Calor extremo aumenta riscos para saúde. Professora da UFF diz como se proteger

Que verão é época de temperatura alta, todos sabem. A novidade, agora, é a elevação dessa temperatura, em função dos chamados extremos climáticos. Em tempos de ondas elevadas de calor, termômetro de rua, em Niterói, bate fácil 44 graus e, no Rio, a sensação térmica tem beirado os 60 graus.

Como o calor extremo pode afetar o nosso corpo? Quais os nossos limites? Como podemos ajudar nosso corpo a nos ajudar? Essas e outra questões foram respondidas por Manuela Dolinsky. Professora Associada da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal Fluminense e diretora do Conselho Federal de Nutricionistas, é autora de vários livros, dentre eles, “Nutrição Funcional”.

Confira a entrevista: 

Como essa onda de calor tão forte afeta nosso corpo?

Manuela Dolinsky: O calor do verão pode afetar o corpo humano de diversas maneiras. É importante tomar precauções para evitar problemas relacionados ao calor excessivo. Alguns efeitos potenciais são: desidratação, insolação, exaustão pelo calor, risco cardiovascular, problemas respiratórios e problemas na pele.

Fale, por favor, sobre cada um deles.

MD: Na desidratação, temperaturas elevadas podem levar a uma maior perda de líquidos através da transpiração. Se não houver uma reposição adequada de fluidos, a desidratação pode ocorrer, causando sintomas como sede extrema, boca seca, urina escura e tonturas.

A insolação pode resultar da exposição prolongada ao calor intenso. Os sintomas incluem confusão, tonturas, pulso rápido, pele quente e seca, e, em casos graves, perda de consciência. A insolação é uma condição grave que requer atenção médica imediata.

Exaustão pelo calor é fruto de esforço físico intenso durante condições de calor extremo pode levar à exaustão pelo calor. Sintomas incluem fraqueza, fadiga, náuseas, vômitos e aumento da frequência cardíaca. É importante descansar, se hidratar e procurar um local mais fresco ao primeiro sinal de exaustão pelo calor.

As ondas de calor podem aumentar o risco de problemas cardiovasculares, especialmente em pessoas mais velhas ou com condições médicas preexistentes. O calor coloca estresse adicional no coração, o que pode levar a complicações para aqueles com problemas cardíacos.

O ar quente e seco pode agravar problemas respiratórios, como asma e doenças pulmonares. Pessoas com condições respiratórias devem evitar a exposição prolongada ao calor e permanecer em ambientes frescos e bem ventilados.

A exposição excessiva ao sol pode causar queimaduras solares, envelhecimento prematuro da pele e aumentar o risco de câncer de pele. O uso de protetor solar e a busca de sombra são importantes para proteger a pele durante períodos de calor intenso.

Para proteger-se durante ondas de calor, é fundamental manter-se bem hidratado, evitar atividades físicas intensas durante os períodos mais quentes do dia, vestir roupas leves e claras e procurar locais frescos e sombreados sempre que possível. Pessoas vulneráveis, como idosos e aquelas com condições de saúde pré-existentes, devem ser especialmente cuidadosas durante condições climáticas extremas. 

Qual o limite do nosso corpo?

MD: Perdemos diariamente cerca de 1500ml de água por evaporação sem perceber. Em altas temperaturas essa perda aumenta bastante, podendo chegar a mais de 2 litros.  Portanto, isso precisa ser reposto.

Como podemos nos ajudar e ajudar nosso corpo a suportar o calor?

Para ajudar o nosso corpo a suportar ondas intensas de calor, é importante adotar algumas estratégias, como:

Hidratação adequada: Beba bastante água ao longo do dia, mesmo se não estiver com sede. Evite bebidas com cafeína e álcool, pois podem aumentar a desidratação. Alimentos ricos em água, como frutas e vegetais, também podem contribuir para a hidratação.

Vestuário adequado: Use roupas leves, soltas e de cores claras, que refletem a luz solar em vez de absorvê-la. Isso ajuda a manter o corpo mais fresco. Um chapéu de abas largas e óculos de sol também são úteis para proteger a cabeça e os olhos.

Evitar atividades extenuantes: Tente evitar atividades físicas intensas durante os períodos mais quentes do dia, geralmente entre as 10h e às 16h. Se precisar realizar exercícios, faça-os nas horas mais frescas da manhã ou no final da tarde.

Proteção solar: Use protetor solar com fator de proteção adequado para evitar queimaduras solares. Aplique-o generosamente e reaplique conforme necessário, especialmente após nadar ou suar.

Permanecer em locais frescos: Procure ambientes com ar-condicionado ou utilize ventiladores. Se não tiver acesso a esses recursos, permaneça em lugares sombreados e bem ventilados. Evite permanecer em ambientes fechados sem ventilação adequada.

Resfriamento do corpo: Tome banhos frios, use toalhas úmidas e ventiladores para ajudar a reduzir a temperatura corporal. Evite banhos muito frios, pois podem causar choque térmico.

Monitorar grupos de risco: Esteja especialmente atento às pessoas mais vulneráveis, como idosos, crianças, gestantes e aquelas com condições médicas preexistentes. Eles podem ser mais suscetíveis aos efeitos adversos das altas temperaturas.

Planejamento antecipado: Esteja ciente das previsões meteorológicas e planeje suas atividades de acordo. Se possível, antecipe-se ao calor, tomando medidas preventivas antes de uma onda de calor intensa.

Alimentação saudável: Opte por refeições leves e frescas, como saladas e frutas. Evite refeições pesadas e quentes, que podem aumentar a temperatura corporal.

Manter contato com profissionais de saúde: Se você ou alguém próximo sentir sintomas relacionados ao calor, como tonturas, fraqueza ou confusão, procure ajuda médica imediatamente.

Seguir essas estratégias pode ajudar a minimizar os riscos associados a ondas intensas de calor e a manter o corpo humano saudável durante condições climáticas extremas. 

Existem alimentos que ajudam a refrescar e esquentar o corpo?

MD: Alimentos como frutas, verduras e legumes são ricos em água e alguns eletrólitos, além de não demandarem ainda mais líquidos para a sua digestão, ajudando na hidratação final. Refeições pesadas (como frituras, ricas em gorduras e de difícil digestão) tendem a aumentar a sensação de calor e acabam demandando ainda mais líquidos para a sua digestão, alterando a hidratação final.

Verdades e mito da hidratação. Foto: reproduçãoHidratação: o que é verdadeiro e o que é mito em relação a beber X litros de água por dia?

MD: Verdades:

• A necessidade varia: A quantidade de água que uma pessoa precisa pode variar dependendo de vários fatores, como peso, idade, nível de atividade física e saúde geral.
• Sinais de desidratação: Sentir sede é um sinal claro de que você precisa beber água. A urina também pode ser um sinal, quando se apresentar muito amarela, a boa hidratação está relacionada com uma diurese constante e a urina com amarelo bem claro.
• Atividade física aumenta a necessidade: Quando você pratica exercícios, sua necessidade de água aumenta para compensar a perda de líquidos através do suor.

Mitos

• 8 copos de água por dia: Não há uma quantidade única de água que seja apropriada para todos. A antiga recomendação de “8 copos de água por dia” não é baseada em evidências científicas sólidas.
• Todo líquido conta: Embora a maioria dos líquidos contribua para a hidratação, algumas bebidas, como aquelas com cafeína ou álcool, podem ter um efeito diurético, levando à perda de mais líquidos do que são consumidos.

A melhor maneira de determinar suas necessidades de hidratação é prestar atenção ao seu corpo, ajustando sua ingestão de água conforme necessário. Se você tem preocupações específicas sobre sua hidratação, é sempre aconselhável consultar um nutricionista para orientação personalizada.

Faz diferença beber água gelada ou água apenas fresca?

MD: Na hidratação não irá fazer diferença a temperatura da água, mas altera a sensação de sede e de alívio do calor. 

Qualquer fruta tá valendo?

MD: Sim, todas as frutas contribuem para a hidratação. Contudo, aquelas que possuem maior quantidade de água (melancia, melão, caju, uva, entre outras) podem ser ainda mais refrescantes.