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Um presente que Niterói vai receber pelos seus 451 anos será a inauguração da Casa Norival de Freitas, no Centro, nesta sexta-feira, dia do aniversário da cidade. O imóvel, construído entre 1921 e 1926, foi restaurado com direito à recuperação de toda sua parte estrutural. O investimento da Prefeitura foi de R$ 29,1 milhões.
Nesta quinta-feira (21), A Seguir visitou o casarão, tendo como guias o prefeito Axel Grael e o arquiteto responsável pela obra, Anderson Miranda. O local será utilizado como sede administrativa do Programa Aprendiz Musical. A visita foi entremeada por pequenas apresentações de integrantes do programa.
O público poderá visitar a casa mediante agendamento prévio. A previsão é que as visitações comecem a ser feitas no início de 2025.
– O Solar era chamado Notre Rêve (Nosso Sonho, em francês). Estamos mantendo o nome que Norival de Freitas queria. Foram dois anos de obras e a restauração foi meticulosa. Muitos detalhes foram recuperados. O casarão ajuda a recuperar um pouco da memória da cidade. O sonho que era individual, agora é da cidade, é coletivo.– afirmou Grael.
Do lado de fora, cerca de 30 funcionários da Empresa Municipal de Moradia, Urbanização e Saneamento (Emusa). corriam para concluir o jardim e finalizar acabamentos do prédio anexo. São três andares, com um terraço no último. Essa estrutura de traços modernos, de metal e vidro, é ligada ao prédio histórico por uma passarela. Abriga um auditório e três estúdios para ensaios. Ao lado, inicialmente, funcionaria uma cafeteria. Porém, como a casa não vai ficar direto com as portas abertas para o público, o espaço ganhou nova finalidade: uma copa-cozinha para ser utilizada pelos alunos e funcionários.
Como o jardim ainda estava com muita terra, para entrar na casa todos tiveram que usar uma proteção sobre os calçados. Sim, o prefeito também.
As primeiras salas do imóvel abrigam uma breve exposição que conta a história do próprio imóvel e do seu proprietário, por meio de painéis e fotos. No meio da sala maior, uma exposição tátil com reproduções de detalhes arquitetônicos do local.
Dentre o material exibido, o que mais chamou a atenção de Grael foi o documento de tombamento da casa. Datado de 27 de maio de 1983, foi assinado pelo então governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, e seu secretário extraordinário de Ciência e Cultura, Darcy Riberiro.
Construído por João Dalossi e projetado pelo francês Berrari, o Solar Notre Reve foi habitado pela família de Norival até 1979, ano da morte da sua esposa Noelina. Posto à venda pelos herdeiros, foi adquirido pela prefeitura de Niterói. Em 1983, o imóvel foi tombado pelo INEPAC. No ano seguinte, foi parcialmente destruído por incêndio..
A casa tem estilo Eclético Romântico, com grandes influências do Art Noveau. Sendo um remanescente da arquitetura residencial do início do século XX em ferro e ornamentos em massa, representativos da antiga capital fluminense.
Suas paredes foram decoradas com pinturas pochoir (stencil) e escaiola (que imita mármore), revestimentos importados, caixilharias de vidros coloridos e ladrilhos hidráulicos decorados com diversas estampas nos pisos. Os elementos em ferro fundido são de grande destaque nas fachadas, integrando desde a escada externa de acesso ao pavimento superior, balaústres, pilares e mãos francesas.
O imóvel de dois andares tem 337 m2; os jardins (que receberam 4 mil mudas de plantas) estão espalhados por 474 m2 e o anexo ocupa outros 444 m2. Ou seja, o Notre Rêve tem, ao todo, 870 m2.
– Encontramos muitos ornamentos durante o próprio processo da obra. Achamos cinco telhas originais e cada uma diferente da outra. Recuperamos assoalhos, forros, ornamentações, as escadas, as janelas com os vitrais e a grade pantográfica de um dos cômodos.– contou o arquiteto Anderson Miranda.
Segundo ele, o maior desafio do projeto foi a reprodução da azulejaria – todos os azulejos foram feitos lá mesmo, no canteiro de obras. Durante o trabalho, ele ministrou oficinas para estudantes da Universidade Federal Fluminense que se tornaram uma espécie de capacitação em restauro.
A Casa Norival de Freitas não irá abrigar, na sua totalidade, o Aprendiz Musical. A Casa Aprendiz, no Fonseca, segue no “batente”.
– A casa do Fonseca foi adaptada para o projeto, mas está cheia. Não cabe mais nada. A parte administrativa vai ocupar a Norival Freitas onde também serão realizadas algumas aulas e ensaios – informou João Carino, presidente do programa, que existe há 24 anos.
Atualmente, o Aprendiz Musical atende 10 mil crianças, de 50 escolas da rede municipal de Niterói no seu programa de musicalização. Elas têm entre 6 e 24 anos. Quem completa 25 anos, tem que sair.
São 80 professores envolvidos no programa que tem 300 alunos fixos estudando na Casa Aprendiz. Desse total, 30 fazem parte da orquestra de sopro e 60 da orquestra sinfônica.
Carino também é presidente do Instituto Memória Musical Brasileira, instituição gestora do Aprendiz Musical cuja sede fica na mesma rua da Casa Norival de Freitas. O IMMB, na prática, é um portal de música brasileira formado com um acervo de 100 mil discos.
Carino sonha com a possibilidade, no futuro, do casarão vir a abrigar cabines que permitam a audição desse acervo.
Literalmente em frente ao casarão, funciona o Conservatório de Música de Niterói. A ideia é que o CMN “converse” com o Aprendiz Musical. O imóvel que abriga o conservatório não está em grande forma e o prefeito está ciente disso.
Político fluminense, Norival Soares de Freitas nasceu em 1883, no Rio de Janeiro. Morreu em Niterói, em 1969. Entusiasta da história e do conhecimento, quando era acadêmico do curso de Direito, recebeu uma proposta do Barão do Rio Branco para ir a Lisboa resgatar a história do Rio de Janeiro. Em suas pesquisas encontrou o local exato de fundação da cidade, o que lhe rendeu uma cadeira no notável Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Na sua residência aconteceram várias reuniões políticas que contaram com a presença de notáveis figuras da República.
A Casa Norival de Freitas fica na rua Rua Maestro Felício Toledo, 474, no Centro de Niterói.
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