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Primeiro museu de arte do estado do Rio de Janeiro e primeiro, no Brasil, dedicado à memória de um artista, o Museu Antonio Parreiras, no Ingá, vai reabrir suas portas para o público. Fechado há dez anos, o MAP será reinaugurado na próxima quinta-feira (9), às 17h, exibindo um dos mais importantes acervos do país.
São 3.842 itens catalogados, de grandes artistas brasileiros e estrangeiros, do século XVI até os dias de hoje, como Anton Van Dick, François Clouet, Pieter Brueghel, Vitor Meireles, Eliseu Visconti, Georg Grimm, além do acervo do próprio Antonio Parreiras. O acervo também abriga obras de artistas contemporâneos como Pietrina Cecacci e Burle Marx entre outros.
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Inaugurado em 1942, o museu é sediado na antiga residência da família do pintor niteroiense (1860-1937), que costumava realizar, no local, exposições. Uma delas foi visitada por ninguém menos do que Pedro II, último monarca do Império do Brasil.
Nos mais de dez anos que esteve fechado, o MAP passou por reformas. Segundo informou a Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro, a casa passou por revitalização com investimento de R$ 2,4 milhões. As intervenções contaram com uma obra de restauro completa no edifício principal que, agora, está pronto para voltar a receber exposições abertas ao público.
Durante as obras, as telhas foram retiradas e lavadas uma a uma e o piso foi recuperado e recolocado na mesma disposição. Além disso, comprovando o trabalho minucioso, houve a necessidade da utilização de uma tinta mineral específica para o tipo de argamassa utilizada e de uma especialista em prospecção para manter o museu na sua cor original.
– A restauração é um trabalho meticuloso. O museu vai voltar a ser como era antes e o nosso trabalho precisa ser muito detalhado – afirmou Fátima Marotta Henriques, diretora do Museu Antônio Parreiras.
A reinauguração será feita apesar de ter sido concluída apenas uma parte da restauração do local. A primeira fase das obras teve foco no edifício principal do museu. Porém, o equipamento cultural também é composto por outros dois prédios, incluindo o ateliê e a Vila Olga, onde se encontra o acervo técnico, que também serão reformados, em uma segunda etapa, cuja data ainda não foi informada.
A reforma foi supervisionada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e também abrangeu os jardins no estilo romântico do local.
A reinauguração do museu será marcada pela abertura da exposição “Antônio Parreiras Memórias & Histórias”, que vai ficar disponível no edifício principal recém-restaurado.
Exibe uma seleção de desenhos e pinturas do acervo, de forma a revelar a trajetória de Antonio Parreiras. A montagem foi baseada na autobiografia do artista “História de um pintor contada por ele mesmo”, publicada originalmente em 1926, com edições posteriores em 1936 e 1987.
A mostra, que contou com curadoria de Dora Silveira, poderá ser visitada até 13 de abril, gratuitamente, de quarta-feira a domingo, das 12h às 17h. O Museu Antonio Parreiras fica na Rua Tiradentes, 47, no Ingá.
O casarão que se tornaria museu foi construído em 1894 pelo arquiteto Ramos de Azevedo. Sua área total cobre 5 mil metros quadrados. É considerado uma das mais importantes edificações na Região Metropolitana do Rio de Janeiro projetadas pelo arquiteto de estilo eclético que se notabilizou por seu trabalho em São Paulo.
O museu foi inaugurado em 21 de janeiro de 1942 e ocupa três prédios que pertenceram ao pintor e à sua família: sua antiga residência; seu ateliê e residência de seu filho Dakir (1894-1967); e a residência da sua filha Olga. Na sua antiga residência, foram instaladas as salas de exposição e a administração do museu. Em seu ateliê, erguido em 1912, estão outras salas de exposição. A casa de sua filha foi adaptada como reserva técnica.
O museu foi tombado em 1967 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O jardim, de 4 mil metros quadrados, incluído no tombamento, foi desenhado e plantado pelo próprio artista.
O MAP tem um dos mais importantes acervos da pintura brasileira, com 3.842 itens catalogados, de grandes artistas brasileiros e estrangeiros, do século XVI até os dias de hoje, além das obras do próprio Antonio Parreiras. Entre eles, Anton Van Dick, François Clouet, Pieter Brueghel, Vitor Meireles, Eliseu Visconti, Georg Grimm. O acervo também abriga obras de artistas contemporâneos como Pietrina Cecacci e Burle Marx, entre outros.
A coleção do MAP permite observar dois aspectos importantes da contribuição de Parreiras à história da cultura do Brasil: sua interpretação impressionista do ambiente brasileiro e sua atitude moderna antes do modernismo.
Antônio Parreiras foi um paisagista exímio. Captou a luz do ar livre (o plein air dos franceses). Nisso, sua tarefa foi converter a luz do Brasil em cor. Pintor que viajava, suas andanças pelo Brasil acabaram por esboçar a vontade de produzir uma pintura que totalizasse a visão do país.
O acervo do museu é composto por mais de 2 000 itens. Está dividido nas seguintes coleções principais:
Coleção Antonio Parreiras: composta por pinturas desenhos, objetos pessoais e de trabalho, manuscritos, fotografias, correspondências, livros e documentos que pertenceram ao pintor Antonio Parreiras.
Coleção Arte Brasileira – Séculos XIX e XX: composta por obras adquiridas pelo próprio pintor Antonio Parreiras, doações de seus amigos e outras aquisições oriundas dos prêmios dos Salões Fluminenses de Belas Artes, Mostra de Artes Visuais, doações do Serviço de Difusão Cultural do
Estado do Rio de Janeiro e doações de diversos artistas.
Coleção Arte Estrangeira: Seu núcleo inicial foram obras do próprio Antonio Parreiras e posteriormente foi acrescida da Coleção Alberto Lamego que foi adquirida pelo Estado do Rio de Janeiro em 1949 com obras de pintores das Escolas Flamenga, Holandesa e Italiana.
Além de seu acervo museológico, o museu abriga uma biblioteca especializada em artes plásticas dos séculos XIX e XX, com um acervo de mais de 2 mil títulos, incluindo livros, periódicos, CDs, DVDs, catálogos de exposições e 314 volumes que pertenceram à biblioteca pessoal de Antônio Parreiras.
Nascido em Niterói em um momento em que a produção intelectual no Brasil passava por fortes influências de debates europeus, em seus vários textos redigidos, deu força a um discurso heroico quando referia-se à classe média, de onde veio. No entanto, após a morte de seu pai, foi à falência.
Foram várias as experiências do artista, sem sucesso, até que, em 1883, o então escriturário da Companhia Leopoldina, em Nova Friburgo, matriculou-se na Academia Imperial. Ingressar no universo artístico aos 23 anos de idade era considerado tarde para a época.
Insatisfeito, em 1884, deixou de fazer parte da Academia para pintar d’après nature na cidade de Niterói junto ao núcleo formado pela inspiração do pintor alemão Georg Grimm. Este, formado em Munique, chegou ao Brasil em 1874 e foi descrito por Parreiras em sua autobiografia como “extremamente bondoso para com os pequenos, altivo e arrogante, violento até para os grandes”. Influenciado pelos ares alemães de Grimm, pintar paisagens ao livre, romper com as instituições da academia era uma opção de vida a Parreiras.
Quando não mais fazia parte da Academia, o pintor preferiu seguir por rumos alternativos e então passou a organizar exposições próprias, grande maioria delas acontecia dentro de sua própria casa, em Niterói.. Acredita-se que a arte de vender suas próprias produções tenha sido mais uma das muitas influências da convivência com os ideais de Grimm. A venda de suas pinturas obedecia uma filosofia comunitarista, em que os ganhos de todos sustentavam a compra de mantimentos e materiais de trabalho para uso comum.
Em 1886, uma de suas exposições próprias recebeu uma importante visita que seria fundamental para o reconhecimento de Antônio Parreiras como artista e, principalmente, pintor. Dom Pedro II não só visitou a exposição do paisagista niteroiense, mas também adquiriu duas obras do pintor.
O sucesso de Parreiras é, para muitos, motivo de estudo e análise profunda. Principalmente por sua inserção no embrionário mercado de artes que se formava entre os século XIX e XX no Brasil. O pintor, por boa parte de sua vida, obteve sustento proveniente da venda de suas obras, num momento em que o mercado de arte ainda era instável e incipiente.
Em 1927, Antônio Parreiras participou da inauguração de um busto em sua homenagem, esculpido em bronze pelo francês Marc Robert e exposto no Jardim Icaraí, atual praça Getúlio Vargas, em Icaraí, em Niterói.
Hoje, suas obras históricas podem, em sua maioria, ser encontradas nos museus de arte e história do Brasil afora ou até mesmo na decoração de algumas das sedes de governo do país.
Na obra ”Fundação de Niterói” de 1909, Parreiras tem como figura principal Arariboia e o trata com especial cuidado. O autor tem como característica marcante o cuidado na pesquisa daqueles que está pintando, quer dizer, evitando reproduzir estereótipos que, até então, eram tratados os indígenas, por exemplo como observadores inscientes e selvagens. Nesse contexto, a pintura figura em primeiro plano Arariboia e outras duas indígenas no espaço central, com seus corpos fortes e traços detalhados. Além disso, Arariboia está em pé e de braços cruzados com a cruz erguida em segundo plano, ou seja, em uma posição questionadora ao invés do estereótipo de simples observador.
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