26 de dezembro

Niterói por niterói

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Luiz Cláudio Latgé

Jornalista, documentarista, cronista, atuou na TV Globo por 30 anos, como repórter, editor, diretor. Consultor em estratégia de comunicação, mora em Niterói e costuma ser visto no Mercado de São Pedro.
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Para onde foi todo mundo?

Ponte Rio-Niterói
Censo mostra que população de Niterói diminuiu. Será que foram todos para Maricá?

Senti falta do Pedro, da Márcia, do Silva do posto de gasolina… Tem gente que sumiu faz tempo, não sei por onde andarão. Mas não imaginei que tivessem ido embora, como mostrou o Censo 20/22. Até o IBGE levou um susto. O Brasil está crescendo num ritmo mais lento, sem muito jeito de país do futuro. E o pessoal cansou um pouco das grandes cidade, está procurando cidades menores, foram as que mais cresceram. A população de Niterói diminuiu, num país em que nos acostumamos a ver tudo aumentar… Estão presos no engarrafamento? Ou será que foi todo mundo para Maricá?

Não dá mais para zoar de Maricá, como fez o prefeito do Rio Eduardo Paes, naquela conversa com Lula: “ninguém quer ir para Maricá.” Agora o censo mostrou que muita gente quis ir para lá. Pode ser por causa dos royalties. Maricá é a cidade que mais arrecada com o petróleo do Pré-Sal, quase R$ 5 bilhões por ano, um dinheiro surgido depois do último censo. Pois o dinheiro mudou a cara da cidade, com saneamento, saúde, educação. E transporte grátis. A cidade hoje vive um boom imobiliário e tem projetos de turismo, como a construção de um resort de luxo.

O caminho da Região dos Lagos, aliás, já não tem aquela cara que tinha nos livros de história que falavam das salinas, a maior riqueza de Araruama e Cabo Frio. Os livros mostravam um moinho na beira dos tanques. Aquele eixo da BR 101 não é só o pior engarrafamento de feriados e fins de semana do verão; é também uma espécie de caminho para Houston, a capital americana do petróleo. Saquarema, Cabo Frio, Arraial e Rio das Ostras também recebem royalties e concentram atividades de apoio à exploração do petróleo. Está na hora de mudar a foto dos livros.

São cidades menores e mais tranquilas. Muita gente procurou novo endereço depois da pandemia e a possibilidade de trabalho on line. Cidades de médio porte seduzem com menos estresse e, no caso, com a vista para o mar, proibitiva no Rio e arredores. É provável que encontre alguns dos meus vizinhos desaparecidos por aqueles lados. Alguns sei que se refugiram em Búzios.

Campos é outra surpresa, depois da longa decadência da pecuária e do açúcar e do álcool, revivida pelo Pré-Sal. São 520 mil moradores e o passe para entrar no ranking das cinco maiores cidades do estado do Rio, desbancando Niterói do posto.

Agora é esperar as melhorias que vamos experimentar em Niterói com a redução da população. Será que a turma que saiu levou os carros? Vão melhorar os engarrafamentos? Ou vamos voltar a ser apenas um lugar de passagem para os motoristas que pegam o caminho para a Região dos Lagos: ‘Niterói, conheço, passei por lá a caminho de Cabo Frio.’ ‘Não? Era São Gonçalo…’

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