25 de novembro

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Publicado

Enel explica problemas de energia em Niterói: furtos, desordem urbana e extremos climáticos

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Em entrevista ao A Seguir, Thiago Martins, responsável de Operação e Manutenção da Enel Rio, responde a questões que serão abordadas pela CPI
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Segundo a Enel, chuvas, ventania e incidência de raios atrapalharam o fornecimento de energia em fevereiro. Foto: Divulgação

Vereadores de Niterói que criaram a Comissão Parlamentar de Inquérito, na Câmara Municipal, para investigar  o serviço prestado pela concessionária responsável pelo fornecimento de energia elétrica na cidade, afirmam que a população está revoltada com a Enel. Se é assim, pelo menos um funcionário da empresa deve ficar, constantemente, com as orelhas quentes: Thiago Martins. Há um ano e meio, ele é o Responsável de Operação e Manutenção da Enel Rio, que atende a 66 dos 92 municípios do estado.

Centro de operações da Enel: automatização dos serviços. Foto: Divulgação

Na avaliação do presidente da CPI, Leonardo Giordano, o serviço piorou muito após o recente período de fortes chuvas pela qual a cidade passou e essa situação foi, quase que literalmente, a gota d’água para a criação da Comissão. Na lista das queixas, o fornecimento irregular, com picos de energia que prejudicam aparelhos domésticos; cortes de energia e demora no restabelecimento; desordem da fiação, que ameaça o serviço; e a falta de resposta às demandas dos moradores. “Descaso”, como definiu o vereador Leonardo Giordano.

 

Emaranhado de fios nos postes da empresa é um dos problemas apontados pela CPI: Foto: leitor

Thiago Martins admite que o mês de fevereiro passado não foi nada fácil. Segundo ele, as ocorrências triplicaram, naquele momento. Porém, a situação já voltou ao normal. Isso, de acordo com a empresa, significa resolver 80% dos casos em até 8h.

– A percepção do consumidor é que a empresa aumentou o número de clientes, mas não de equipes de manutenção. A Enel vem investindo em tecnologia e isso permite operar muitos equipamentos de forma remota, acelerando processos de recomposição – explicou Martins, em entrevista ao A Seguir Niterói.

Segundo ele, a empresa ainda não foi formalmente notificada em relação à CPI. Porém, está pronta para explicar cada um dos problemas apontados. Sobre projeto ou plano para melhorar o atendimento à cidade, ele não fala por ser uma política da empresa não comentar sobre investimentos futuros.

– Participar da CPI vai permitir levar informações e esclarecer questões. Muitas vezes, há falha na comunicação ou de percepção das pessoas em relação ao nosso serviço – afirmou Martins. Veja a entrevista:

A Seguir Niterói: Os vereadores que criaram a CPI afirmam que, após as recentes chuvas fortes pelas quais a cidade passou, o serviço da empresa piorou muito. Isso é fato?

-Tivemos um mês de fevereiro atípico. Ano passado, nessa época, tivemos a ocorrência de 26 mil raios; este ano foram 99 mil. Foram dez tempestades fortes, ao longo do mês, com ventos de até 80 km/h.  O volume de chuva foi 40% maior em relação ao mesmo período do ano passado. Todos esses extremos climáticos nos levaram a uma situação muito difícil porque são ocorrências que provocam danos na rede, principalmente, por conta da vegetação. Tivemos três vezes mais ocorrência do que em condições normais.

Em Niterói, durante as tempestades, muitas árvores foram arrancadas com suas raízes. Foram 37 árvores caídas e 47 postes quebrados. Quando uma árvore ou poste caem, danificam fios, cabos e transformadores. Esse foi o cenário de fevereiro. É  preciso lembrar que, com chuva, é difícil se deslocar em Niterói por conta dos alagamentos. Equipes já ficaram até 5 horas paradas porque a cidade travou. Em março, já foi diferente.

Postes tombados representam risco para moradores. Foto: leitor

Diferente como?

-As chuvas, em março, não tiveram reflexo como em fevereiro. Casos de desligamentos, nós resolvemos no mesmo dia. Em março, o serviço ficou normalizado. O que para nós significa resolver 80% das solicitações. Nem sempre conseguimos atender  tudo porque existem casos mais complexos. Por exemplo, às vezes temos dificuldade para acessar um local ou precisamos do apoio da Defesa Civil ou Bombeiros para retirada de uma árvore caída.

Com aumento de ocorrências a empresa aumentou o número de equipes de reparos?

-Em fevereiro, aumentamos em quatro vezes as equipes que atuam em emergência. Fazemos mobilidade de equipe, direcionando equipes de outros processos para apoiar nas emergências. Também redimensionamos entre regiões

Qual o número total de equipes para reparos, atualmente?

-A Enel atende 66 municípios. A percepção é que a empresa aumentou o número de clientes, mas não de equipes de manutenção.  A Enel vem investindo em tecnologia e isso permite operar muitos equipamentos de forma remota, acelerando processos de recomposição. Em 2013, tínhamos 700 desses equipamentos. Em 2022, passamos para 7 mil.

Uma reclamação constante são os piques de luz, que podem danificar os equipamentos. Por que acontecem tantos?

-O que chamam agora de piques de luz, no passado, seria falta de energia, mesmo. Ou seja, hoje, o problema é momentâneo, algo mais rápido. Atualmente, 30% das ocorrências estão relacionadas com vegetação, que é o nosso maior problema. Existem também muitas ligações clandestinas, feitas de forma precária, em Niterói. Muitas vezes, o fio de quem está furtando energia, se solta e provoca curto em outros.

Qual a quantidade de furto de energia em Niterói?

-Cerca de 20% da perda da energia distribuída é, em grande parte, furto

Uma das reclamações dos vereadores é que o tempo de atendimento é diferente, de acordo com o perfil econômico do bairro. O que tem a dizer sobre isso?

-Não há diferença de tempo de atendimento entre áreas. O que existem são locais mais complexos em termos de vegetação ou relacionados com furtos de energia que provocam sobrecarga do sistema. Até 2015, o tempo médio de atendimento era de 24h; agora é de 8h. Em cinco anos, a Enel  fez um investimento de R$ 4,7 bilhões na rede do Rio de Janeiro. Houve uma melhoria no tempo de atendimento em 66%. Em 2015, a média de falhas na rede era de 11, agora são 3.

Há muitas reclamações também em relação às constantes faltas de energia. Por que acontece?

-Tivemos muitas quedas de energia provocadas por questões climáticas. Mas acontece um outro problema. Com o reaquecimento da economia, muitos clientes tiveram aumento de carga de energia sem fazer o procedimento correto. Ocorrem dois casos. Existem pessoas que fazem ligações clandestinas. Essas pessoas não existem como clientes para a Enel e ligações desse tipo provocam muitos problemas na rede. Existem os clientes que aumentam suas cargas – por exemplo, aumenta um número de equipamentos em casa ou no estabelecimento comercial – e não avisam a empresa. Esse aviso é importante para a empresa fazer a readequação do fornecimento. Esse aumento de carga, sem avisar, provoca acidentes na rede também.

Há muitas reclamações de falta de luz em Icaraí. Os empresários reclamam que isso vem acarretando prejuízo. 

-Com o reaquecimento da economia, Icaraí e São Francisco passaram a ter novos estabelecimentos ou antigos com novos usos. Muitos exigem carga maior do que a declarada. Essa sobrecarga na rede é crítica. Recebemos uma queixa recorrente de um local em Icaraí, por exemplo, que era esse o caso de carga maior sendo utilizada sem aviso para a empresa fazer um redimensionamento do fornecimento.

Por que transformadores explodem tanto?

-Por eles passam toda a energia. Então, às vezes, ele desliga para evitar que o equipamento queime. Isso pode ser provocado pela sobrecarga do cliente que aumentou seu consumo de energia, um curto-circuito provocado por uma vegetação ou até um animal.

O emaranhado de fios nos postes além de perigoso deixa a cidade feia. O que é possível fazer em relação a isso?

-O poste é de propriedade pública e os órgãos reguladores estabeleceram que seu uso deve ser compartilhado. Muitas empresas, principalmente, de telefonia e internet, instalam seus fios e não fazem manutenção. Fios que ficam mais abaixo no poste são de telefonia, por exemplo. Muitas empresas não fazem substituições ou manutenção e isso também causa danos na rede. Ano passado, fizemos 7 mil ações de fiscalização em função desses fios.

As empresas pagam pelo uso do poste?

-Sim, a empresa paga uma taxa pelo uso do poste, mas a maioria não faz manutenção, não recolhe o fio quando cai ou mesmo quando saem de operação, além disso,  muitas fazem ligações clandestinas. Apesar das notificações, não fazem nada.

De 2021 para 2022, a Enel transferiu sua sede de Niterói para o Rio de Janeiro. Isso pode ter prejudicado o atendimento de alguma forma?

-A mudança da sede não alterou o atendimento. Porque as equipes não ficam em um local só, não ficam paradas como no Corpo de Bombeiros, por exemplo, em um local, esperando um chamado. Costumo comparar as equipes de reparos com táxis: ficam circulando. Nós monitoramos pelo sistema, na sala de controle, e vamos deslocando as equipes conforme a necessidade. Cada município tem equipes para diferentes trabalhos.

Por que se mudaram?

-A Enel não é somente uma distribuidora de energia, há outras empresas que prestam outros serviços, no grupo. A sede nacional se mudou para São Paulo  e  nós precisamos de outros escritórios, no Rio. Estamos instalados, agora, no Porto Maravilha. Lá temos um novo centro de monitoramento, maior. Mas como disse, essa mudança não interfere na operação.

Com tanta gente reclamando da empresa, você sente que sua orelha fica quente?

-Eu entendo o lado do cliente. Quando falta energia, querem que se restabeleça com um apertar de interruptor. Nosso negócio é vender energia. Então, não há interesse por parte da empresa que o cliente não tenha energia na sua casa.

Como encaram a criação da CPI?

Ainda não recebemos nada de maneira formal. De qualquer maneira, será uma interação que vai permitir levar informações e esclarecer questões. Muitas vezes, há falha na comunicação ou de percepção. Vamos esclarecer e mostrar o quanto o serviço é complexo e perigoso e também como os clientes podem ajudar na melhora do serviço. É uma oportunidade de contribuir com informação.

 

 

 

 

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