23 de novembro

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Brechós de móveis resistem na rua Visconde de Itaboraí, no Centro de Niterói

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Nos áureos tempos, nos anos de 1980-1990, existiam cerca de 20 lojas, ao longo da rua. Agora, restam sete, sendo algumas bem pequenas
brechó de móveis 1
A loja da família Schuindt foi a pioneira na região. Fotos: Sônia Apolinário

Na rua Visconde de Itaboraí, no Centro de Niterói, um comércio tradicional da cidade resiste: os brechós de móveis. Nos áureos tempos, nos anos de 1980-1990, existiam cerca de 20 grandes lojas, ao longo da rua. Agora, restam sete, sendo algumas bem pequenas.

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A que fica no número 259 foi a pioneira, que acabou atraindo todas as outras e, por tabela, criando a “região dos antiquários” da cidade. Ainda pertence à mesma família, apesar da aposentadoria do sr. Rubens Schuindt, que começou o negócio. Hoje, aos 90 anos, ele mora em Casimiro de Abreu (RJ).

Seu irmão Silvio Altimério Schuindt, que já foi sócio da loja, e também está aposentado, às vezes dá uma passadinha por lá. Aos 78 anos, morador de Icaraí, foi ele quem contou ao A Seguir, porque os brechós de móveis, afinal, se instalaram na Visconde de Itaboraí.

– Um amigo do meu irmão, que vendia antiguidades perto da rodoviária de Niterói, o incentivou a abrir um negócio pelo Centro. Ele já tinha uma loja, mas em Casimiro de Abreu. Ele gostou da ideia e veio. Isso foi em 1976. Naquela época, essa região do Centro tinha bastante movimento. Ele se instalou na Visconde de Itaboraí porque foi onde encontrou uma loja boa, disponível. O negócio deu certo e foi crescendo. O movimento atraiu a atenção de outros comerciantes – contou Silvio, que chegou a ter também sua própria loja, na região.

Agora, é seu irmão caçula, Elmo Jr., quem cuida do estabelecimento dos Schuindt.

Garimpo

Ser uma empresa de administração familiar é algo em comum entre esses brechós de móveis do Centro de Niterói. Existe, porém, mais uma coisa em comum – a profusão de peças, umas sobre as outras, no interior do estabelecimento, que exige olhar atento e muita calma, na hora de fazer o “garimpo”.

Daniel Veríssimo abriu sua loja pertinho do estabelecimento dos Schuindt, onde trabalhou por muitos anos.

Dono da loja no número 255, Daniel Veríssimo explicou que é a falta de espaço que faz com que os antiquários tenham essa “arrumação”.  Afinal, são muitos itens, alguns bem grandes como armários e cristaleiras.

Morador de São Gonçalo, ele montou a Seven Som e Móveis, no Centro de Niterói, em 2007. Isso depois de trabalhar muitos anos com o tio Rubens Schuindt. Começou aos 15 anos, como office-boy, até que virou vendedor e dono do próprio negócio.

Seu irmão Gilson, que também trabalhou com a família Schuindt, chegou a ter uma loja de móveis usados, no número 238. Quando o movimento do bairro começou a diminuir, ele preferiu mudar de ramo e fechou o antiquário. Naquela época, os irmãos trabalhavam juntos, mas Daniel partiu para seu próprio canto, ao invés de herdar o estabelecimento de Gilson.

– De uma maneira geral, o mercado de móveis usados está bem parado. A pandemia foi o golpe final para várias lojas. Eu só não quebrei naquela época porque a proprietária da loja foi uma mãe para mim – afirmou Daniel.

No point

Vizinho de parede dos Schuindt, Ramon Campos tem a loja no número 263 há 5 anos, apesar de ter seu negócio de móveis usados desde 1993. Antes, funcionava em outro endereço, mas preferiu se mudar para a “rua dos brechós” assim que teve uma oportunidade.

Ramon Campos se mudou para a Visconde de Itaboraí por conta da tradição da rua na venda de móveis usados.

Afinal, a tradição desse tipo de comércio ainda atrai para a Visconde de Itaboraí quem está em busca de móveis ou peças de decoração de segunda mão – mesmo que, ao caminhar ao longo da rua, o mais comum seja avistar lojas fechadas.

E quem é esse público? Segundo Ramon, casais jovens montando primeira casa; casais de mais idade que têm uma segunda residência, geralmente, na serra, além de arquitetos e decoradores.

Os itens que ele prefere comprar para a sua loja Opção, por serem mais fáceis de vender, são cômoda e guarda-roupa, que custam, em média, R$ 700. Nos últimos tempos, porém, a maior procura, na sua loja, sido por móveis e material de escritório. Isso em função da pandemia do Coronavírus, quando aumentou o número de pessoas trabalhando de casa.

Buscar o móvel que o cliente quer vender, avaliar no próprio local, montar e desmontar, entregar o que for comprado, tudo isso faz parte não só da rotina de Ramon, como de todos os seus concorrentes.

Corrigindo. De acordo com Daniel Veríssimo, os donos de antiquários do Centro de Niterói são todos amigos e não concorrentes. Isso é possível, segundo ele, por conta principalmente de um detalhe: ninguém vende uma única peça igual.

Ele, por exemplo, adora ter na sua loja aparelhos de som e TV antigos, o que não o impede de também ter cristaleiras (onipresentes nos antiquários), quadros, sofás e cadeiras. Atualmente, sua peça mais cara é um armário de R$ 4 mil.

– As pessoas não estão necessariamente em busca de coisas baratas, mas de coisas boas. Há um reconhecimento cada vez maior no valor de um design antigo – observou Daniel.

Já Silvio Schuindt tem uma percepção um pouco diferente. Na sua opinião, até por volta dos anos 2000, as pessoas buscavam o objeto de qualidade. Depois, o que passou a valer, mesmo foi o preço. Principalmente em relação aos móveis.

– Os móveis usados bons, de madeira maciça, foram ficando para trás  até por conta do tamanho dos apartamentos que ficaram cada vez menores. Esses móveis nem cabem no imóvel. Da nossa parte, as lojas não se modernizaram. O comércio do Centro estagnou e o movimento de pessoas diminuiu bastante. Atualmente, dá 17h, dá medo de ficar na rua. Tudo começa a fechar. Antes, íamos até às 19h com a loja aberta. Nesses anos todos, nunca fizeram nada pelo Centro. Perto da rodoviária é um abandono geral – reclamou Silvio.

Unicórnio

Muitos itens do Brechó Nikiti ficam expostos na calçada.

Na outra ponta da Visconde de Itaboraí, no número 423, Alexandre Dias vende ervas, além de um tudo de segunda mão – de cadeira de rodas a lustres, passando por poltronas, ventiladores, bonecas ou cristaleiras, é claro. Ele costuma comprar “de porteira fechada” casas e apartamentos.

O seu Brechó Nikiti é tão abarrotado de produtos que entrar é um desafio. Muita coisa fica pela calçada, mesmo. Ele também acha que o movimento está mais fraco, atualmente. Pelo menos, no que diz respeito a pessoas transitando pela rua. Porém, seu grupo de clientes “fiéis” seguem fazendo aquisições.

– Às vezes, uma peça nem chega na loja. Quando eu vou comprar, fotografo e envio a foto para quem eu sei que está em busca de alguma coisa e, geralmente, vendo – disse.

De acordo com Alexandre, quando se trata de comprar móveis ou objetos de decoração usados, a melhor coisa é, de tempos em tempos, dar uma passada pela rua, para ver as “novidades”. Porque, quanto menos se espera, é possível dar de cara com um “unicórnio”, como ele diz:

– É possível que você tenha saído de casa sem intenção de comprar nada em especial, naquele dia. Geralmente, é quando aparece um unicórnio, então, não dá pra deixar a oportunidade passar. Costumam ser as melhores compras das pessoas. Fico feliz quando alguém fala que encontrou uma peça com a qual vinha sonhando.

 

 

 

 

 

 

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