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De tempos em tempos surgem nomes que mudam o rumo da cultura popular. Não foi diferente com o “casal segredo”, ou melhor, a dupla, Priscilla Mota e Rodrigo Negri, responsável pela coreografia da comissão de frente da campeã do Carnaval 2024. No segundo ano consecutivo à frente da Viradouro, a dupla de coreógrafos chegou com garra de campeã e otimismo de gente grande.
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O resultado premia toda a disciplina e o otimismo depositados na vermelho e branco, além de um repertório amplo cultivado no universo carnavalesco, artístico e suas interseções. Vale ressaltar que o casal de bailarinos é ainda a primeira dupla solista do Theatro Municipal do Rio.
Em entrevista ao A Seguir, a bailarina e coreógrafa Priscilla Motta revela os bastidores e fala das principais apostas na concepção artística da coreografia da Viradouro. Ela também conta quantos testes foram necessários para o grande trunfo da noite, o “truque” da serpente, e não esconde a emoção ao falar do primeiro ensaio de rua na Avenida Amaral Peixoto e da sua conexão com Niterói, onde tem família.
Priscilla e Rodrigo se consolidaram ao longo dos anos como nomes de expressão quando o assunto é coreografia. Já são 15 anos de carnaval e, durante esse tempo, o casal fez história coreografando a comissão de frente da Unidos da Tijuca em 2010.
Somam ao currículo as passagens pela Mangueira e Grande Rio, ambas também de sucesso. Juntos eles acumulam cinco campeonatos. Além da Viradouro, conquistaram três títulos pela Unidos da Tijuca (2010, 2012 e 2014) e um pela verde e rosa Mangueira (2019).
Agora, eles chegam com a missão de coreografar o desfile de celebração dos 40 anos da Marquês de Sapucaí, que abrirá o desfile das campeãs neste sábado (17). A programação conta ainda com shows de Alcione, Anitta, Zeca Pagodinho, Pretinho da Serrinha, entre atrações confirmadas, além de outras surpresas.
A SEGUIR: NITERÓI: Como recebeu a noticia do tricampeonato? Você estava acompanhando a apuração na Escola do Samba, imagino que tenha sido uma emoção só…
PRISCILLA MOTTA: Foi muito emocionante, uma alegria imensa! Eu estava lá com a escola toda. E foi a primeira apuração na Escola do Samba. Lá pelo meio da apuração, a gente já foi entendendo que ficaríamos entre os primeiros colocados. Costumo dizer que foi a conclusão de um ciclo de um trabalho vitorioso.
Esse é seu segundo ano consecutivo na Viradouro. Como chegou à escola?
Nós (eu e o Rodrigo) chegamos a Viradouro através de um convite do Marcelinho Kalil, presidente da escola na ocasião. Ele já apreciava nosso trabalho e a gente também já apreciava a Viradouro, uma escola que está no seu melhor momento. Juntou a vontade dele com a nossa e estamos lá pelo segundo ano.
Você foi bailarina do Municipal. Fale um pouco do que leva dessa experiência e de que forma ela agrega pro seu trabalho na Viradouro.
Eu e Rodrigo somos os primeiros solistas do Ballet do Theatro Municipal do Rio. Nós ainda estamos em exercício, não paramos de dançar. É até difícil conciliar as duas coisas, mas a gente dá um jeito.
Acho que a dança profissional faz com que a gente tenha bastante disciplina, tem um rigor, tanto técnico quanto artístico e a gente usa essa expertise do universo teatral pro carnaval. Acho que agrega muito.
Mas sabendo também que a experiência que a gente tem no próprio carnaval e a própria festa, todo o legado, faz com que a gente junte os dois universos e faça o nosso próprio universo e isso tem dado muito certo.
Quanto tempo foi necessário de treinamento?
A concepção durou o ano inteiro. Foram seis meses de testes para a preparação do desfile. Nós ensaiamos durante três meses.
Quais foram os principais desafios?
Acho que o principal foi pegar um enredo desse super denso e repleto de informações e possibilidades, e sintetizar numa Comissão de Frente através de duas imagens: a serpente e o arco íris. Mas o samba-enredo nos ajudou a conduzir a narrativa através do ninho da serpente.
A serpente foi um dos pontos altos do desfile. Como surgiu a ideia de colocar uma pessoa no comando e não um robô como era o esperado?
A ideia de trazer uma serpente porque Dangbé é a serpente divinizada, o vodum Dangbé. A gente trouxe a serpente também na sua forma terrena.
Foi um processo muito complexo porque a gente teve que chegar numa proporção da serpente. Não é só fazer ela andar, mas fazer com realismo, para não virar uma estrutura que não parecesse uma serpente.
Chegar na proporção e na sinuosidade foi mais difícil que dirigir ela em si. Mas dirigir sem enxergar e no tempo da música junto com as bailarinas foi muito complicado. Foram meses de ensaio para isso também.
A serpente era um skate elétrico com uma pessoa dentro dirigindo por controle remoto. Fizemos muitos testes com quatro cobras de tamanhos diferentes.
Qual caminho artístico foi escolhido para ressaltar a importância do misticismo da cobra, da mulher e das entidades protetoras?
Nós todos do projeto sentimos muita intuição. A gente sentiu por vários momentos que estávamos sendo guiados por uma energia, tanto eu, Rodrigo e o carnavalesco Tarcísio. Nós sentimos a energia desse enredo desde o início e isso nos ajudou a tomar decisões, escolher o que seria melhor fazer. Tudo foi nos guiando de uma forma intuitiva e muito orgânica.
A importância da mulher, a força da mulher, essa trajetória que a Viradouro tem com o sagrado feminino desde outros enredos nos ajuda na questão da identidade. Foi muito importante a gente retratar no desfile a força da mulher, da religiosidade e desumanizar os voduns, e todo esse imaginário que tem em torno.
Fala um pouco sobre sua relação com a cidade e como foi a sensação ao desfilar na Amaral Peixoto
A gente tem uma relação maravilhosa com Niterói. Eu e Rodrigo já fomos convidados para trabalhar na Companhia de Ballet de Niterói. O Rodrigo já coreografou duas peças. A gente tem uma relação de mais de 15 anos com a Companhia.
Temos amigos em Niterói. A irmã do Rodrigo é de Niterói, nossos sobrinhos moram lá… A cidade já faz parte da nossa vida há muito tempo. A nossa produtora, Gabriela, e o Luiz, são de Niterói.
A Amaral Peixoto é um lugar que eu me sinto muito bem, onde eu sinto a energia da comunidade, me sinto abraçada, acolhida. É uma energia muito boa fazer os ensaios de domingo.
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