22 de dezembro

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Silvia Fonseca

Silvia Fonseca é jornalista e trabalhou por 30 anos no jornal O GLOBO, onde foi Editora Executiva. Tem pós em Gestão de Redação, tem uma consultoria em soluções de mídia e é sócia fundadora do A Seguir: Niterói. Nasceu em Minas, mas mora em Niterói há 32 anos.
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Covid puxa o Brasil (e Niterói) para trás

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A desigualdade, um retrato do Brasil que praticamente parou de crescer. Foto Gustavo Stephan

O Brasil saía da Guerra do Paraguai. Naquele longínguo ano de 1872, o país contava pela primeira vez sua população. Dom Pedro II reinava, as distâncias eram percorridas a cavalo, e escravos eram comercializados no campo e nas cidades. O que isso tem a ver com 2023? O Censo divulgado nesta quarta-feira registrou taxa média de crescimento anual da população de 0,52%. Foi a mais baixa desde 1872. E isso não é pouca coisa.

São tantas as transformações pelas quais a sociedade brasileira passou desde então que seria impossível enumerá-las aqui. Assim como são tantos os motivos pelos quais o país ainda sofre com as consequências da escravidão, do racismo e da desigualdade (social, econômica, cultural, educacional, racial…) No caso dos últimos quatro anos, porém, é inegável o impacto da pandemia de Covid no freio imposto ao crescimento do número de brasileiros.

Quatro anos após o começo da pandemia de Covid, a cada dia fica mais claro que a tragédia foi muito maior do que tudo o que já sabíamos e sentimos. Por omissão das autoridades, pela desinformação, pelo tamanho da população e pelo território de dimensões continentais, somamos mais de 700 mil mortos desde 2020 exclusivamente pela Covid.

Isso se contarmos apenas os números oficiais. Estima-se que outros cerca de 1 milhão de pessoas morreram por falta de atendimento médico e sobrecarga de todo o sistema de saúde no país durante a pandemia. Outros tantos brasileiros deixaram de nascer, com planos de famílias adiados em meio ao inferno da Covid. Tudo isso, somos hoje 203 milhões de habitantes, com crescimento de apenas 0,52% por ano desde 2010.

Aqui cabe um parêntese: o Censo é realizado de dez em dez anos, para ser usado na atualização e na promoção de políticas públicas, mas o governo Bolsonaro fez de tudo para adiar e conseguiu. Por isso os dados só estão sendo conhecidos agora, 12 anos após o último levantamento. Saber quem são e como vivem os brasileiros para quê? Coisa de comunista! Mas o fato é que o Censo atrasado mostra outro atraso, entre tantos registrados nos anos Bolsonaro.

Somos menos do que podíamos ser porque morremos mais. E nascemos menos. São tragédias dentro da tragédia. Empacamos à custa de muita dor.

No caso de Niterói, a população da cidade diminuiu. Vivem aqui hoje 481.758 pessoas, ou 5.804 a menos do que em 2010. Somente no período da pandemia, de 2020 para cá, Niterói teve mais de 3 mil mortes registradas por Covid. Some-se a elas outras tantas decorrentes da sobrecarga nos hospitais no auge da pandemia, além das famílias que adiaram o nascimento de filhos por causa da Covid.

É herança maldita demais. O Brasil precisa se vacinar contra a desigualdade e a ignorância para crescer.

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