21 de novembro

Niterói por niterói

Pesquisar
Close this search box.

Lupulinário

Por Sônia Apolinário

Sônia Apolinário é jornalista tendo trabalhado nos principais jornais do país, sempre na área de Cultura. Também beer sommelière, quando o assunto é cerveja e afins, ela se transforma na Lupulinário.
Publicado

De olho no Mondial de là Biere 2024: Cathedral

Por seis vezes, sendo cinco consecutivas, a Cathedral (Maringá, PR) levou o título de melhor cervejaria do ano, dado pelo Concurso Brasileiro de Cervejas (CBC, Blumenau, SC). A última premiação foi em 2021.

De lá para cá, foram poucas as notícias sobre a marca. Muito por conta da pandemia do Coronavírus. Agora, a Cathedral, que está há 11 anos no mercado, inicia uma nova fase. Até então com atuação bastante regional, a cervejaria paranaense está disposta a conquistar o Rio de Janeiro, tendo como base, Niterói.

A vitrine para esse novo momento será o Mondial de là Biere, que acontece de 10 a 13 de outubro, no Pier Mauá, zona portuária carioca. É a primeira vez que a Cathedral participa do festival. E o lançamento feito especialmente para o evento é uma colaborativa com a Malteca, cervejaria de Niterói.

Trata-se da Whakanui, uma New Zealand IPA (6,2%, 40 IBU), que terá um pré-lançamento na segunda-feira, 7 de outubro, no Brewteco Tijuca (Avenida Maracanã 782 ), a partir das 18h. O nome significa “celebração”, em maori.

O principal elo da Cathedral entre Maringá e Niterói é Marcelo Baptistella, um dos três sócios da marca. Ele se mudou com a família, leia-se esposa e filha pequena, para a cidade – onde, diga-se de passagem, não conhecia ninguém.

– Quando decidimos expandir nossa atuação para o Rio de Janeiro, tivemos que pensar na logística, porque nossa fábrica continua em Maringá. Como não conhecíamos bem o mercado, era preciso, primeiro, entende-lo melhor; depois, ir se conectando com outras cervejarias. Fazer produção colaborativa com cervejarias locais nos pareceu um caminho para facilitar essa logística. Decidi, então, me mudar. Escolhi morar em Niterói por uma questão de qualidade de vida. Sendo uma cidade menor, isso ajuda nas conexões. Mas eu ainda continuo indo muito a Maringá – explicou Marcelo.

Por “acaso”, ele se instalou próximo ao bar de cervejas artesanais Fina Cerva, tradicional na cidade, no Jardim Icaraí. Foi lá que lhe sugeriram a Malteca como cervejaria para “ciganar”. E deu match.

A Whakanui foi desenhada a quatro mãos. Marcelo, um assumido fã de IPA, apostou no estilo para essa primeira cerveja made in Rio de Janeiro (ou melhor, Niterói). Na sua opinião, ainda tem espaço no mercado para uma “boa IPA sem muita frescura”.

A decisão por uma New Zealand foi, segundo ele, pelo fato dos lúpulos neozelandeses ainda não terem sido muito explorados, por aqui. Os escolhidos para essa receita (Nelson Sauvin, Luminosa e Riwaka) remetem a notas cítricas e frutadas de caju, carambola, melão e maracujá.

Voltando no tempo

A nova fase da Cathedral acontece depois da marca viver momentos áureos em Maringá. E pensar que a cervejaria nasceu por conta de um trabalho acadêmico.

Os atuais sócios se conheceram quando se mudaram para Maringá e dividiram uma república. Cada um saiu da sua cidade natal, no interior de São Paulo, para estudar na Universidade Estadual de Maringá. Marcelo foi cursar Engenharia Mecânica enquanto Guilherme Palu (de Marília) e Daniel Chaves (Guaratinguetá) eram alunos de Engenharia Química.

Os dois resolveram ter como tema do trabalho de conclusão de curso, a criação de uma cervejaria artesanal. E Marcelo achou legal ajudar. E os três começaram a fazer cerveja de panela. E a velha história se repetiu: a produção caseira fez sucesso entre os amigos e a luz do “por que não?” se acendeu.

– Dava muito trabalha fazer cerveja em casa. A gente nem queria vender, fazíamos só para nós, para os fins de semana. Nessa época, foi o boom do mercado artesanal no Paraná. Então, decidimos alugar um barracão e começamos a produzir mil litros por mês. Mandamos amostras para concursos e ganhamos prêmios, que nos notabilizaram – contou Marcelo.

Quando a pandemia chegou, a Cathedral tinha fábrica com capacidade para 15 mil litros por mês, e-commerce e três bares. A marca crescia de forma orgânica, tendo como atuação apenas Maringá e região próxima, com alguma presença em São Paulo. Naquela época, os planos passavam por aumentar o alcance da cervejaria com a abertura de mais bares em diferentes locais.

O Coronavírus derrubou os bares e o e-commerce da marca e os sócios se voltaram para a fábrica. Agora, o novo ajuste de projetos segue ainda com planos de aumento de alcance da cervejaria, mas dentro de uma rota específica traçada pelos sócios: Maringá – Rio, via interior de São Paulo.

– No processo todo, o mais fácil é fazer a cerveja. Temos muita preocupação em escolher bem onde vendemos nossa cerveja. Prezamos por lugares que ofereçam um serviço correto da bebida. Meu trabalho principal, no momento, é encontrar bares para iniciar parceria – afirmou Marcelo.

Modial de là Biere

É a primeira vez que a Cathedral participa do evento simplesmente porque é a primeira vez que a marca tem planos para atuar no Rio de Janeiro.

A estreia será ainda de forma discreta: apenas com quatro rótulos no autosserviço. São eles: a Whakanui, a Green City (New England IPA), a Navio Pirata (Session Indian Black IPA, recém premiada no Brasil Beer Cup) e uma Gose de Melancia.

Tudo correndo dentro do planejado, a cervejaria terá seu próprio estande no Mondial de 2025.

O mercado do Rio está estranho, com várias marcas saindo de cena. Por que escolheram vir para cá? – perguntou Lupulinário

– Olhamos esse cenário como oportunidade. Oportunidade para uma cerveja bem-feita, de uma marca consolidada. Acreditamos que a rota comercial que criamos tem tudo para abraçar a Cathedral. O mercado ainda vive do hype. Precisamos estar sustentável, não fazer grandes loucuras. Vamos dar um passo de cada vez. No mais, é a forma de acabar com o meme – respondeu Marcelo.

Como assim, que meme?

– Por conta dos vários prêmios que conquistamos nos concursos, começamos a ouvir que a Cathedral é uma cervejaria que ganha prêmios, mas que ninguém via em lugar nenhum e, por isso, ninguém  conseguia beber – disse Marcelo, entre risos.

Leia mais: De olho no Mondial de là Biere 2024: Zuid

COMPARTILHE