22 de dezembro

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Niterói expande sua cena teatral, atrai estrelas e exporta talentos

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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De acordo com a Diretora do Theatro Municipal, Marilda Ormy, cidade tem índices culturais “bastante promissores”
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Giovana Sassi, no musical Itapuca, superprodução niteroiense. Foto: arquivo

Teatros cheios, espetáculos do circuito nacional reservando datas em Niterói, artistas da cidade que conquistam espaço em superproduções … A cena teatral talvez nunca tenha ganhado tanto destaque na cidade. A atriz Giovana Sassi é um bom exemplo desta vitalidade. Estrela do Musical Itapuca, exibido no Theatro Municipal, nascida e formada na cidade, ensaia para a o musical “Uma babá quase perfeita”, que só estreia em outubro no Rio e já tem ingressos vendidos.

– O público quer consumir cultura, porque cultura alimenta a alma. É por isso que os teatros estão cada vez mais cheios, ainda mais depois da pandemia. E essa é uma história divertida que será contada por um elenco incrível. É isso que faz o sucesso no teatro, boas histórias e bons profissionais, sérios e comprometidos. Também pude assistir ao espetáculo no West End e essa versão do musical é certeira em divertir e emocionar.

O teatro em Niterói

O musical sobre o cantos e compositor Belchior lotou o teatro. Foto: divulgação

Peças, monólogos e espetáculos musicais chamam a atenção pela sua aposta na diversidade de formatos e por lançar luz sobre temas importantes. No Teatro da UFF,  uma diversidade de assuntos foram tratados, com um elenco que salta aos olhos. “O figurante“, com Matheus Solano, “O pior de mim“, com Maitê Proença, “Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres”, baseada no livro homônimo escrito por ninguém menos que Clarice Lispector, “A Tropa“, com Otávio Augusto, “Síndromes“, com Miguel Falabela.

Leia mais: “Para mim, Niterói é cinema”, resume a cineasta Liliane Mutti

Outro destaque foi o “Literatura em Cena” organizado pelo Centro de Artes UFF no ano passado, projeto que se debruçou em releituras de contos e romances. As peças foram baseadas em livros de Machado de Assis e Guimarães Rosa. Outras foram adaptações de obras de Clarice Lispector e Ana Martins Marques.

Isso sem contar com “Belchior, o musical “ e a peça “Um dia a menos“, dirigida por Ana Beatriz Nogueira.

No Theatro Municipal a programação também tem sido intensa. O local costuma ser palco de peças, espetáculos musicais e dança, especialmente Companhias de Ballet de alto porte, nacionais e estrangeiras. Nos últimos meses, recebeu o sucesso “MilTONS do Brasil”, inspirada na obra de Milton Nascimento e com direção artística e coreografia de Regina Sauer, referência nacional em Dança Moderna e Jazz. “A lista“, com a consagrada Lilia Cabral também passou por lá.

– A cena teatral em Niterói está muito bem nutrida. Nossa cidade cresce e, culturalmente, os índices são bastante promissores. Grupos de teatros proliferam em função de alguns anos encubados, responsabilidade da pandemia. O celeiro de artistas de Niterói fervilha, ávido por mais espaços culturais, mais editais, mais possibilidades de revelações artísticas. Imprescindível destacar o apoio incondicional de nossa Prefeitura, através da Fundação de Arte e da Secretaria das Culturas. O Theatro Municipal de Niterói, do qual tenho a honra de ser diretora, se “elastisa” para poder dar conta de tantas solicitações – afirmou a diretora Theatro Municipal, Marilda Ormy.

A diretora do Theatro Municipal, Marilda Ormy. Foto: Divulgação

Itapuca, o musical

No início deste ano, Niterói recebeu a maior produção de teatro criada originalmente na cidade, “Itapuca, O musical” teve sua estreia na abertura da temporada do ano no Theatro Municipal de Niterói.

A produção propõe uma adaptação da origem da lenda da Pedra de Itapuca, onde Jurema, uma jovem indígena, conhece Kaub, um jovem escravizado, e se apaixonam. Juntos vão lutar pelo amor, contra a invasão portuguesa e a tentativa de escravizarem seus povos.

No Teatro Popular Oscar Niemeyer, outro equipamento cultural importante da cidade, a programação costuma se pautar em peças infantis, espetáculos de dança e stand-up comedy.

Já o Scuola di Cultura, centro cultural que funciona na Avenida Presidente Roosevelt, 1063, em São Francisco, respira arte por todos os poros. Além de oferecer uma programação teatral, a casa oferece aulas de cerâmica, desenho e aquarela, costura, instrumentos musicais, curso de italiano, produção textual e escrita criativa. A ideia é promover a circulação da arte de forma livre, de acordo com a demanda.

Em julho de 2022, iniciou algo até então inédito na cidade, um Festival de Teatro Musical, que ofereceu oficinas, palestras e apresentações com o objetivo de aproximar profissionais, estudantes e apreciadores do teatro musical e, sobretudo, fomentar o desenvolvimento da arte e da cultura.

Todos os eventos foram gratuitos, buscando facilitar o acesso às vivências artísticas e incentivar a participação popular no universo do teatro musical. O projeto foi selecionado na Chamada Pública “Fomentão” nº 05/2021 da Prefeitura de Niterói e Secretaria das Culturas. Em 2023, repetiu a fórmula e realizou a segunda edição do Festival.

Fabrizio Sassi, idealizador do espaço, ainda desenvolveu outro projeto para o espaço, que se concentra no entendimento dos elementos que envolvem os bastidores do teatro.

– A gente quer profissionalizar as crianças da rede pública de ensino. O objetivo não é só interpretar, mas promover aulas de iluminação, cenário e figurino. Os bastidores que envolvem um espetáculo. Fiz um evento que contou com a presença de atores profissionais no Theatro Municipal. Isso tem muita potência e gera muito valor – ressaltou.

Niterói na cena musical

O A Seguir conversou com a atriz Giovana Sassi, filha de Fabrício, que iniciou sua história com o teatro quando ainda era muito novinha. Ela fala do seu novo projeto no teatro “Uma babá quase perfeita”, que está chegando ao Rio, e da cena teatral da cidade, de Leopoldo Fróes a Nicette Bruno, Paulo Gustavo e Leandro Hassum.

– Nos musicais hoje encontramos vários atores de Niterói. De alguns anos para cá, os artistas do Rio e outras cidades têm voltado sua atenção para a cidade, tornando-a um hub com maior interlocução entre municípios. Mas tudo isso só é possível com o interesse do público, com o crescimento do investimento em cultura por parte da cidade, com teatros bem estruturados, com diferentes lotações e caixas cênicas – destacou.

A atriz Giovana Sassi é um dos nomes da cidade que fomentam a cena do Teatro Musical. Foto: Acervo Pessoal

A SEGUIR: NITERÓI: Como você avalia a cena do teatro musical no Rio e em Niterói, mais especificamente? Acredita que o setor esteja em alta ou as opções ainda não contemplam uma variedade grande, como em São Paulo?

GIOVANA SASSI: A cena do Rio tem crescido cada vez mais. Em Niterói, a Scuola di Cultura tem feito grandes movimentações para isso com o Festival de Teatro Musical de Niterói e com Itapuca, que foi o maior musical já feito na cidade. São projetos de Niterói para Niterói que vão esquentar esse mercado e Itapuca foi um grande marco para isso.

Conte um pouco sobre sua relação com o teatro, como começou sua trajetória, suas influências, etc.

– Comecei minha trajetória com o curso do Marcello Caridade em Niterói. Foi lá que descobri a importância da formação para atores de maneira ampla, saber da nossa história, das funções técnicas, como estudar um texto e como ampliar o capital cultural para saber como aplicar tudo isso nas disciplinas de atuação. Assim me apaixonei pelo teatro, por assistir, estudar, interpretar e entender todo o seu funcionamento.

Quando entrei na universidade federal para estudar Artes Cênicas, meu olhar se ampliou ainda mais como pesquisadora. Inspiro-me muito nas grandes damas do teatro brasileiro e suas trajetórias, em diretores nacionais e internacionais como André Paes Leme, Rodrigo Portella, Robert Lepage, Elizabeth LeCompte e Jerry Zacks, e também em profissionais do meu círculo de convivência como Lucia Cerrone, Marllos Silva e Marcos Ácher.

Qual sua formação?

– Sou bacharel em Direção Teatral pela UNIRIO e desde que comecei a estudar com o Caridade em 2009, não parei. Atualmente faço coaching de canto com o Maestro Marconi Araújo e sempre que posso encaixo aulas de dança na agenda. Fiz também coaching com professores em Nova York como David Brunnetti e John Grabowski. Além da formação diária, em que leio muito dramaturgia e literatura, assim como vou a peças de teatro todo final de semana. Isso também é formação para ator.

A atriz Giovana Sassi em peça recente. Foto: Acervo Pessoal

Quais peças gosta de ir nos fins de semana?

– Gosto de assistir todo tipo de peça, de musicais a teatro físico, peças de comédia, de drama… Faz parte do meu trabalho e felizmente tenho muito prazer nisso. Mas é claro que corro quando posso ver atores que fizeram parte da história do nosso país no palco.

A peça “Uma babá quase perfeita” entra em cartaz apenas em outubro, mas já está um sucesso de vendas, quase já não há mais ingresso. O que explica essa alta demanda?

– O público quer consumir cultura, porque cultura alimenta a alma. É por isso que os teatros estão cada vez mais cheios, ainda mais depois da pandemia. E essa é uma história divertida que será contada por um elenco incrível. É isso que faz o sucesso no teatro, boas histórias e bons profissionais, sérios e comprometidos. Também pude assistir ao espetáculo no West End e essa versão do musical é certeira em divertir e emocionar.

Giovana Sassi. Foto: Acervo Pessoal

Falando sobre o “Babá quase perfeita”, como foi sua preparação? Quais são suas expectativas para a estreia? – A preparação do ator é diária, não para um projeto. Aulas de canto, dança e interpretação são uma constante na minha vida. Então quando chega um novo trabalho, é muito estudo da obra e dedicação nos ensaios.

Poderia falar um pouco sobre sua relação com a Scuola?

– A Scuola di Cultura é uma empresa familiar da qual eu tenho muito orgulho. A Scuola tem diferentes braços e eu participo, sobretudo, do teatral. Temos aulas de diversas artes no centro cultural e projetos de diferentes áreas na produtora. Alguns exemplos são a Scuola di Teatro Lucia Cerrone; a exposição Luzes da Coreia que bateu recorde de público no MAC; a exposição Art with Python de obras feitas com algoritmos e arte generativa; o Festival de Solos, o Festival de Teatro Musical, assim como festivais de música e vários outros projetos.

Por fim, tem a produtora teatral, em que eu trago a minha bagagem profissional de produções de Niteroi, do Rio, de São Paulo e de turnês no Brasil para esse eixo da Scuola. Foi a partir dessa troca que criamos o maior musical já produzido em Niterói, o Itapuca.

Que fatores você acredita que são importantes para este bom momento da cena teatral em Niterói? 

– Niterói tem uma história forte com o seu teatro e vários sucessos do Brasil vieram da cidade, desde Leopoldo Fróes a Nicette Bruno, Paulo Gustavo e Leandro Hassum para citar alguns. Inclusive nos musicais hoje, encontram-se vários atores de Niterói.

Mas tudo isso só é possível com o interesse do público, com o crescimento do investimento em cultura por parte da cidade, com teatros bem estruturados, com diferentes lotações e caixas cênicas, e com a criatividade dos produtores locais.

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