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Repolho, berinjela, couve, rúcula, rabanete e alface são alguns dos produtos que moradores de Maricá podem colher e levar para casa, de graça. Basta dar um pulinho em uma das cinco praças onde foram implantados os jardins comestíveis, da cidade. Em breve, outros quatro serão inaugurados.
O que há pouco menos de três anos foi encarado como uma ideia maluca, hoje, é uma realidade celebrada, no município vizinho. É também uma das pontas de um projeto maior de segurança alimentar da cidade.
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Não por acaso, Maricá foi convidada, no início de março, a aderir à Declaração das Cidades Circulares da América Latina e do Caribe, um documento chancelado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Na prática, os municípios participantes se comprometem a promover e acelerar sua transição de economia circular, algo que Maricá já pratica.
Entre os dias 11 a 14 de abril, uma comitiva da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Laboratório Urbano de Políticas Públicas Alimentares (LUPPA) visita a cidade para conhecer seus projetos de segurança alimentar. O LUPPA é uma plataforma colaborativa para facilitar a construção de políticas alimentares municipais integradas. Niterói recebe monitorias do Laboratório.
A visita vai resultar em um material a ser apresentado no projeto “Cidades e Alimentação: Governança e Boas Práticas para Alavancar os Sistemas Alimentares Urbanos Circulares”, uma troca de experiências entre cidades do Brasil e da União Europeia.
Pelo Brasil, além de Maricá, vão participar as cidades de Santarém (PA), Rio Branco (AC), Curitiba (PR), Recife (PE). Já os representantes da Europa são Bruxelas e Gante (Bélgica), Valencia (Espanha), Turim (Itália) e Montpellier (França). Em junho está previsto um encontro na Europa.
E pensar que o projeto de Maricá teve como inspiração o exemplo de uma cidade alemã. Assessora de projetos sustentáveis da Secretaria municipal de Agricultura, Pecuária e Pesca, a engenheira ambiental Mayara Guimarães conta que a ideia dos jardins comestíveis foi “importada” pelo ex-titular da pasta, Julio Carolino.
– Em Berlim, os moradores transformaram um aeroporto desativado em horta comunitária. Quando Julio voltou para a cidade, apresentou a ideia de transformar qualquer cantinho disponível em horta. De imediato, ele sugeriu a praça de Araçatiba, que era uma rotatória. Na época, todo mundo achou que ele tinha ficado maluco – conta Mayara.
Quando a ideia da horta foi lançada, se discutia uma remodelação para a praça e os moradores queriam um parque, no local. A solução foi fazer as duas coisas, sendo que o futuro primeiro jardim comestível ganhou uma área maior onde foram construídos 36 canteiros.
Só em Araçatiba, são realizadas duas colheitas, com um total de 500 unidades de diversos produtos, por mês. As datas são divulgadas pela Prefeitura e varia em função do plantio. Por lá crescem, por exemplo, rúcula, rabanete, alface e manjericão.
Em janeiro, teve “feira” em outra praça com jardim comestível, no Parque Nanci, quando foi realizada a primeira colheita de 2023. Os moradores levaram para casa repolho, mostarda, berinjela, cebolinha, couve e salsinha.
Após cada colheita, os técnicos agrícolas dos jardins plantam produtos diferentes, para promover um rodízio de culturas, técnica utilizada para manter a qualidade do solo. Toda a produção é feita sem uso de agrotóxico. As outras praças que têm jardins comestíveis em Maricá são Guaratiba, Itabepa e Marine (no bairro de São José do Imbassai).
– A horta é um novo conceito de plantar em pequenas áreas. Temos o jardim comestível, que suplanta o jardim ornamental, que enfeita nossos olhos e tem atraído pessoas de todo o mundo a Maricá. Ele alimenta os olhos e o estômago – comenta Julio Carolino, atualmente, ocupante de uma cadeira na Câmara Municipal da cidade.
Quando se fala em pequenas áreas, não é exagero. O canteiro inaugurado mais recentemente, mede 2m X 2m e fica na própria sede da prefeitura.
– Ali estamos plantando ervas como hortelã e capim limão. O canteiro se tornou o xodó do prefeito (que se chama Fabiano Horta). Agora, ele bebe chá praticamente todos os dias, feito com as ervas do canteiro – informa Mayara.
A praça de Araçatiba, além de ter sido a primeira a ter o jardim comestível, tem o maior deles, na cidade. No início, os canteiros chegaram a ser vandalizados. Mayara explica que, para resolver o problema, a prefeitura cercou a praça com vidro, para que a produção ficasse protegida, mas se mantivesse à vista dos moradores.
Na praça, também acontece, aos sábados, troca de sementes e oficinas de cultivo de hortas em pequenos espaços. Atualmente, Araçatiba é palco de outro projeto que está sendo implantado: a compostagem.
Ao contrário da colheita, que participa quem quiser, o projeto-piloto de compostagem está sendo feito com 150 voluntários cadastrados.
– As pessoas levam seus resíduos orgânicos que viram adubo, que é usado nos canteiros comestíveis. Esse é o ciclo da economia circular – explica Mayara.
Quem leva seu resíduo para a compostagem, recebe alguns produtos em troca. Um deles é a banana desidratada produzida pela própria administração municipal, que montou uma fábrica em 2021.
A fruta é comprada pela Prefeitura dos produtores locais. Ao ser desidratada e embalada a vácuo, a banana aumenta seu prazo de validade. Dessa forma, segundo Mayara, evita-se o desperdício e ganha se mais segurança para a distribuição do produto para a merenda escolar.
Atualmente, o aipim produzido na região também já está sendo beneficiado com o processo de desidratação.
Os primeiros passos da Prefeitura de Maricá para a implantação de um programa de segurança alimentar foi dado em 2017, quando a administração municipal desapropriou uma área de 280 hectares, no Espraiado.
Milho, aipim, abóbora, melancia, cheiro verde e cebolinha são alguns dos produtos cultivados na Fazenda Municipal Joaquim Piñero, que produz 30 toneladas de alimentos, por ano. As primeiras colheitas foram feitas em 2021.
Esse trabalho é gerido por uma cooperativa local, que ainda mantém uma estufa para a produção de sementes e realiza testes. A fazenda também está sendo utilizada pela prefeitura para estimular o turismo rural, na cidade.
Em termos de segurança alimentar, Maricá está prestes a colher novos frutos – literalmente. A prefeitura iniciou o projeto Maricá Pomar com a plantação de árvores frutíferas por toda a orla de Araçatiba.
– Utilizar espaço público urbano para produzir alimento é algo que, além de belo, promove a segurança alimentar na cidade – observa Mayara.
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