar casos e internações no final de 2021. Porém, os números cresceram muito rápido… Quais as características desta nova onda da Covid?
Rodrigo Oliveira: Não dá para dizer que é uma outra coisa, porque é uma continuação da pandemia, com manifestações diferentes do que se viu em outros momentos. É o mesmo vírus que sofre mutações e provavelmente teremos que conviver com ele, como convivemos com ouros vírus. Mas é um vírus que se espalha muito rápido, é muito contagioso. Era inevitável que chegasse aqui, diante do que acontecia na Ásia, na Europa, nos Estados Unidos. Não tivemos shows no réveillon e mantivemos a recomendação do uso de máscaras e cuidados sanitários. No início do ano, apareceram os primeiros casos. De repente as pessoas começaram a aparecer doentes e ter conhecidos que ficavam doentes e houve uma corrida aos testes maior que em qualquer outro momento. Isso gerou uma sobrecarga nos serviços de ambulatório, uma demora no atendimento, um desconforto para quem espera, algumas reclamações. Mas, ao contrário de outras variantes, são pessoas que vão para os hospitais andando, que têm a doença em formas mais brandas. Não é como aconteceu com a P 1 e a Delta, que os doentes muitas vezes chegavam direto para a UTI. Hoje estamos fazendo cerca de 6 mil testes por dia. Foi um aumento muito rápido. Com uma taxa de resultados positivos que chegou a 47%.
A Seguir: Niterói: Quais são os números da Ômicron?
Rodrigo Oliveira: Tenho aqui, são os dados apurados de primeiro de janeiro até a segunda-feira (24). Foram realizados 74.717 testes. Com 30.176 resultados positivos. O tipo de testes aplicado hoje é diferente do exame sorológico que era usado até o ano passado, isso atrapalha um pouco as comparações. Mas os números de casos e resultados positivos, por dia, são os maiores da pandemia.
A Seguir: Niterói: Agora estão aparecendo as internações…
Rodrigo Oliveira: As internações acontecem, mas numa escala muito menor do que já tivemos antes. No pico da doença, 27% dos casos confirmados de Covid geravam internação. E para cada leito ocupado, havia um caso grave que exigia tratamento em UTI. A proporção agora é bem menor, hoje é de menos de 1%. E, mesmo assim, o predomínio é de atendimento em leitos. São três leitos ocupados, contra uma internação em UTI.
A Seguir: Niterói: A Ônicron não é tão grave quanto a Delta?
Rodrigo Oliveira: Não dá para separar totalmente o que é a característica da Ômicron e o que é efeito da vacina. No Brasil, a letalidade tem sido baixa. Mas nos Estados Unidos, por exemplo, que não teve os mesmos índices do Brasil, a gravidade é maior. A vacinação protegeu o Brasil. Demorou a começar. Foi preciso muita pressão junto ao Ministério da Saúde, mas quando a Ômicron chegou, Niterói, por exemplo, já tinha aplicado até a dose de reforço na população mais vulnerável.
A vacina para as crianças
A Seguir: Niterói: Agora a ameaça é com relação às crianças que, no início da doença, não apareciam como grupo de risco. Como se pode enfrentar isso?
Rodrigo Oliveira: Com a vacina. É um tratamento que se mostrou eficaz e sem riscos. A manifestação nas crianças não é como nos adultos – e nas populações mais vulneráveis. Não gera, pelo que se vê até agora, complicações pulmonares. Mas é preciso atenção e a melhor prevenção é a vacina. Os pais devem se informar e saber que a vacina é infinitamente mais segura que o risco de pegar Covid.
A Seguir: Niterói: Como está a vacinação das crianças?
Rodrigo Oliveira: Já vacinamos os grupos de risco. Possivelmente, na próxima segunda-feira, teremos oferecido a vacina para todas as crianças com mais de cinco anos. É provável também que a Prefeitura promova “um dia D da vacinação” para mobilizar os pais a levarem os filhos que ainda não se vacinaram.
O pior momento da Ômicron
A Seguir: Niterói: Algum sinal de que a Ômicron chegou ao pico?
Rodrigo Oliveira: Existem alguns dados interessantes. Não é possível assegurar uma tendência, porque são dados muitos recentes. Mas nós tivemos, desde o início do ano, um índice muito alto de resultados positivos na testagem, sempre em torno de 40%. No pico, chegamos a 47%. Mas nos últimos dias, nos últimos três dias, este número caiu para 33%. Ainda é alto, mas está caindo. Também há indicadores de que a velocidade de internação por Covid está diminuindo. Há duas semanas, tivemos um pico de 195 internações por síndrome gripal no Getulinho. Esta semana, foram 69. Se prevalecer esta tendência, já na próxima semana, começaremos a notar um esvaziamento da rede hospitalar. Vamos ver como os números se comportam.
A Seguir: Niterói: A doença tende a se tornar endêmica.
Rodrigo Oliveira: Endêmica, sim. Vamos conviver com o vírus, como convivemos com outras doenças. Mas não será uma gripezinha.
A Seguir: Niterói: Acredita que será necessário aplicar uma quarta dose?
Rodrigo Oliveira: É possível. Já estamos aplicando para imunossuprimidos. Mas, no momento, ainda se estuda o grau de imunização com a terceira dose.
A Seguir: Niterói: Dá para fazer previsões?
Rodrigo Oliveira: Difícil. Podemos falar em cenários. Tem um cenário mais otimista, que considera que já estamos no pico da contaminação pela Ômicron e o número de casos e internações pode baixar em três semanas. E um cenário mais pessimista, no qual este ciclo pode se completar em seis semanas.
A Seguir: Niterói: O senhor acredita neste efeito da Ômicron de tornar a doença mais branda?
Rodrigo Oliveira: Eu acredito na ciência e em Darwin. E é muito plausível a ideia de que uma espécie que tem maior poder de contágio, com menos gravidade para o doente, possa se sobrepor a outras variantes, como já se viu em outras doenças. Mas ainda vamos conviver com o coronavírus por algum tempo.
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