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A educação deve ser responsável por estimular as crianças a darem valor ao seu território

Por Luiza Sassi
| aseguirniteroi@gmail.com

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“Niterói é currículo”, afirma a diretora do colégio GayLussac, Luiza Sassi, em artigo para o A Seguir sobre o Censo e a importância de conhecer a cidade
Juiz determina que Niterói disponibilize professores de apoio a alunos com deficiência. Foto: escola crianças sala de aula Fotos: Douglas Macedo
Conhecimento e pertencimento, na formação do cidadão. Foto: Amanda Ares

Qual é o sentido de se ter amor a sua terra natal? O que pode contribuir para a formação cidadã de uma criança no projeto educativo que promove conexão das crianças com sua cidade? Por que devemos dar sentido ao espaço em que nascemos e crescemos?

Sabendo que uma das funções educacionais é proporcionar o reconhecimento do sujeito no mundo do qual faz parte, criar o sentimento de pertencimento ao local no qual nasceu – no seu território – precisa ser valorizado e desenvolvido de modo sistemático na escola.

Para tratar desse assunto, precisamos compreender que toda a base dessa questão se encontra no currículo, que vai situando a criança no tempo e no espaço, através do ensino de História e Geografia. E é responsabilidade da escola estar atenta a formar seus cidadãos para que tenham uma vida em sociedade de modo participativo. Para isso, articular o currículo com a vida e um dos objetivos da escola.

E como isso ocorre na escola? As crianças para que compreendam conceitos até os 10-11 anos precisam sempre que possível estar amparadas de recursos concretos. Todo o processo de simbolização e de abstração na criança vai se desenvolvendo aos poucos, e a escola deve oferecer amparo para favorecer que a aprendizagem ocorra de modo significativo. Esse princípio é baseado no educador francês Celestin Freinet, que nos ensina o valor da afetividade como ponto fundamental no processo de aprendizagem. Para ele, a afetividade possibilita a ligação entre as pessoas e o objeto de conhecimento.

Niterói é currículo. Por isso a utilização da didática de visita aos locais da cidade proporciona experiências reais imprescindíveis para que o aprendizado faça compreensão e crie sentido. Idas às regiões, aos patrimônios históricos, às praias, às ruas, aos museus, aos templos históricos, às fortalezas e todos os ambientes que possam gerar aprendizado.

As crianças devem se apropriar de sua cidade e compreendê-la de modo profundo. Foi assim que um grupo de alunos descobriu, estudando os bustos existentes, que a cidade não possuía nenhum busto feminino. Isso gerou uma pesquisa das crianças sobre nomes de mulheres que foram importantes para Niterói, criaram esses bustos em representações artísticas em 3D nas aulas de artes e levaram à Câmera dos Vereadores sugerindo que a cidade incluísse uma mulher a ser homenageada. Isso demonstra que o estudo pode gerar uma visão de demanda de melhoria e, consequentemente uma compreensão de que Niterói é de todos nós e por isso devemos amá-la e cuidá-la.

No currículo de História e Geografia do 4º ano do Ensino Fundamental, isso se apresenta tecnicamente, a partir de suas relações espaço-temporais, considerando a vivência do aluno no processo de construção do conhecimento.

Portanto, conhecer a cidade de Niterói passa a ser um dos objetivos educacionais da escola e utilizamos os espaços da cidade para que as aulas possam acontecer para além da sala de aula.

Em relação à História, fazemos um mergulho através dos tempos a partir da análise dos três períodos históricos: Colônia, Império e República. A caracterização dessas épocas é o eixo norteador da análise para as crianças. E são discutidas as formas de organização espacial, as modificações introduzidas pelas administrações e o cotidiano da população. Assim, as crianças vão construindo a noção do tempo, que é tão abstrata, mas que se revela com as transformações da própria cidade.

No caso da Geografia temos como eixo a divisão administrativa do Município e realizamos aulas-passeios em todos os bairros da cidade para que haja uma compreensão das características de cada local. Desse modo as crianças compreendem a ocupação do espaço da cidade e também as características das atividades econômicas. Tudo amparado por atividades concretas, in loco, para que os alunos possam viver e aprender sobre a cidade de modo lúdico. A exemplo, visitam comércio, padarias, e chegam a acompanhar todo o processo de produção do pão. Assim, podem entender o que é uma atividade econômica de modo concreto.

Considerando que uma das principais funções da educação é a humanização e que deve estar de mãos dadas com os objetivos acadêmicos, o estudo sobre a cidade é um canal de afetividade que liga pessoas ao objeto de conhecimento, criando amor às raízes de onde nasceu, de onde vive para que possa, a partir daí, olhar o mundo. Isso é a base de uma educação crítica, criativa e que promove o conhecimento com sentido para vida. Por isso a educação deve ser responsável por estimular as crianças a darem valor e criar amor pelo seu território.

Luiza Sassi é educadora, diretora do Colégio GayLussac e integrante da Academia de Letras de Niterói

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