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Niterói será palco de um encontro que vai reunir jovens lideranças de Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs) de várias partes do Brasil para uma formação voltada para a comunicação e justiça climática. O encontro integra o projeto Agência de Comunicação Popular Jovens Comunicadores – Territórios Vivos da Bem TV.
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Essa é a primeira vez que a Bem TV — organização sem fins lucrativos voltada para jovens em territórios populares — realiza um encontro de jovens comunicadores de alcance nacional.
O evento será realizado entre os dias 26 e 30 de maio em três espaços da cidade. São eles: Universidade Federal Fluminense (UFF), Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC) e o Centro Eco Cultural, em Piratininga.
A ideia é fortalecer a atuação de jovens comunicadores quilombolas, indígenas, ribeirinhos, entre outros, como protagonistas na defesa de seus territórios, saberes e direitos fundamentais. O momento é estratégico, já que este ano o Brasil sedia a COP 30, em novembro, na cidade de Belém.
O grupo é formado por 20 jovens entre 18 e 29 anos, representantes de diferentes segmentos dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil (PCTs), como indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores artesanais, geraizeiros, extrativistas, entre outros.
São jovens com histórico de atuação comunitária e engajamento nas lutas por direitos, que integram ou têm vínculos com a Rede de Povos e Comunidades Tradicionais. O projeto é uma continuidade do programa Jovens Comunicadores, que já atua na formação de juventudes periféricas no enfrentamento à desinformação e fortalecimento da comunicação comunitária.
— Os Povos e Comunidades Tradicionais são grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais. Possuem formas próprias de organização social, ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica. Oficialmente reconhecidos pelo Decreto 6.040, de fevereiro de 2007 e estão presentes em todos biomas – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal — explica Carolina Rodriguez, gestora de projetos e comunicação da Bem TV.
Para Carolina, o evento é uma estratégia de incidência político-pedagógica. Ao reunir jovens lideranças que vivem as consequências diretas do desmatamento, da violência fundiária e do racismo ambiental, ele dá rosto, voz e narrativa próprias às lutas dos povos da Rede PCTs. Não se trata apenas de falar sobre os povos, mas de criar condições para que falem por si, em seus próprios termos.
— Ao estimular a presença desses jovens nos espaços públicos e culturais, o projeto provoca a sociedade a refletir sobre desigualdade territorial, justiça climática e o papel histórico dos povos e comunidades tradicionais na preservação ambiental. Em tempos de desinformação e apagamento sistemático, dar visibilidade a essas lutas é uma forma concreta de tensionar os centros de poder que seguem negligenciando os direitos desses povos — acrescentou.
Com o projeto, Niterói passa a ser um território de articulação estratégica para a juventude PCT, fortalecendo pontes entre universidade, cultura e ativismo. Os jovens são de 28 grupos reconhecidos como PCTs no Brasil — povos que têm papel fundamental na proteção da sociobiodiversidade, mas que vivem na linha de frente dos impactos das mudanças climáticas, do desmatamento e de diversas pressões sobre seus territórios.
A SEGUIR: NITERÓI: O encontro vai reunir jovens lideranças de povos e comunidades tradicionais (PCTs) de várias partes do Brasil. Quem compõe esse grupo?
CAROLINA RODRIGUEZ: O grupo é formado por 20 jovens entre 18 e 29 anos, representantes de diferentes segmentos dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores artesanais, geraizeiros, extrativistas, entre outros. São jovens com histórico de atuação comunitária e engajamento nas lutas por direitos, que integram ou têm vínculos com a Rede de Povos e Comunidades Tradicionais. Eles vêm de diferentes territórios do país, carregando saberes locais e experiências de resistência frente às desigualdades, ao racismo ambiental e às ameaças aos seus modos de vida.
Os Povos e Comunidades Tradicionais são grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais. Possuem formas próprias de organização social, ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica. Oficialmente reconhecidos pelo Decreto 6.040, de fevereiro de 2007 e estão presentes em todos biomas – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal.
O Estado Brasileiro reconhece 28 segmentos de Povos e Comunidades Tradicionais pelo decreto 8750/2016:: Indígenas, Quilombolas, Povos de terreiro e matriz africana, Ciganos, Pescadores artesanais, Extrativistas, Extrativistas costeiros e marinhos, Caiçaras, Faxinalenses, Benzedeiros, Ilhéus, Raizeiros, Geraizeiros, Caatingueiros, Vazanteiros, Veredeiros, Apanhadores de flores sempre vivas, Pantaneiros, Marroquianos Pomeranos, Catadores de Mangaba, Quebradeiras de Coco Babaçu, Retireiros do Araguaia, Comunidades de fundos e fechos de pasto, Ribeirinhos, Cipoeiros, Andirobeiros e Caboclos.
– Quais atividades culturais estão previstas na UFF, no MAC e no Centro Eco Cultural?
Ao longo da semana, a Sala Interartes do Instituto de Artes e Comunicação Social da UFF será a base das atividades com os jovens: um espaço de formação continuada, com oficinas práticas de comunicação popular, planejamento de campanhas de advocacy, trocas sobre justiça climática e dinâmicas de articulação em rede.
No auditório do MAC (Museu de Arte Contemporânea) acontece uma aula aberta, a partir de 9h, no dia 28 de maio, sobre Memória e Justiça Climática. A aula será conduzida por Morena Mariah, gestora de projetos de impacto, escritora, comunicadora e fundadora do Instituto Afro Futuro. Um encontro onde jovens comunicadores e participantes vão dialogar sobre os apagamentos históricos que marcam os territórios tradicionais, e os caminhos possíveis para reivindicar memória como direito coletivo.
O Centro EcoCultural será um dos pontos de passagem dos Jovens Comunicadores em um encontro com os pescadores da APALAP-Associação de Pescadores da Lagoa de Piratininga – para uma conversa sobre o processo de degradação e revitalização da Lagoa de Piratininga, a fim de fortalecer o vínculo entre comunidades tradicionais locais e as juventudes da rede nacional, em torno da defesa dos modos de vida e de territórios ameaçados.
A programação é uma forma de mostrar como em diversos espaços de saberes e diferentes territórios, as pautas da justiça ambiental, direito à terra e à comunicação são urgentes e devem estar no centro do debate público.
– A ideia do encontro é fortalecer a atuação de jovens comunicadores quilombolas, indígenas, ribeirinhos, entre outros, como protagonistas na defesa de seus territórios, saberes e direitos fundamentais. De que forma um evento como esse pode dar visibilidade à causa indígena e estimular as pessoas a refletirem mais sobre ela?
Esse evento é uma estratégia de incidência político-pedagógica. Ao reunir jovens lideranças que vivem as consequências diretas do desmatamento, da violência fundiária e do racismo ambiental, ele dá rosto, voz e narrativa próprias às lutas dos povos da Rede PCTs. Não se trata apenas de falar sobre os povos, mas de criar condições para que falem por si, em seus próprios termos.
Em 2025, o Brasil vai sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – COP-30 na cidade de Belém, consideramos esse um momento crucial para que essas juventudes possam ocupar e ser ouvidos nesse debate. Ao estimular a presença desses jovens nos espaços públicos e culturais, o projeto provoca a sociedade a refletir sobre desigualdade territorial, justiça climática e o papel histórico dos povos e comunidades tradicionais na preservação ambiental.
Em tempos de desinformação e apagamento sistemático, dar visibilidade a essas lutas é uma forma concreta de tensionar os centros de poder que seguem negligenciando os direitos desses povos.
– Esse projeto é uma continuidade do Jovens Comunicadores, que já atua na formação de juventudes periféricas no enfrentamento à desinformação e fortalecimento da comunicação comunitária. Conte um pouco sobre esse projeto dos Jovens Comunicadores.
A estrutura do projeto Jovens Comunicadores é antiga, mas a partir de 2020, em plena pandemia, rearticulamos sua metodologia, como uma resposta emergencial à crise de informação e aos impactos da COVID-19 nas favelas e periferias. O projeto se consolidou como uma metodologia formativa contínua de comunicação popular, com forte ancoragem em direitos humanos, justiça racial, enfrentamento à violência de gênero e combate à desinformação. Em 2024 o projeto foi reconhecido com Tecnologia Social pela Fundação Banco do Brasil.
Desde então, o projeto atua com adolescentes e jovens moradores das periferias de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Rio de Janeiro, promovendo o acesso a informações seguras e a produção de conteúdos distribuídos por canais de comunicação em disputa, como as redes sociais e aplicativos de conversa. O projeto já alcançou mais de 100 mil pessoas entre 2020 e 2023.
Além da formação técnica e política, o Jovens Comunicadores aposta em um ponto fundamental para qualquer política voltada à juventude: a garantia de renda. Todos os participantes recebem bolsa-auxílio, que contribui diretamente para a segurança alimentar, a permanência em processos formativos e a melhoria da qualidade de vida de suas famílias. Não apenas capacitamos: pensamos estratégias de redistribuição de recursos e valorização concreta do trabalho das juventudes periféricas.
Os Jovens Comunicadores são uma ação estratégica de fortalecimento da democracia a partir da base. Seu objetivo é claro: disputar narrativas, ocupar as redes e as ruas com informação qualificada e garantir que as juventudes periféricas falem por si, em seus próprios territórios.
– Quais são os principais desafios da rotina de trabalho de vocês?
Pensar a disputa de narrativas no contexto da desinformação e da criminalização de lideranças populares é um desafio cotidiano. Manter a autonomia, formar juventudes críticas e garantir que a comunicação seja uma ferramenta de incidência, e não só de visibilidade faz parte dos nossos esforços diários.
Produzir acesso é um outro grande desafio do trabalho da Bem Tv. Formação, trabalho, fruição de bens culturais e de lazer que garantam a ampliação de oportunidades para a juventude.
Do ponto de vista institucional garantir a continuidade dos projetos para além dos ciclos de financiamento, e assegurar que os jovens envolvidos possam seguir atuando em rede, com suporte técnico e político. Mesmo assim, seguimos insistindo, porque sabemos que fortalecer a comunicação popular é estratégico para a transformação social.
– Se alguém quiser se voluntariar para participar, como é o procedimento?
Valorizamos muito a participação de quem quer somar de verdade, com compromisso político e respeito aos processos coletivos. Quem quiser se aproximar pode entrar em contato com a BemTv pelas redes sociais, acessando o site ou pelo email bemtv@bemtv.org.br.
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