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Niterói observou um crescimento no número total de roubos e furtos entre janeiro e abril de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior (2024). Os dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) revelam que os furtos aumentaram 3,1%, passando de 61.830 para 63.756 ocorrências. Já o total de roubos registrou um aumento ainda maior, de 5,8%, subindo de 32.685 para 34.570.
Entre os crimes de roubo, o que mais se destacou foi o roubo de celulares, com uma alta expressiva de 107,4%. No cenário dos furtos, porém, nem todos os índices seguiram a mesma tendência de crescimento; furtos de bicicleta, de veículo e o furto a transeunte apresentaram queda este ano.
Para aprofundar na dinâmica por trás desses números, o A Seguir conversou com Lenin Pires, professor de Antropologia e Métodos Qualitativos do Curso de Segurança Pública da UFF. Ele oferece uma análise sobre a adaptação da criminalidade e as estratégias que podem tornar Niterói mais segura.
Lenin Pires explicou que o fenômeno da criminalidade é sazonal e reflete as estratégias de grupos criminosos em dar consequência aos seus objetivos correndo riscos o menos possível.
– Quando o poder público intensifica o controle coercitivo em uma direção, estes atores assumem posição em sentido alternativo. Logo, a alternância entre roubos e furtos vai se dar de acordo com as oportunidades colocadas – detalhou o professor.
Pires também aprofundou a análise sobre os riscos envolvidos e a adaptação dos criminosos a diferentes cenários.
– Via de regra, o furto é o que envolve menor risco, mas tudo depende do bem que se deseja subtrair. Os criminosos podem se dedicar a outras atividades, como tráfico de drogas ou controle miliciano, mas diante de uma maior repressão à dinâmica de tais negócios, eles podem variar para outros ramos, de acordo com a incidência de maior ou menor controle sobre um determinado âmbito – afirmou.
O professor ainda explicou a dinâmica dos roubos e furtos, destacando a preferência atual por certos alvos.
– Caso o patrulhamento policial não permita o roubo ou furto de veículos, por exemplo, isso pode favorecer furtos ou assaltos à residência ou estabelecimentos comerciais. O que se percebe é a preferência por roubos de celulares – o que pode possibilitar o acesso à agências bancárias virtuais – bem como a incidência de estelionatos em ambiente digital – disse.
No período analisado pelo ISP, o furto de celular também teve um crescimento expressivo de 86,7%, com 590 aparelhos furtados até abril deste ano, enquanto furtos em coletivos aumentaram 45,5%.
Questionado sobre o que mais pode ser feito além do policiamento ostensivo, Pires enfatiza que cada vez mais se exige o uso de inteligência policial que exerça um controle das dinâmicas dos grupos criminosos, apoiado pelo uso intensivo de tecnologias comunicacionais.
– Isso deve vir com o exercício de patrulhamento integrado, passando a informação que todo o território está sendo esquadrinhado e monitorado todo o tempo pelas agências de segurança, mediante um plano conjugado entre os poderes estadual e municipal, com participação da União no que couber – explicou.
O professor, porém, lamentou a grande dificuldade dos entes governamentais em estabelecerem conversas na área da segurança pública. Ele ressaltou que essa situação é diferente do que se observa em outras dimensões, como saúde e assistência social, e que essa falta de diálogo acaba por prejudicar a sociedade.
Sobre a possibilidade de mapear “pontos mais perigosos” em Niterói, Lenin Pires alerta que “falar em ‘pontos perigosos’ em uma cidade é inapropriado, sob risco de se estigmatizar territórios, segmentos ou mesmo identidades sociais”. Ao invés disso, o professor da UFF conclui com uma sugestão.
– O que se pode fazer, a partir de dados de registros (e dependendo da qualidade de tais dados), é identificar zonas onde podem ocorrer delitos com mais frequência. Com base no conhecimento policial, se pode identificar com precisão o movimento que grupos criminosos tendem a fazer pela cidade e, a partir daí, se exercer um melhor planejamento do patrulhamento, com vista a coibir as ações de tais grupos ou mesmo cumprir mandados judiciais em aberto, visando suas retiradas de circulação.
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