21 de dezembro

Niterói por niterói

Pesquisar
Close this search box.
Publicado

Projeto da UFF coloca memes no museu

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

COMPARTILHE

Meme também é coisa séria e objeto de estudo de pesquisadores da área de Comunicação da Universidade Federal Fluminense
museu do meme abre
Com licença, senhor é uma das coleções do Museu de Memes da UFF. Fotos: reprodução Museu de Memes

Com quantos memes nos deparamos diariamente? Se você parou para tentar fazer esse cálculo é porque não teve dúvidas sobre o significado da palavra  “meme”. Muito provavelmente, associou a uma imagem engraçada que se espalha como um “passe de mágica” pelas redes sociais.

Leia mais: Niterói já tem calendário de eventos para 2023

Esse tipo de imagem pode, sim, ser um meme. Porém, existe muito mais do que uma piada ingênua nessas peças, já consideradas como “gêneros midiáticos”. Meme também é “coisa séria” e objeto de estudo de pesquisadores da área de Comunicação. É algo tão sério que ganhou um museu, em Niterói.

O Museu de Memes é um projeto da Universidade Federal Fluminense (UFF) que visa construir um acervo de referência para interessados no universo dos memes. Na prática, trata-se de um site que conta com 285 coleções e 1320 pesquisas catalogadas, além de artigos produzidos pelos integrantes do projeto.

– A lógica do meme é ser uma peça de comunicação pensada para ser viralizada, tem viés ideológico e que pode ser apropriada pelo usuário comum. É muito mais do que uma piada. Quanto mais as peças parecem ter sido criadas de forma “espontânea”, mais sucesso terá – explica a doutoranda da UFF Dandara Magalhães, uma das oito pesquisadoras que trabalham no museu.

Esse projeto teve sua origem quando alunos do curso de graduação em Estudos de Mídia da UFF criaram algo como um cineclube de memes. Os encontros passaram a discutir as peças por temas e logo a ideia evoluiu para a criação de um site que conta com um acervo de mais de 400 peças.

Em 2019, o Museu do Memes realizou sua primeira exposição física, no Museu da República, no Rio de Janeiro. Voltar a realizar eventos desse tipo é uma das metas do grupo para 2023. Virar museu “de verdade”, ou seja, físico, também. Além disso, está sendo organizado o segundo volume de uma coletânea de textos de pesquisadores de diferentes locais do país sobre memes com previsão para lançamento este ano.

No livro recentemente lançado, “Pactos & Disputas político-comunicacionais sobre a presidenta  Dilma” organizado por Maria Helena Weber, Dandara e outros pesquisadores do Museu (Viktor Chagas, Letícia Sabbatini e Guilherme Popolin) assinam um capítulo justamente sobre os memes que tiveram a ex-presidenta da República como tema intitulado “Nem quem ganhar, nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder: os memes de Dilma Rousseff durante e após o impeachment”.

Aqui, uma pausa para apresentações. O Professor Doutor Viktor Chagas  é o Diretor e Coordenador Geral do Museu; a mestranda em Comunicação Letícia Sabbatini é a Coordenadora de Acervo e Dandara, Coordenadora de Projetos. Todos são ligados ao Laboratório de Pesquisa em Comunicação, Culturas Políticas e Economia da Colaboração (coLAB-UFF).

Origem

O biólogo Richard Dawkins criou o termo.

Dandara explica que o conceito de meme se origina na década de 1970. A palavra foi criada pelo biólogo Richard Dawkins para “dar conta” da sua teoria sobre processos de replicação e evolução cultural. Seu ponto de partida foi a raiz grega “mimeme” (imitação) que acabou sendo “simplificada”. E viralizou.

Na definição original de Dawkins, memes são ideias que se propagam pela sociedade (através de nossas redes sociais) e sustentam determinados ritos ou padrões culturais.

– De modo objetivo, compreendemos os memes como uma linguagem ou um gênero comunicativo próprio do ambiente digital, que costuma ser materializado na forma de uma imagem legendada, um vídeo viral, um bordão engraçado, ou uma animação extravagante. Além disso, grande parte da riqueza dos memes está expressa em sua característica intertextual. Eles frequentemente trazem referências à cultura pop, uma novela, uma série de tevê, um reality, ou o último acontecimento político do noticiário – afirma a pesquisadora.

Coleção

No Museu de Meme, é possível conhecer a história de peças famosas. Por exemplo:

Com licença, senhor (EUA)

Sinônimo de “sem noção”.

 

Em 2019, a foto de um garoto engomadinho, de cabelo bem cortado e marca de bronzeado nos tornozelos viralizou na internet. A composição estética casou com a ideia de uma burguesia completamente desassociada da realidade.  A foto em questão foi feita em Tampa, Florida (EUA) e foi postada em 2014, no perfil de @luckylucianoog. Desde então, esse meme se espalhou por diversas bolhas e diversas redes (e sem pedir licença!).

 

 

 

Senhora?

Para quem é pego na mentira.

A origem foi uma reportagem exibida em 28 de setembro de 2015, pela TV Anhanguera, de Goiás. Era sobre o caso dos servidores da Assembleia Legislativa do Estado acusados de serem funcionários fantasmas, ou seja, não trabalhavam, mas embolsavam um salário de R$ 10 mil. Edinair Maria dos Santos Moraes literalmente fugiu da reportagem saindo correndo. Não contava que a repórter sairia correndo atrás dela e que o cinegrafista seguisse a filmagem durante a “perseguição”.

 

Para nossa alegria (Brasil)

Surgiu de uma gravação doméstica.

 

Surgiu em 2012, depois que a gravação caseira dos irmãos Jefferson e Suellen se tornou um viral no Youtube. No vídeo, os dois fazem uma versão da música gospel “Galhos Secos” (da banda Exodos), acompanhados de sua mãe, Mara, como ouvinte. De repente, Jefferson solta um grito no verso “Para Nossa Alegria”, no que faz Suellen ter uma crise de riso e sua mãe sair de cena reclamando dos dois.

 

 

O “patriota do caminhão” (bolsonarista que se agarrou na frente de um caminhão para que não furasse um bloqueio na estrada, mas o veículo seguiu seu caminho) ainda não está catalogado. Porém, segundo Dandara já é digno de fazer parte da coleção. Só não entrou ainda no Museu porque o volume de produção de memes é maior do que o grupo consegue dar conta de catalogar e organizar.

Ainda faz parte do Museu ensaios como, por exemplo, “Como os memes representam a população negra?” ou “Chutando cachorro morto: a construção da imagem pública de Michel Temer em charges e memes”.

Enquanto você leu essa reportagem, rolou mais um gol para a Alemanha – sim, o meme do 7X1, da vexatória derrota do Brasil na Copa do Mundo de 2014 também faz parte da coleção.

 

COMPARTILHE