23 de novembro

Niterói por niterói

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Sergio Torres

Sergio Torres trabalhou nos três maiores jornais do país ao longo de 35 anos. Mas se interessa mesmo é pelas notícias locais de Niterói, onde nasceu e sempre viveu. 
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Alegria no Mercadão de Niterói

mercado municipal capa
O Mercado Municipal de Niterói: movimento grande nos fins de semana

 

Há 40 anos não havia no entorno da Rodoviária Roberto Silveira um mísero lugar onde um cidadão de bem pudesse fazer uma refeição. Além de cidadão de bem, eu era repórter iniciante de “O Fluminense”, jornal diário cuja sede ficava bem em frente ao terminal.

Toda hora do almoço era aquele drama. Onde ir? Os  mais calejados encaravam qualquer coisa. Vi passar diante dos meus olhos PFs horrorosos, fedorentos pedaços de carne de origem desconhecida, aves suspeitíssimas.

Tudo boiando numa banha amarelada, aquosa. Para mim era impossível comer aquilo. Já o colega Aissar Elias Jorge, o Turco, honrando sua origem tuaregue, até repetia a refeição. Uma vez pediu para o português mal ajambrado jogar o feijão que eu recusara em cima do PF dele, lotado com uma tripa ensopada de aspecto asqueroso. Cena dantesca.

Está sendo difícil até escrever sobre isso, porque aqueles maus momentos voltaram com força. É como se fosse um pesadelo que volta a te assombrar quase meio século depois. Mas é preciso avançar e, mais adiante, explico a razão.

Nos fins de semana, quando era possível, corríamos para a Feira do Nordeste, que, como já relatei nesta coluna tempos atrás, era tão descaracterizada que a barraca melhorzinha era a do Gaúcho.

Quatro décadas passadas, bem pertinho de onde funcionava a feira fajuta, a Prefeitura de Niterói inaugurou o Mercado Municipal. A um primeiro olhar, aquilo me pareceu um shopping bem cafona, especialmente no segundo pavimento, onde em um restaurante de suposta comida portuguesa fui pessimamente atendido.

Deixei para lá, não voltei mais. Até que, por circunstâncias da vida, estive no Mercadão há três meses. A impressão de praça de alimentação de shopping continua. Mas descobri no térreo, em um cantinho à direita de quem entra, o Empório Canabrava, espécie de botequim onde se serve tudo aquilo que abundava nos mafuás ao redor da rodoviária: chope, cachaça, torresmo, linguiça, salame. Só que de grande qualidade.

Virei fã do estabelecimento conduzido com simpatia e talento pelo Tião e pelo Cadu. O excelente chope vem de Guapimirim. O torresmo, de São José do Ubá, terra natal do já mencionado Tião, é, sem dúvida, o melhor que já comi. As tábuas de queijos e frios reúnem produtos artesanais raros, de fornecedores comprometidos com a excelência do paladar.

Imagino que tudo continua um horror em volta da rodoviária, pois o cenário de abandono é o mesmo de 1984 e, agora, nem “O Fluminense” funciona mais ali.

Como permaneço um cidadão de bem, recomendo a quem estiver passando pela rodoviária, com fome, dirigir-se ao Mercadão e procurar o Canabrava. Não tem errada. Não precisa nem ir ao segundo andar.

 

 

 

 

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