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No alto do Parque da Cidade, local que oferece uma das vistas mais privilegiadas da cidade, é possível se deparar com uma criatura esbelta, de grande estatura, que escapa à paisagem natural do local. Ele é capaz de antecipar desastres e tomar notas precisas. Moderno, chama a atenção pela sua grandiosidade e sua capacidade de identificar nuances antes jamais vistas em território nacional. Estamos falando do novo radar meteorológico, importado da Alemanha e instalado há um mês no Parque da Cidade, em São Francisco, Niterói.
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O radar é capaz de identificar, em tempo real, as áreas onde a chuva pode cair com mais intensidade. Possibilita também que municípios vizinhos, dentro da área de abrangência, realizem o monitoramento.
O A Seguir foi ao local nesta última quarta-feira (5), acompanhado do secretário de Defesa Civil e Geotecnia, o tenente coronel Walace Medeiros, para conferir o que o equipamento, que possui cobertura com raio de 100 km, tem a oferecer. No momento, o radar está funcionando em operação assistida, o que significa dizer que há um acompanhamento técnico, em curso, para possíveis ajustes e reparos.
– O radar consegue identificar a capacidade estimativa de chuva antes mesmo dela cair no solo e permite avaliar o potencial dela, além de aferir o índice de deslizamento e alagamento. Com isso, a gente consegue antecipar a ocorrência em cerca de 45 minutos e emitir um alerta para a população. Antes do radar a gente esperava a chuva bater no solo, cair no pluviômetro para só então ele mandar para a gente o quanto estava chovendo – explica o secretário de Defesa Civil.
Capacidade de resposta
Um dos grandes diferencias do radar é que além de identificar pontos de umidade, ele consegue antecipar os locais onde irá chover com mais intensidade e, com isso, ter uma ação de resposta mais rápida por parte da Secretaria de Defesa Civil que, por sua vez, aciona os Núcleos Comunitários de Defesa Civil (Nudecs) que estarão mais próximos dos locais das ocorrências.
Alta tecnologia
O radar, de alta definição, é o primeiro com esse nível de precisão do Brasil. O modelo de Banda X significa que ele tem uma frequência maior e, portanto, uma resolução mais alta.
O equipamento faz uma leitura da nuvem tanto vertical quanto horizontal. A leitura vertical permite a verificação da temperatura da nuvem, da capacidade de chuva e se há potencial ou não para cair granizo. De acordo com Alexandre Dias, dono da empresa que ganhou a licitação, é possível fazer uma classificação dos hidrometeoros (chuva, granizo, etc), coisa rara no país.
– O radar precisa de alvo, de gotas. Se a condição meteorológica for um ar limpo, ele, naturalmente, não vai mostrar nada, mesmo que esteja ventando. O vento é uma medida indireta dos movimentos das gotas, dos alvos. O que acontece é que o radar emite uma onda eletromagnética que bate na gota e retorna. Esse retorno é medido pelo radar, o que torna possível a identificação de eventos climáticos extremos – destaca Alexandre.
No teste inicial do radar, por exemplo, foi identificado um potencial de granizo no bairro de Anchieta no Rio de Janeiro.
Como funciona
O radar fica numa estação remota, ou seja, tudo que é captado de imagem é transmitido em tempo real para o Centro de Monitoramento da Defesa Civil, localizado na sede da Prefeitura de Niterói.
Ausência da área de sombra
Até o momento o monitoramento meteorológico de Niterói era feito com o radar do Sumaré, no Alto da Boa Vista, no Rio de Janeiro, que possui uma área de sombra que pega boa parte do município e da Região dos Lagos. As informações complementares vinham de outras três estações meteorológicas, no Parque das Águas, no Centro e em Charitas e Piratininga. Agora, com esse radar é possível ter uma visão completa da cidade e mais precisa.
Outros municípios
A ideia é que outros municípios, em especial, os vizinhos, tenham acesso aos dados internos, para aferir o nível de chuva, identificar a velocidade dos ventos, a complexidade do temporal, ou até mesmo uma chuva de granizo, por exemplo. Para isso, os municípios devem firmar um termo de cooperação técnica com Niterói.
Plataforma
Em breve, a ideia é disponibilizar no próprio site da Defesa Civil de Niterói uma plataforma para que os usuários possam ver as condições meteorológicas com mais precisão. Em um segundo momento, o acesso, embora diferente devido ao nível técnico necessário para a leitura dos dados, será disponibilizado também no aplicativo da Defesa Civil. Já os outros municípios, centros de pesquisas e universidades que fecharem o acordo do termo de cooperação terão um acesso próprio com dados ainda mais técnicos, para que possam monitorar com mais amplitude.
Ciclone bomba
Diferente do que se imaginava, o alerta do ciclone bomba do último fim de semana em Niterói caiu por terra. Na verdade, o ciclone perdeu a força no caminho e acabou provocando uma ressaca forte, a maior do ano, em Niterói e no estado do Rio como um todo. Geralmente alerta dessa natureza é dado pela Marinha, que após chegar na Defesa Civil, articula com outras informações.
A Marinha é responsável, naturalmente, por emitir o alerta de ressaca. O que a Secretaria de Defesa Civil faz é articular essas informações e complementar com outras identificadas pelo seu Centro de Monitoramento. Já o INEA é responsável por emitir alerta da cheia do rio e as condições de balneabilidade.
Trabalho em conjunto
Os fenômenos naturais estão cada vez mais intensos. Niterói está dentro desse contexto. Os núcleos de chuvas têm passado muito por aqui. Por isso, a importância da tecnologia de aprimoramento que, em conjunto com o trabalho técnico, torna-se possível identificar as áreas de maiores riscos, a execução de obras e a participação da comunidade no processo, que conta com 2.700 voluntários das Nudecs. Essas pessoas têm um contato constante com a Secretaria de Defesa Civil, o que aumenta a capilaridade e a gestão emergencial da ocorrência, antecipando problemas e tomando medidas preventivas.
– A Defesa Civil é como um grande hub de informações emergenciais, um centro de inteligência. Geralmente a gente capta informações do Instituto de Meteorologia Nacional, da Marinha, Centro de Monitoramento de Alertas e Desastres. A gente recebe, faz um filtro e transforma a informação textual em um gráfico, por exemplo. O cidadão precisa confiar nos dados que eles têm acesso, por isso o trabalho deve ser muito preciso. O grande trabalho é a comunicação com o público, para que chegue de forma palpável.
Qualidade do ar
Outra novidade é a aquisição de estações de monitoramento da qualidade do ar, fundamental para pautar políticas públicas baseadas em dados.
O investimento
Até o momento foram investidos R$ 600 milhões em obras de contenção e drenagem de encostas desde 2013. Agora, como parte do plano, serão mais R$ 302 milhões.
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