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No cenário atual de explosão de casos de Covid-19 por conta da variante Ômicron, pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF) alerta: os grupos populacionais que não se vacinaram ou tiveram vacinação incompleta serão os mais afetados e com possibilidade de desenvolverem quadros mais sérios.
Quem afirma isso é Aluísio Gomes da Silva Junior, Diretor do Instituto de Saúde da Comunidade – Saúde Coletiva e Gestão em Saúde. Ele e o médico infectologista André Ricardo Araújo da Silva integram o GT-Covid-19 UFF, um grupo técnico de trabalho constituído por médicos e especialistas da instituição.
Desde a deflagração da pandemia no Brasil, em março de 2020, a equipe tem se reunido regularmente para ajudar os órgãos deliberativos da UFF e da comunidade niteroiense com informações para a tomada de decisões. Os dois médicos traçaram um painel do atual momento da pandemia e elaboraram algumas recomendações.
Ômicron
André Ricardo – Esse cenário atual era esperado. Temos esse avanço em todo o mundo, no hemisfério norte inicialmente. Existe, porém, uma perspectiva favorável em razão de já termos uma experiência advinda de alguns países que relataram que a Ômicron tem causado cerca de 30 a 40% menos ocupações em emergência e até 70% menos internações. Em termos comparativos, a taxa de transmissão dessa atual variante é de sete enquanto a cepa original da Covid-19 é de dois e meio. Apesar de ser muito contagiosa e transmissível, a Ômicron tem um potencial de ser menos agressiva quando falamos em termos de internações e óbitos. Devemos ter no Brasil um aumento da circulação desse vírus até fevereiro. A tendência é que haja um aumento de casos de contaminação, mas sem o mesmo impacto no sistema de saúde.
Aluísio Gomes – Essa variante vai contaminar muitas pessoas em um curto espaço de tempo. Entretanto, sua letalidade é mais baixa, o que irá se traduzir em uma diminuição de casos graves. É importante frisar que os grupos populacionais que não se vacinaram ou tiveram vacinação incompleta serão os mais afetados e com possibilidade de desenvolverem quadros mais sérios.
Carnaval
André Ricardo – Não temos como fazer uma previsão, nesse momento, de quanto tempo essa onda irá durar. O que vimos, até agora, foi um aumento muito rápido seguido de uma queda mais acentuada em comparação com outros momentos da infecção. É prudente que evitemos esses tipos de festas coletivas como o Carnaval, porque não temos como controlar o fluxo de pessoas em ambientes fechados, a exemplo do Sambódromo. Mesmo que se lance mão dos protocolos de segurança, eles não servem para evitar as doenças, mas minimizar a aquisição da infecção. Os testes usados também não têm eficácia de 100%. Ou seja, mesmo solicitando carteira de vacinação, ainda assim haverá possibilidade de transmissão da infecção. É recomendado que, pelo menos, se postergue o Carnaval. Quem sabe em algum outro momento desse ano ele possa ser realizado com mais tranquilidade.
Duplo contágio
André Ricardo – O que aconteceu no Brasil foi algo não usual. Houve uma grande circulação do vírus da influenza no mês de dezembro. Normalmente, vemos isso no final do outono e início do inverno, por volta de abril, maio, junho e julho. Tivemos, então, um período de coincidência no número de infecções. Em termos práticos, o que isso gera é uma dificuldade de identificar clinicamente se o paciente está acometido de influenza ou Covid. Somente a partir de um exame de secreção respiratória é que se identifica o vírus predominante. É importante salientar, no entanto, que especificamente no estado do Rio de Janeiro, já observamos um decréscimo dos casos de influenza, desde o final de dezembro. Agora, o que está predominando é a Covid.
Aluísio Gomes – A ocorrência simultânea de epidemias de influenza e outras viroses respiratórias com sintomatologia respiratória mais severa, tem provocado a busca de multidões aos serviços de emergência. Um número considerável de pacientes com as duas infecções tem sido detectado pelos testes realizados. Entretanto, as internações não atingiram níveis preocupantes, possivelmente devido aos altos níveis de cobertura vacinal anticovid ,em Niterói e no Rio de Janeiro.
Avanço da epidemia
André Ricardo – Até agora não conseguimos prever um período de calmaria geral, mesmo porque precisamos também do controle da pandemia em todas as partes do mundo. Em algumas regiões, a doença permanece descontrolada, sem um percentual de vacinação adequada e, com isso, a infecção continua. Sabemos que nenhuma pandemia dura para sempre. Teremos uma queda significativa no número de pessoas contaminadas, mas ainda precisamos avançar bastante nessa situação para termos um padrão de previsão de melhora sustentada no tempo.
Pesquisas
André Ricardo – Entre os mais de 20 trabalhos em andamento na UFF, destacam-se: a investigação dos efeitos pós-Covid nas pessoas; a compreensão do impacto da vacinação na população pediátrica em relação à eficácia e ao controle dos casos graves; o uso de equipamentos em pacientes acometidos por Covid. Acredito que devemos ter resultados bem animadores, nos próximos meses, em relação a isso.
Vacinação infantil
André Ricardo – A vacinação de crianças de 5 a 11 anos foi liberada pela ANVISA, no Brasil. Temos um amplo estudo que avaliou crianças dos EUA, da Finlândia e da Espanha que receberam essa vacina entre meados de julho e outubro de 2021. Elas foram acompanhadas durante dois meses e meio. Nesse grupo de mais ou menos 1500 participantes, tivemos um perfil de segurança favorável que mostrou poucos efeitos adversos, como dor de cabeça, vômito e náuseas, sintomas que acabam ocorrendo também com outras vacinas, de forma esperada. O maior questionamento é em relação ao acompanhamento a médio e longo prazos. Não temos tempo hábil para saber se haveria algum efeito colateral que pudesse ser importante e também se a vacina diminuiria sua eficácia progressivamente. Esses estudos vão continuar e a vacina será estudada durante mais tempo, possibilitando que essas questões possam ser discutidas de forma mais clara.
Adesão à vacinação
André Ricardo – A população brasileira historicamente adere muito às campanhas de vacinação, então sempre que temos eventos desse tipo os índices de pessoas vacinadas e de adesão são superiores a 90, 95%, o que é muito positivo do ponto de vista do controle de uma determinada infecção. Temos um programa no Brasil, reconhecido internacionalmente, que é o Programa Nacional de Imunizações, que existe há mais de 45 anos e oferece vacinas gratuitas via SUS. Então, não temos nenhuma dificuldade em oferecer vacinas e atingir públicos mais remotos, como populações amazônicas e periferias. Apesar de haver muitas pessoas que ainda questionam as vacinas, esse não é um problema marcante no território nacional, tal como em alguns países europeus, como a França e EUA.
Aluísio Gomes – Especificamente em Niterói, onde um bom trabalho de prevenção e atenção sanitária e social foi realizado no âmbito municipal, a adesão da população aos esforços de distanciamento social, uso de máscaras e higiene das mãos foi muito relevante nos resultados traduzidos por internações e mortes por Covid-19, atingindo os menores níveis da região metropolitana do Rio de Janeiro. É importante acrescentar que as dificuldades na vacinação, no Brasil, surgem mais por desinformação e desabastecimento do que propriamente por um grande movimento anticiência e antivacina.
Orientações
André Ricardo – No estado do Rio de Janeiro, teremos um grande número de infecções de Covid, a princípio mais brandas, em que as pessoas vão precisar ficar em casa, pelo menos no espaço de uma semana, até se recuperarem. Nesse momento, é muito importante evitar festas, aglomerações e ambientes fechados. Pedimos às pessoas um pouco mais de paciência para evitar esse tipo de situação, mantendo a higienização de mãos e a utilização de máscaras. Em relação à vacinação, todos aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de receber as vacinas que procurem os postos de saúde e recebam o imunizante. A vacina diminui bastante as chances de a pessoa ter uma doença grave, com internação e outros problemas decorrentes da infecção pela Covid.
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