26 de dezembro

Niterói por niterói

Pesquisar
Close this search box.

Andrea Ladislau

Andrea Ladislau é graduada em Letras e Administração de Empresas, pós-graduada em Administração Hospitalar e Psicanálise e doutora em Psicanálise Contemporânea. Tem especialização em Psicopedagogia e Inclusão Digital. Na pandemia, criou no Whatsapp o grupo Reflexões Positivas, para apoio emocional a pessoas do Brasil inteiro.
Publicado

O “medo de palhaços” pode ser um transtorno emocional?

1180
O medo irracional de palhaços, não é frescura, é uma fobia que não deve ser julgada.

O principal papel de um palhaço é tirar o riso e encher de alegria a vida das pessoas, tirando sátira de situações reais. Porém, nem todo mundo consegue encarar esse personagem dessa maneira. Alguns, seja criança ou adulto, desenvolvem um verdadeiro pânico em relação a esses artistas de caras pintadas e nariz vermelho. Para estes, o palhaço é como um ser perturbador e esse medo irracional tem um nome: Coulrofobia.

 

A condição clínica é mais comum do que se imagina e é considerada, pelo DSM (Manual Diagnóstico e estatístico de saúde mental), como um tipo de fobia específica, cujos principais sintomas, são: palpitações, aceleração cardíaca, sudorese excessiva, náuseas, perda de fôlego, entre outros. A Coulrofobia, pode afetar crianças e adultos e é alimentada pelo fato de que os palhaços usam maquiagem e disfarces que escondem suas verdadeiras identidades e sentimentos, tornando-os assustadores.

 

Eles parecem felizes, mas trazem um ar de malícia que, para quem é propenso ao pânico, se sente ameaçado e em constante sinal de alerta. As características físicas altamente incomuns do palhaço – a peruca, o nariz vermelho, a maquiagem, a roupa estranha – também contribuem para aumentar a incerteza do que o palhaço pode fazer a seguir.

 

Esse medo desproporcional, historicamente, pode ter surgido de uma fama construída por criminosos americanos, Serial Killers, que utilizavam o disfarce de palhaço ou caras pintadas para praticar seus crimes, marcados por uma personalidade psicopática, fria e que causa medo e provoca a morte.

 

Ou seja, uma conexão entre o personagem de comportamento desregulado e perigoso que, inevitavelmente, ficou para sempre fixada no inconsciente coletivo dos americanos e de pessoas ao redor do mundo.

 

Para completar o terror, dizem que alguns palhaços demoníacos se colocavam à beira das estradas, tentando atrair mulheres e crianças para a floresta, a fim de concretizar atos criminosos.

 

A grande dualidade é o fato de que, são artistas que, buscam, através da liberdade de expressão, provocar o riso e superar desconfortos e dores, perpetuando a missão de fazer sorrir e levar entretenimento. Porém, a fobia registra o aspecto enigmático do desconforto de lidar com o desconhecido, o que não se controla, pois o fato estar escondido atrás de uma máscara ou de uma pintura, suscita desequilíbrio e sentimentos perturbadores, naqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade emocional.

 

A causa psicológica para esse pavor, está enraizada na imprevisibilidade. Visto que, padrões incomuns de contato visual e outros comportamentos não verbais fazem com que nossos detectores e sinalizadores de alerta de ameaça, sejam ativados, confrontando as incertezas, inconscientes, do ser humano.

 

Ou seja, por mais inofensivo que isso possa parecer, ativa a intuição e gera um sensor de autovigilância que estimula o aparecimento de sentimentos e sensações desagradáveis.

 

Enfim, a boa notícia é que existe tratamento para a Coulrofobia. Um trabalho psicoterápico eficaz, pode ajudar a detectar quais os gatilhos são ativados quando esse pavor se instaura, além de fornecer ferramentas específicas no auxílio do controle do pânico.

 

O objetivo é eliminar a sensação de desconforto e fortalecer a autoestima, além de trabalhar os mecanismos de defesa, para que se consiga assistir a um espetáculo circense sem qualquer sensação incômoda.

 

Portanto, o medo irracional de palhaços, não é frescura, é uma fobia que não deve ser julgada ou caracterizada como “mi-mi-mi”.

 

Dra. Andrea Ladislau  / Psicanalista

COMPARTILHE