Nada existiu de mais importante na música de Niterói do que Sérgio Mendes. Ninguém chega perto, embora a cidade seja origem de gigantes da canção. Não vou citar alguns deles porque vai parecer que estou comparando-os com Sérgio. O pianista e compositor morto hoje nos Estados Unidos está acima de todos. O que não é demérito para os que vêm em seguida.
No Brasil, no início dos anos 60, Sérgio Mendes era um pianista de jazz. Seu disco “Dance moderno” é cultuado até hoje. O mineiro João Bosco é um de seus adoradores. Tom Jobim era outro. Aliás, Tom e o maestro Moacir Santos, lendário, foram os arranjadores de “Você ainda não ouviu nada”, disco de 1964 que uniu Sérgio e o sexteto Bossa Rio.
Quando foi para a Califórnia, e estourou com a espetacular versão de “Mas que nada”, clássico dos clássicos de Jorge Ben, a crítica brasileira taxou: “Sérgio Mendes americanizou a música do Brasil, vendeu-se ao sucesso fácil, às paradas, ao Tio Sam”. E outras baboseiras do tipo.
Tamanha estupidez foi rebatida por Tom Jobim (ou talvez Nelson Motta, ou os dois). Sérgio era americano no Brasil, entusiasta do jazz e da música instrumental. Nos Estados Unidos, voltou a ser brasileiro. Por isso, fez um sucesso arrebatador. Um som novo, percussivo, com harmonia, ritmo e vocais inovadores.
Pelo que sei, vez ou outra Sérgio voltava a Niterói, onde tem pelo menos uma irmã e sobrinhos. Jamais falei com ele. Fiz entrevistas com Roberto Carlos, Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Fagner, Jards Macalé, Zé Rodrix, Guinga, Erasmo Carlos, Djavan, Geraldo Azevedo, Luiz Melodia, Aldir Blanc, Tavito, Paulo Sérgio Valle, Ronaldo Bastos, Zé Ketti. E tantos outros mais. Até mesmo com Tom Jobim.
Mas de Sérgio Mendes, infelizmente, continuarei chegando perto por sua música.