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Resgate amigo: voluntários combatem abandono de cães e gatos em Niterói

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Projeto ajuda na procura por um lar temporário ou definitivo, seja dando suporte com consulta veterinária, ou dando carinho, comida e água
Resgate amigo: ação de voluntários combate abandono de cães e gatos em Niterói
Cachorros resgatados em dezembro pelo projeto Resgate Amigo. Foto: Acervo Pessoal

A história do cão Dido, mascote da turma da canoa polinésia da Boa Viagem, que mobilizou Niterói, do desaparecimento do animal até o seu resgate, duas semanas depois, a 250 km de casa, em São Paulo, chamou a atenção para um problema crescente na vida das cidades: o grande números de animais nas ruas. A boa notícia é que já existem várias iniciativas  para enfrentar o abandono de cães e gatos.

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É o caso do projeto Resgate Amigo, que Evelyn Murad define em poucas palavras como: “um grupo de mulheres apaixonadas por animais, que se mobiliza para ajudar alguns que encontram pelo caminho.

A ideia é ajudar, como possível, no resgate de animais abandonados que vivem em situação de vulnerabilidade, que, algumas das vezes, podem correr o risco até de vida.

O grupo é formado por voluntárias e veterinárias que resolveram se juntar em meio a trabalhos, estudos e vida pessoal. No meio da correria, há tempo para o resgate da empatia e do espírito de equipe e a ideia de que junto se faz e se chega lá. Ou tenta se chegar, ao menos.

Leia mais: Dido, o cão da canoa polinésia, foi encontrado

O time é enxuto diante da imensidão que se propõe o trabalho. Além de Evelyn Murad, a equipe é formada por sua mãe, Glória Cardozo, que é veterinária, e Thaís Schuenck.

O Resgate Amigo começou sem muitos recursos, mas com muito afinco em 2017, quando Evelyn, junto da sua mãe, teve a ideia de resgatar um animal de cada vez – ou no máximo dois, abrigando eles onde coubesse e fosse minimamente confortável: no banheiro, no quarto… Até que, em 2019, elas enfim conseguiram um espaço maior e mais confortável para esses animais, que é onde fica o abrigo atualmente, na Alameda, no Fonseca, próximo ao viaduto.

Em 2022, o projeto ganhou força com a chegada de mais uma integrante, a Thaís, que entrou na equipe e “sacudiu tudo”.

– Ela duplicou o número de animais resgatados, doados e nos apresentou a colônia que hoje a gente ajuda e ainda deu uma força no Instagram – conta Evelyn ao A Seguir.

Cão já resgatado, no abrigo. Foto: Acervo Pessoal

Em conversa com o A Seguir, Evelyn revela como é feito o trabalho de resgate de animais, os principais riscos do abandono e alerta para uma situação que acomete os moradores de rua com frequência: tirar à força os animais deles – muitas das vezes através de ameaças feitas por pessoas com poder.

Atualmente o projeto realiza feiras de adoção, auxilia na procura por um lar temporário ou definitivo, seja dando suporte com consulta veterinária, ou dando carinho, comida e água. Aqueles interessados em ajudar a causa podem fazer doações pelo pix: (21) 99135-6363.

Confira abaixo a entrevista:

A SEGUIR: NITERÓI: O que você pensa sobre o abandono de cães na rua? Acredita que o número de animais nessa situação aumentou nos últimos tempos?

EVELYN MURAD: Fico com coração partido e com raiva. Abandonar animais é muita crueldade, eles sofrem de doenças, maus tratos, podem ser atropelados, ficam sem comer muitas vezes, ou comendo só lixo…

Acredito que o número tenha aumentado sim. Na pandemia teve muita adoção, mas quando as pessoas foram voltando às suas rotinas, muitas vezes o animal foi deixado de lado. Isso fez com que exigisse um tempo que a pessoa não tinha mais… então acredito que sim, aumentou durante os últimos anos.

Foto: Acervo Pessoal

– Como você avalia os cães que acompanham os moradores de rua?

Tem algumas questões sobre isso. Aqui em Niterói até onde eu sei não aceitam esses cães. Mas tem um planejamento para fazer. Tem gente que luta por esses canis, mas é super complicado separar esses animais e ao mesmo tempo abrigar as pessoas.

Outra coisa é que tem gente que tira a força os animais de moradores de rua. E às vezes o morador de rua tem todo o cuidado com aquele animal. Os moradores aqui perto do abrigo têm três cachorros de rua e alguns são castrados. Eles têm todo o amor do mundo pelos animais. Na campanha de vacinação gratuita eles levam os animais para vacinar. Eles já levaram para castrar no Horto. E eles já tiveram problemas quando eles chegam lá com pessoas que querem tirar os animais deles sem nenhum tipo de conversa.

Inclusive tem protetora que acredita que esses animais são de fato abandonados e simplesmente estão resgatando animais. Mas ao meu ver são dos moradores, por mais que não seja o lar ideal desse animal, nem para a pessoa é, mas são pessoas que cuidam, que tem amor por aquele animal. Às vezes a pessoa tira do que come para dar para o animal.

Pessoas que têm poder chegam para ameaçar esses moradores….

– Que tipo de ameaças são mais comuns?

Eles já tiveram mais animais. Como o abrigo fica localizado na Alameda, no Fonseca, vemos muito o abandono nos animais aqui perto, no viaduto. E vemos que eles se preocupam, vem pedir ajuda aqui. Quando os animais estão com pulga ou carrapato eles se juntam e fazem uma vaquinha para comprar remédio.

Teve um caso de um filhote que eles resgataram. Como era filhote, eles tiveram que prender numa corrente enorme e aquilo assustava as pessoas que passavam em volta achando que era algum tipo de maus-tratos. Mas se eles soltassem os filhotes, eles corriam risco de serem atropelados, eles estavam sendo acostumados ainda. E até que chegou uma pessoa com poder, ameaçando de prisão, e eles tiveram que soltar esse filhote. Dois dias depois ele foi atropelado. Eles bateram aqui na porta e a gente ajudou.

Nem para a pessoa ajudar a resgatar. Só ameaças. Nenhum tipo de conversa. Nada. Esses moradores de rua ficam preocupados dos animais serem maltratados também. Eles nem conhecem, sabe? Acredito que muitos moradores passem por isso. A pessoa não deixa nem um contato para caso aconteça alguma coisa com animal. Eu entendo. Não é o melhor cenário. Mas as pessoas também não estão no melhor cenário. Cabe conversa. Afinal, são pessoas na rua, né?

– Como é o trabalho de vocês? Como vocês fazem o resgate dos animais?

Ainda não somos uma ONG registrada, mas somos protetoras registradas na Prefeitura. Como disse, resgatamos majoritariamente gatos. Mas nós, particularmente, cuidamos de uma colônia, então já temos praticamente uma lista de espera de animais para resgatar.

Mas sempre aparecem animais pelo nosso caminho ou pedidos de ajuda. Recebemos muitos pedidos de resgate e infelizmente não conseguimos acatar todos. Mas tentamos.

Quando encontramos um animal, sempre tentamos ajudar da melhor forma possível. Seja dando carinho ou comida, água, procurando um lar temporário ou definitivo. E quando conseguimos resgatar, pegamos com gatoeira, coleira e trazemos para o abrigo. Geralmente o animal passa por uma consulta veterinária, é vermifugado e desparasitado.

Ao chegar no abrigo, o ideal é ele ser isolado dos outros por um tempo, para termos certeza de que ele não tem alguma doença transmissível, ou até para não passar pulgas e carrapatos.

Gatos já no abrigo. Foto: Acervo Pessoal

– O que observaram nos últimos tempos? Como os animais chegam para vocês? Há alguma doença/comportamento que se repete?

Geralmente chegam por pedido de ajuda, ou pelo nosso caminho mesmo. Doença que se repete não reparei. A primeira coisa que fazemos quando esses animais chegam é vermífugá-los e desparasitá-los.

– Qual a sensação ao resgatar esses animais?

Na hora do resgate ainda ficamos abaladas emocionalmente. Sinto raiva, tristeza de ver os animais naquela situação, imaginando o que sofreram… já chorei inúmeras vezes.

Mas vê-los adotados, receber fotos deles na caminha, confortáveis no seu novo lar é indescritível. É gratificante. Faz todo trabalho valer a pena. Ai é um choro de alegria.

– Qual a importância do resgate dos animais em um momento de falta de empatia como o que vivemos?

É uma questão de saúde pública, né? E acredito que há muitas frentes ajudando nessa questão. Há algumas opções para castração gratuita, campanhas de vacinação, microchipagem e feiras de adoção em parceria com protetores e empresas…
Mas, claro, é uma demanda enorme que é difícil dar conta mesmo. Parece um trabalho de formiguinha,  mas quando paramos para contabilizar isso, acredito que faça a diferença sim.

E é algo que não sabemos NÃO FAZER. A gente não consegue passar reto por um animal abandonado sem querer fazer alguma coisa, sem ajudar. Tem diversos protetores e ONG’s por ai, pessoas que resgatam um ou outro… e faz a diferença!

Cada resgate conta! Cada castração conta! Cada doação conta! Mesmo as pessoas que não conseguem resgatar, podem contribuir com protetores e ONG’s para continuar fazendo um trabalho parecido com o nosso.

Foto: Acervo Pessoal

– Como é o quadro de funcionários de vocês?

Não temos funcionários. Somos pequenos e contamos apenas com voluntários. Toco o Resgate Amigo com a Thaís Schuenck, minha amiga, e conto com o apoio veterinário dos meus pais. Além da gente, tenho mais uma pessoa que vem frequentemente limpar e cuidar dos animais.

É um trabalho totalmente voluntário. Todo gasto sai, ou do nosso bolso, ou de doações, rifas ou de projetos parceiros, como o Recicão. Inclusive estamos com uma rifa rolando agora para ajudar nos custos do abrigo.

Foto: Acervo Pessoal

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