25 de novembro

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Em Niterói, golpe do consignado é recorrente

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Outras cinco já foram desarticuladas pela polícia, com a prisão de 46 pessoas. Conheça as modalidades do crime e saiba como se proteger
dinheiro-dívida-endividamento-inadimplência. Foto: Camila Araujo
Os golpes no empréstimo consignado, geralmente, têm como alvo aposentados e pensionistas.

Seis pessoas foram presas, em Niterói, por suspeita de praticarem o golpe do falso empréstimo consignado, em 10 de junho passado. Não é a primeira vez que a polícia localiza e revela como agem integrantes de quadrilhas que praticam esse tipo de crime, na cidade. Pelo menos outras cinco delas já foram desarticuladas, no município.

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O empréstimo consignado é uma modalidade de crédito que oferece vantagens como juros baixos e desconto direto na folha de pagamento. No entanto, também é alvo de golpes e fraudes que podem prejudicar a saúde financeira dos consumidores.

De acordo com o Serasa, em 2022, foram registradas em Procons de todo o Brasil, 57.874 queixas de golpes de empréstimo consignado. Isso representa seis denúncias por hora.

Os golpes e fraudes no empréstimo consignado, geralmente, têm como alvo pessoas aposentadas. Podem ocorrer de diversas maneiras, mas geralmente envolvem o uso indevido dos dados pessoais dos consumidores, a cobrança de taxas ou depósitos antecipados, a contratação de empréstimos sem autorização ou conhecimento, a falsificação de documentos ou assinaturas, entre outras práticas ilegais.

Quadrilhas do golpe do empréstimo consignado montam verdadeiros esquemas de telemarketing. Foto: reprodução

As quadrilhas costumam agir de forma semelhante, a partir da operação de verdadeiros centros de telemarketing. Usam os mais diversos subterfúgios para conseguir das vítimas seus dados pessoais, bancários ou acesso ao seu contracheque.

Segundo a polícia, investigações relacionadas com golpes do consignado identificaram a existência de um lucrativo mercado clandestino de documentos – não necessariamente falsos.

Investigações também detectaram que algumas das quadrilhas que atuam nesse tipo de crime, em Niterói, têm metas diárias para “bater”. A partir da cidade, pessoas foram lesadas em várias partes do país.

O mais recente caso

As prisões ocorridas esta semana foram feitas por policiais civis da 79ª DP (Jurujuba). A quadrilha foi localizada em um escritório no Centro de Niterói, após informações do Setor de Inteligência. Segundo os agentes, aposentados e pensionistas eram as principais vítimas.

De acordo com as investigações, os acusados se passavam por funcionários de bancos e financeiras. Segundo apurado pelos agentes, após ter o empréstimo aprovado sem consentimento, as vítimas retornavam a ligação para o cancelamento e, para isso, precisavam pagar um porcentual pelo serviço. Após realizar a transferência bancária, porém, o cancelamento não ocorria.

A unidade apurou que o golpe era aplicado em diversos estados do país, a partir de Niterói. No escritório, os policiais encontraram seis estações com computadores ligados. Os acusados tinham funções como realizar o golpe, avisar sobre a chegada de policiais ao local, ser o mentor intelectual da quadrilha e treinar as atendentes para a realização do delito.

Estrelinha

Em junho do ano passado, mais uma vez em uma sala no Centro de  Niterói, onze pessoas que integravam uma quadrilha que aplicava o golpe contra idosos e pensionistas foram presas por agentes da 76ª DP (Centro). O grupo classificava as vítimas potenciais com “estrelinhas” que indicavam se elas eram fáceis ou não de serem enganadas.

Os criminosos ligavam para os alvos e faziam falsas propostas de empréstimo. Eles também afirmavam que a vítima tinha contratado um consignado, que poderia ser cancelado. Os contatos das vítimas eram retirados da internet, com informações como nome completo, telefone e CPF. Eram hackeados com a ajuda de programas de computador.

A partir da abordagem, os criminosos faziam anotações, classificando as pessoas como mais atentas ou como vítimas mais fáceis. Entre os papeis apreendidos pela polícia, é possível ver que os nomes dos idosos e pensionistas são acompanhados de “estrelinhas”. Quanto mais simples parecia enganar, maior era o número delas.

Quadrilha classificava a vítima conforme a facilidade ou resistência em cair no golpe. Foto: reprodução

O nome de um idoso, por exemplo, acompanha a anotação: “vai falar com a filha, mas é burro”.

Na anotação do nome de uma mulher, estava registrado: “Não deu ideia, esperta”. Era a avaliação dada a quem questionava demais os criminosos e duvidava do que era dito.

Outra pessoa recebeu classificação semelhante: “Não deixa eu falar, parece esperto”.

As pessoas que duvidavam da lábia dos golpistas eram classificadas como:

 “Chato, pergunta demais e quer ir ao banco”.

“Desgraçado, vai na agência”.

“Debochado”.

De acordo com as investigações, a quadrilha tinha um roteiro com as palavras que deveriam usar para o convencimento das vítimas em potencial. Na parede, existia uma meta que o grupo queria atingir: R$ 320 mil.

Na época da prisão, a delegada Natacha Oliveira classificou o esquema do grupo como “sofisticado” com potencial para enganar o maior número de pessoas possível.

– Um era responsável pela captação de dados das vítimas, principalmente, o número de seu benefício previdenciário. Um segundo atuava como um discador vinculado ao primeiro, a partir do qual esses operadores faziam contato com as vítimas – contou ela.

As investigações mostraram que o grupo contava, inclusive, com um olheiro na entrada do prédio para evitar a ação de policiais.

15 de uma vez

No mês anterior, em maio do ano passado, também em uma sala no Centro de Niterói, 15 pessoas foram presas, de uma vez só, por integrarem uma quadrilha que aplicava o golpe do falso consignado.

Daquela vez, as prisões foram feitas por agentes da 73ª DP (Neves, em São Gonçalo). No local foi encontrada uma verdadeira base de telemarketing com computadores e apetrechos de áudio e telefonia. Havia farto material que comprovavam o crime como dados cadastrais de vítimas, incluindo cópias do que seriam comprovantes de residência.

Todos foram presos em flagrante sob acusação de formarem organização criminosa.

Mãe e filho

Dez dias depois do “caso dos 15”, a Polícia Civil prendeu, mãe e filho por suspeita de chefiarem escritórios do golpe do falso empréstimo consignado, em Niterói.

Segundo a investigação da 76ª DP (Centro), Cristiane Carvalho Muniz e Luan Gabriel Carvalho dos Reis acumulam mais de 100 denúncias pelos crimes de estelionato e associação criminosa. Sozinho, Luan já tinha 50 anotações criminais, enquanto a mãe, 63 denúncias.

Suas vítimas eram idosos aposentados. Segundo a polícia, os suspeitos usavam dados roubados e diziam para as vítimas que elas tinham valores atrasados para receber da aposentadoria. A partir dessas informações, eles realizavam os empréstimos.Uma das vítimas identificadas teve um prejuízo de R$ 40 mil.

Em outra abordagem, eles diziam que as pessoas poderiam renegociar empréstimos já realizados e pagar menos juros. Ainda de acordo com os investigadores, alguns repasses financeiros eram feitos para contas de familiares dos presos.

De acordo com a delegada Natacha Oliveira, o pai de Luan, identificado apenas como Angelo, também atuava diretamente no esquema. Ele dava ordens diretas para o filho que era o responsável pelos repasses financeiros.

Produtividade

Em fevereiro do ano passado, policiais do 78ªDP (Fonseca) já tinham prendido oito pessoas, também por praticarem o golpe do falso empréstimo consignado. Mais uma vez, a quadrilha tinha como QG uma sala no Centro de Niterói.

A quadrilha atuava como operadora de telemarketing. O grupo telefonava para aposentados e pensionistas dizendo que as vítimas precisavam cancelar um suposto empréstimo. Com isso, eles conseguiam os dados pessoais e faziam uma concessão.

“Assim que o valor do empréstimo contratado entrava na conta da vítima, esta, normalmente idosa, era convencida a transferir via Pix para a conta da empresa, ficando os golpistas com o dinheiro e a vítima com o prejuízo”, explicou, à época, o delegado Renato Mariano.

De acordo com as investigações, os presos tinham meta de produtividade diária: R$ 20 mil.

Laranjas

Um esquema de golpe do consignado mais sofisticado, em Niterói, foi desmontado pela polícia, em março de 2022, com a prisão de quatro pessoas. A quadrilha, presa em casa, tinha como alvos aposentados e servidores públicos do Rio de Janeiro e da Bahia. Pelo menos cem pessoas foram lesadas.

O esquema envolvia a criação de empresas falsas no nome de laranjas. As vítimas eram atraídas com a promessa de grandes ganhos com investimentos no mercado financeiro. Os recursos para essas aplicações eram obtidos através de empréstimos consignados feitos pelas pessoas lesadas com orientação da quadrilha. O valor dos empréstimos era dividido e 10% do total ficavam com as vítimas, enquanto 90% eram destinado para as contas bancárias das empresas de fachada dos golpistas, que afirmavam que iriam investir o valor.

Para dar aparência de legalidade as empresas emitiam um contrato de cessão de crédito e investimento onde se encarregavam de fazer as supostas operações no mercado financeiro. Mas, como essas transações eram inexistentes, a quadrilha fechavam as portas das empresas e sumiam com o dinheiro depois do pagamento das primeiras parcelas.

Entre os laranjas utilizados pela quadrilha estava a tia de um dos criminosos, uma idosa de 80 anos com um quadro de demência grave. Ela era identificada como sócia-administradora de uma das empresas de fachada usada para a aplicação do golpe.

Os presos desse caso iriam responder pelos crimes de estelionato e associação criminosa e poderiam pegar até oito anos de prisão.

Conheça as várias “modalidades” e saiba como se proteger:

Desvio na contratação de crédito consignado

Golpista liga para vítima se passando por funcionário de um escritório/empresa para oferecer empréstimo. A proteção é nunca fornecer a terceiros ou estranhos sua senha pessoal do Portal de Consignações e nem a senha do seu e-mail pessoal cadastrado no sistema.

A proteção é não permitir que outros preencham cadastros em seu nome ou criem senhas.

Golpe na renegociação de crédito consignado

Golpista entra em contato como se fosse intermediador do banco e oferece a renovação ou portabilidade do empréstimo com redução da taxa de juros ou número de parcelas.

A proteção é não assinar documentos sem ler e entender todas cláusulas e condições do contrato, principalmente, quanto os valores das parcelas e taxas do Custo Efetivo Total (CET) praticados.

Golpe na cessão de crédito no empréstimo consignado

Golpista entra em contato com a vítima oferecendo uma proposta de cessão de crédito, que consiste em ceder parte do valor do empréstimo consignado para eles, em troca de um rendimento futuro.

A proteção é evitar a tentação de aceitar dinheiro fácil ou fazer negócios com empresas e escritórios que não tenham vínculo com seu órgão.

Falso representante

Golpista se passa por representante de várias instituições financeiras e entra em contato por telefone ou pessoalmente com servidores, pensionistas ou empregados. Oferecem crédito consignado com vantagens fora da realidade de mercado.

A proteção é pesquisar sobre a empresa ou instituição financeira que oferece o empréstimo consignado.

Golpe da ação coletiva, pecúlio ou ação judicial no crédito consignado

Golpista entra em contato, se passando por representante do órgão, funcionário de associação, empresa de previdência privada, advogado ou representante jurídico, ao qual o servidor, pensionista ou empregado está vinculado. Nesse contato com a vítima informa que há um suposto saldo de pecúlio ou valores financeiros decorrentes de ação judicial coletiva, mas que para receber este valor deverá depositar um valor em uma conta.

Proteção: A prática judicial não prevê ligações para comunicar êxito em ações na justiça. Em caso de dúvida, o recomendado é pedir ajuda a alguém de confiança ou a um advogado. É importante não aceitar pressão ou intimidação para fechar o negócio – situações desse tipo são indícios de golpe. Se algum valor tiver sido pago antecipadamente, o recomendado é procurar a polícia e registrar um boletim de ocorrência.

Contrato em branco

Golpista se aproveita da falta de atenção ou de conhecimento da vítima e a induz a assinar um contrato em branco. Ele promete verbalmente condições vantajosas para o empréstimo.

Proteção: Não assinar documentos em branco ou sem ler e entender todas cláusulas e condições do contrato, principalmente, quanto os valores das parcelas, taxas do Custo Efetivo Total (CET) praticados, prazos e o tipo de empréstimo contratado. Verificar extrato e contracheque é importante para identificar descontos indevidos.

Valor depositado indevidamente

Um valor maior cai na conta do servidor ou pensionista, que logo recebe uma ligação do golpista, dizendo que houve um erro e que a diferença entre o valor depositado e o desejado deve ser devolvida para uma conta indicada por ele. Com isso, o golpista consegue ficar com parte do dinheiro do empréstimo e deixam a vítima com uma dívida maior do que a esperada.

A proteção é fazer contato diretamente com o banco em que fez o empréstimo para esclarecimentos.

Transação ou contratação suspeita

Golpista entra em contato, se passando por funcionário do Banco e informa que foi identificada uma transação ou contratação de consignado suspeita e questiona se o servidor, pensionista ou empregado, utiliza algum equipamento para atendimento digital (computador ou celular).

A proteção é não instalar nenhum programa por solicitação de pessoa que se identifique como funcionário de banco, para permitir o acesso remoto do seu equipamento.

Golpes contra beneficiários do INSS

Atenção com abordagem de terceiros não identificados em espaços de auto atendimento e com a oferta de crédito fácil.

A proteção é não fornecer informações como nome completo, CPF, ou cópia de documentos, fotos, comprovante de renda ou de endereço para desconhecidos.

 

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