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‘É uma ironia cruel que o humor não tenha curado ele’, diz paciente oncológica amiga de Paulo

Por Por Livia Figueiredo

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Ruth Costa conta a inspiração do ator e humorista Paulo Gustavo em sua vida e o suporte do ator e de sua família no seu tratamento de câncer
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Ruth Costa e o ator Paulo Gustavo / Foto: Arquivo Pessoal

“Eu aprendi a fazer humor com a minha dor com o Paulo. Se eu tivesse a oportunidade de dizer para o mundo algo sobre ele seria que quando as pessoas dizem que ele é um cara incrível, elas não estão exagerando”, disse Ruth Costa, paciente oncológica que venceu o câncer duas vezes e recebeu muito suporte do ator Paulo Gustavo e da sua família.

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Paulo Gustavo foi como um cometa que atravessou a vida de diversas pessoas transformando a dor em humor. O resgate da graça como um símbolo da nobreza. O humor que cura. “Rir é um ato de resistência”, como ele mesmo declarou em um dos seus últimos vídeos, antes do óbito por complicações da Covid-19 na última terça-feira. E foi justamente essa resistência uma das responsáveis pela superação de Ruth Costa em um dos momentos mais delicados e complicados de sua vida, ao longo de dois tratamentos de câncer.

– No primeiro processo do câncer, quando eu já estava em um período bem crítico do tratamento, eu lembro que estava em um processo de quimioterapia, pós cirúrgico e, em todas as sessões de quimio, eu colocava no fone de ouvido algum trabalho do Paulo Gustavo para ouvir. Eu acho que cada filme dele eu devo ter assistido umas trinta vezes, nem sei dizer. Nos meus momentos quando me sentia mais fraca, a tia Penha, madrasta do Paulo, mandava um vídeo dos filhos dele e aquilo era como um fôlego de vida para mim. Ela me convidava para ir lá comer um pedaço de bolo com eles. Isso me dava muita força – explica Ruth.

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Nascida e criada em Niterói e moradora de Icaraí, Ruth conheceu a família do ator através de um trabalho que fazia com a estilista Alice Ciafrino, que, na época, preparou todas as roupas do casamento do Paulo com o dermatologista Thales Bretas. Ela conta que a conexão inicial com o Paulo se deu através da família, especialmente da madrasta, Tia Penha, com quem mantém contato até hoje. Na ocasião, o pai do ator estava em um processo de tratamento de câncer.

Logo depois vieram os dois processos de câncer de Ruth, o metastático e uma hepatocarcinoma. Logo no primeiro processo do câncer, a madrasta de Paulo perguntou se ela gostaria de conhecê-lo.

– Ela falou que me daria a oportunidade de estar com ele. No último ensaio geral que ele fez em homenagem à mãe dele no estádio Caio Martins, ele teve a generosidade e a empatia de me receber e de me tratar com muito carinho. Ele e toda a família dele abraçaram a minha causa, o meu momento de dor e de dificuldade. Eles caminharam esse processo todo do câncer comigo. O Paulo sempre servindo como uma válvula de escape, como uma forma de enfrentar de uma maneira mais leve os processos tão pesados que envolvem o tratamento do câncer.

Estreia da peça musical que Paulo Gustavo fez em em homenagem à Dona Déa, “O Filho da Mãe” / Foto: Ruth Costa

Ruth conta que recebia mensagens de áudio e Paulo sempre mandava energias positivas para ela e dizia que ficaria tudo bem porque “doença não dá em planta, dá em gente e se você está doente é porque você está viva “. Ela conta que quando frequentava a casa da família de Paulo era muito bem acolhida.

– O Paulo se fazia presente, mesmo não estando presente. Ele era esse cara incrível. Assim como a família dele. Eles me deram todo tipo de apoio. Sempre perguntavam como eu estava e se oferecendo para ajudar em tudo, até se ofereceram para fazer uma vaquinha para pagar meu tratamento. Apesar de não ser possível estar perto fisicamente, por conta da rotina dele, ele mandava áudios carinhosos, convite VIP para eu assistir às peças dele. Eu só tenho palavras de gratidão do quanto ele me fez bem de forma consciente e, até inconsciente, através do trabalho dele – destaca.

Após a noite da peça musical “O Filho da Mãe”, em homenagem à Dona Déa, Paulo Gustavo chegou a enviar um áudio no Whatsapp para Penha, se referindo a Ruth. Ele dizia que desejava muita saúde à amiga porque “ela está precisando e vai ter, vai sair dessa”. Ele diz para ela rezar e pedir a Deus força para passar por um momento tão difícil, mas que ia dar tudo certo no final das contas. Em um dos momentos do áudio ele diz:

– Às vezes as coisas acontecem com a gente e não entendemos o porquê, mas Deus está no nosso caminho e sabe o que faz. E se ela foi escolhida para ter essa questão aqui para resolver, bola para frente. Com a ajuda do amigo, da arte e do humor dela, ela vai conseguir superar e passar por isso com mais tranquilidade. Porque isso é o mais importante. Lutar com alegria, sutileza e humor. O humor transforma, o humor cura. Assim como a saúde mental e física.

Inspiração

Ruth conta que criou um perfil no Instagram, chamado “Careca Maquiada”, que funciona como uma válvula de escape, como uma forma de fazer humor, de lutar e levar para pacientes oncológicas uma pitada de graça. Ela diz que deve muito ao Paulo e que ele foi uma das grandes fontes de inspiração para o seu trabalho no seu perfil do Instagram. Nos vídeos, Ruth costuma adotar um humor muito parecido com o da Dona Hermínia, uma inspiração, e diz que toda mãe tem um quê da personagem.

– Foi ele que me ensinou isso. Ele acreditava que tudo tinha um propósito. Eu procuro sempre trazer nos meus vídeos um pouco de humor, mesmo o tema sendo muito pesado, porque eu realmente acreditava nisso que ele prega. O humor cura e é uma ironia cruel que não tenha curado ele, mas através dele muitos foram curados. Eles realmente queriam me ver vencer e, quando ele foi internado por Covid, eu disse para tia Penha que daria tudo certo – conta.

Ruth conta que quando conseguiu um emprego, foi direto contar para a tia Penha. “Ela ficou tão feliz que eu consegui superar o câncer e que eu estava trabalhando e seguindo em frente. Disse que ia contar ao Paulo quando ele saísse dessa e que ele ficaria muito feliz por mim. O Paulo era um cara que desejava o bem das pessoas e ele fazia por onde. Quem está sofrendo agora, principalmente quem convivia com ele, tem consciência de que ele é insubstituível.”

Ruth com Dona Déa, mãe do Paulo Gustavo / Foto: Arquivo Pessoal

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