5 de fevereiro

Niterói por niterói

Pesquisar
Close this search box.
Publicado

‘Eu cresci como artista em Niterói, cresci como pessoa nessa cidade’, diz Germana Guilherme

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

COMPARTILHE

Cantora e compositora fala sobre os desafios do cenário independente e de seu primeiro álbum autoral
Germana Guilherme
A cantora e compositora Germana Guilherme. Foto: Daniela Barros

Nas correntezas da vida, o fluxo pode ser denso ou passageiro que a cantora, compositora e agora também diretora de videoclipes, Germana Guilherme, saberá se posicionar. O importante é saber o que se quer, direcionar seu esforço para aquela tarefa, organizar as demandas e meio caminho já está andado. Se for o caso de contar com o suporte de bons aliados, tanto melhor. Ter coragem e arriscar também são boas táticas.

Leia mais: A geometria oculta da natureza é tema da nova mostra que inaugura neste sábado no Museu do Ingá

Parece fácil, mas quem conhece minimamente a trajetória de um artista independente sabe que o esforço para emplacar um lançamento e fazer com que seu trabalho chegue a mais pessoas sem ficar refém do algorítimo não é simples.

Em entrevista ao A Seguir: Niterói, Germana compartilha os desafios, deleites e amarguras de um artista independente. Ela também fala da sua relação com Niterói, onde foi mãe e diz ter crescido com artista e pessoa. Confessa ainda que gostaria de fazer uma música em homenagem à cidade. “São muitas histórias vividas em Niterói, é muito amor! Tenho uma relação de profundo amor com Niterói.”

Ela lembra com carinho do show que fez recentemente que integrou a programação do projeto “Arte na Rua“, na Lopes Trovão, em Icaraí, rua onde, inclusive, a artista morou em Niterói. Ela classifica o local como um espaço íntimo, carregado de afeto, lembranças e democrático.

Foto: Daniela Barros

Ao longo da conversa, ela também comenta sobre a força tarefa que é fazer um videoclipe totalmente caseiro, de contar com a parceria de quem realmente acredita no seu trabalho e de construir uma relação de completa entrega.

O single “CORRENTEZA”, assim, em caixa alta mesmo, foi lançado pela artista no início de novembro e faz parte do primeiro álbum autoral que se chama “ORIGEM”, que será lançado ainda nesse ano. Serão nove canções, todas autorais, algumas parcerias e outras de composições só de Germana.

Adoraria ter uma equipe, já trabalhei assim e é um sonho! Cada profissional fazenda a sua função… bom demais! Não acho que o fazer de forma caseira deva substituir a contratação de profissionais, mas sim como alternativa para quem precisar fazer de uma forma mais possível. Hoje também sou contratada para fazer videoclipes para outros artistas, então sei da importância de estarmos rodeados de artistas e profissionais que possamos confiar e que tenham um olhar que combine com o nosso.

Confira a entrevista:

A SEGUIR: NITERÓI: Podemos dizer que a produção do clipe do seu novo single “CORRENTEZA” foi feito de forma caseira? 

Germana Guilherme: Podemos sim, feito de forma caseira, mas totalmente profissional. Há algum tempo, percebi a importância de lançarmos um projeto audiovisual junto com a música, com o single. Não dá mais para lançar só uma música, sabe? Pode ser um videoclipe, um visualizer, um lyric video… existem muitas possibilidades, mas não é interessante entregar só a música.

Sabendo disso e tendo consciência de como fica caro para o artista independente bancar tudo, resolvi aprender a fazer meus próprios clipes. Com esse pensamento criei um roteiro para “CORRENTEZA” a partir de um pedido do meu filho para levá-lo de carro para São Paulo.

Primeiro disse que o levaria, depois percebi que a história que eu queria contar dessa canção tinha a ver com o amor num momento de maturidade de uma mulher, que ela se coloca em movimento, se entrega a esse amor e sabe que, antes de qualquer coisa, precisa estar bem com ela mesma.

Pensei, então, que a estrada poderia perfeitamente representar esse movimento, essa coragem de se jogar com atenção e responsabilidade. Pensei também que essa mulher em algum momento poderia dançar sua entrega, sua coragem em viver o que se apresenta sempre acompanhada de si mesma. A Correnteza seria lindamente representada pelo fluxo do caminho, da estrada…

Convoquei então o meu filho, que tem um ótimo celular, com uma câmara de cinema e falei que já que estaríamos juntos por no mínimo 6h, ele poderia me filmar. Ele topou na mesma hora! Adorou a ideia.

Fiz um roteiro para a filmagem, uma decupagem das cenas para ele saber o que eu estava querendo e assim fizemos. Nesse roteiro tinha imagens minhas saindo de casa, saindo de carro da nossa rua, estrada e posto de gasolina onde eu dançaria. Foi uma aventura, uma delícia.

O meu filho, que se chama Azulllllll, é um grande profissional. É diretor e produtor musical, ator, cantor, compositor. Já tinha feito a filmagem das minhas imagens no meu videoclipe “MÃE”, então tinha certeza do seu olhar poético, da sua bagagem artística, sabe? Por isso que disse que é caseiro sim, mas profissional. Fazemos tudo isso a vida inteira.

Adoraria ter uma equipe, já trabalhei assim e é um sonho! Cada profissional fazenda a sua função… bom demais! Não acho que o fazer de forma caseira deva substituir a contratação de profissionais, mas sim como alternativa para quem precisar fazer de uma forma mais possível. Hoje também sou contratada para fazer videoclipes para outros artistas, então sei da importância de estarmos rodeados de artistas e profissionais que possamos confiar e que tenham um olhar que combine com o nosso. 

Confira o clipe abaixo:

– Qual a importância de contar com a colaboração de parentes e amigos? 

Meu filho, o Azulllllll é o meu produtor musical, a produção musical de “CORRENTEZA” é dele, o contrabaixo na canção é do meu filho Gabriel Luz, a percussão é de um amigo querido, o Michael da Silva, então realmente foi tudo feito em família e amigos. Todos são profissionais maravilhosos, que vivem de suas artes e acreditam na minha música.

O importante é você conseguir realizar o seu trabalho da forma mais profissional e bem feita possível. Quando chamo amigos para gravarem comigo se não tenho um cachê para oferecer, pergunto se eles gostariam de fazer uma troca. Como sou cantora, ofereço minha voz para vocais e gravações de trabalhos deles.

O acordo deve ser claro e justo para todos. Se a pessoa puder colaborar sem receber um pagamento ou sem troca profissional, tudo ótimo também. Já fui convidada e já aceitei por acreditar no projeto, por ser amiga e principalmente por estar podendo fazer essa colaboração naquele momento. É muito importante sabermos do valor do trabalho dos amigos, e que não é porque são amigos que tem que aceitar, sabe?

Em alguns momentos você quer e pode colaborar num projeto, mas em outros momentos você quer, mas não pode. É preciso que isso fique claro. Quanto mais amigo, quanto mais família, mais o acordo tem que ser feito de maneira clara para todos ficarem felizes. Afinal é trabalho, as pessoas vivem daquilo. Esse respeito é essencial. 

– O que te inspirou no processo de composição de “CORRENTEZA”? 

Eu vivi uma relação com um cara e depois de um tempo ele começou a ficar distante. Conversamos sobre isso e combinamos; “somos duas pessoas maduras então se algum de nós não quiser mais estar junto, só falar, né? Já sabemos que não morremos disso… podemos ficar tristes com o final da relação, mas não morremos”.

Concordamos, mas ele depois de um tempinho foi só se afastando e não dizia nada. Não quis perguntar de novo, até porque acredito que insistir no que já foi falado não adianta muito. Então ao invés de fazer uma DR resolvi que ia fazer uma música. Que iria aproveitar todo aquele sentimento que foi despertado a partir daquele encontro e fazer algo por mim, pelo encontro.

Resolvi e fiz a música em uma noite inteira, pois tinha certeza que no outro dia já estaria chateada com a distância dele… eu tinha que aproveitar aquela emoção, aquele sentimento que ainda estava bonito.

Fiz e depois de uns dias mostrei para ele, ele se emocionou muito, amou a canção, falou coisas lindas. Então pensei; “agora vou ficar na minha para ver o que acontece. Quero ver se ele vem” e ele se afastou mesmo. É isso, vão-se as paixões e ficam as canções. Fiquei de alma lavada, disse tudo que eu queria, lancei música e videoclipe e estou aqui dando entrevista para vocês feliz da vida.

Por isso que digo que “CORRENTEZA” é uma canção de um amor maduro, porque eu sei que aquele amor é minha capacidade de amar que o encontro despertou. Sendo assim eu não perdi nada, sigo com as lembranças e com tudo que vivi transformado em arte. Se eu sofri? Um pouco, claro! Mas já sei que não morro. Estou aqui vivinha na CORRENTEZA da vida, isso sim! 

Foto: Daniela Barros

– O single fará parte de um EP? Ou um disco? 

“CORRENTEZA” faz parte do meu primeiro álbum autoral que se chama “ORIGEM” e que vai ser lançado nesse ano. Serão nove canções, todas autorais, algumas parcerias e outras só minha.  

– Você tem alguma música que presta homenagem a Niterói ou a reverencia de alguma forma? Pensa em fazer? 

Ainda não tenho, mas com certeza já existem algumas ideias dançando aqui no meu coração. São muitas histórias vividas em Niterói, é muito amor! Eu cresci como artista em Niterói, me tornei mãe em Niterói, cresci como pessoa nessa cidade. Tenho uma relação de profundo amor com Niterói.

Nesse momento estou sempre às quartas-feiras colocando no meu canal do YouTube vídeos que fiz do show “O SOM DO SEU CORAÇÃO” que apresentei no projeto maravilhoso que se chama “Arte na Rua” e que foi na esquina das ruas Lopes Trovão e Paulo Gustavo, em Niterói. O show ainda teve uma convidada especial, cantora, compositora, multiartista de Niterói Kali C. Olha.

Eu morei anos na Lopes Trovão, fazer esse show nesse espaço tão íntimo, carregado de afeto, lembranças e tão democrático foi mais que especial para mim. Coisas sensacionais que acontecem em Niterói!  

– Como você se organiza no trabalho? O que costuma vir primeiro, a letra ou a música? 

Não existe um jeito só de fazer. Algumas vezes escrevo sobre algum assunto que me toca, me mobiliza ou que estou precisando falar, então depois vou para o violão e trabalho a melodia. Em outros momentos ouço uma música que amo e sinto que quero fazer uma música inspirada nela.

Aprendo a tocar a música que ouvi para entender os caminhos escolhidos pelo compositor, depois fico ali “viajando”, tocando muitas vezes para descobrir onde me identifiquei tanto e em seguida mergulho na minha, no som que vem a partir dessa inspiração, sabe? Se você ouvir a música que inspirou nem vai perceber que a minha partiu dali, mas tem ali a semente.

Quando é dessa forma vou criando a letra junto. E ainda tem as parcerias, que na maioria das vezes recebo uma letra, faço a música no violão e vou acrescendo letras minhas também. Completo ideias, troco palavras para caberem no ritmo, faço refrões, sempre mostrando para parceira, até as duas ficarem felizes. Sim, até hoje tenho parcerias musicais com mulheres e uma com meu filho Azulllllll. 

– Como costuma planejar o processo de lançamento dos seus singles? Quais costumam ser as etapas? 

Hoje tenho a alegria de fazer parte de um selo chamado “Peneira Musical” e isso fez toda a diferença na minha trajetória de cantora/compositora lançando músicas autorais. Posso te dizer que é quase impossível você lançar sozinha uma música nesse mercado da música. Lançar você até pode, mas isso não garante que vai conseguir fazer com que sua música chegue para as pessoas.

Então fazendo parte desse selo recebo todo um cronograma de planejamento de lançamento. Umas duas semanas antes do dia do lançamento já começamos a campanha do pré-save, que nada mais é do que as pessoas já pré salvem a sua música no aplicativo de música preferido delas (Spotify, Deezer, Youtube etc), com isso o algoritmo, que só entende números, considera a sua música um bom conteúdo para distribuir para mais pessoas.

Depois você cria conteúdos contando sobre a canção para as pessoas conhecerem a história dela e se aproximarem. Também você faz conteúdos para as pessoas saberem quando será o lançamento e poderem ir lá ouvir e ver.

E então você parte para o pós lançamento que são mais conteúdos falando sobre quem fez esse trabalho com você, mais histórias e curiosidades da canção. Ou seja, tudo isso para o público te conhecer mais e querer estar pertinho de você. É lindo isso? É! Mas é realmente um trabalho para uma equipe, percebe? Como você vai fazer tudo isso sozinho? Dá para aprender e fazer? Até dá, mas é realmente uma outra arte.

É um trabalho de estratégia de lançamento. Além de compor, cantar, se apresentar, fazer os vídeos para divulgar, você ainda tem que entender de estratégia de divulgação? Por isso que te digo que depois da parceira com a “Peneira Musical” tudo mudou. Agora tenho amigos, profissionais pensando comigo, tenho suporte. Se você não faz parte de um selo, pode juntar uma grana e pagar alguém para fazer isso com você, super indico.

Se não tem como pagar, vai aprendendo tudo que puder, observa o lançamento dos artistas que você admira e vai fazendo parecido e com calma. Dá muito trabalho, mas até onde sei, é bom fazer desse jeito.

Estou dizendo isso porque, nesse nosso mundo de internet e IA, está tudo mudando numa velocidade muito grande, né? Ficar atento é uma boa.

COMPARTILHE