Houve um tempo em que nos bastava listar os melhores desejos na virada do ano para acreditar que teríamos uma vida melhor. O futuro parecia um caminho dado que o tempo nos faria trilhar, como foi com nossos pais e nossos avós e, antes deles, seus pais e avós. A ciência, a tecnologia, o aprendizado da história… tudo isso nos dava segurança para enxergar além das nossas incertezas. Mas não é mais assim. Perdemos a perspectiva de futuro.
Deixamos para trás nossas certezas nos últimos tempos, confundidos pelo excesso de informações, que parece nivelar o verdadeiro e o falso, a ponto de confundir a própria realidade. A ideia de fé, família e pátria foi reduzida a um grito de guerra, que nos confronta com nossos piores medos, de tempos marcados pela violência e pela intolerância. Não apenas no Brasil, mas em boa parte do mundo.
Não há futuro. Não aquele futuro que parecia inexorável. Baseado no conhecimento, na ciência e na democracia. Hoje, temos o desafio de inventar o futuro, porque não sabemos mais o que queremos e, sem este acordo que aponta para um percurso civilizatório, o futuro não existe. É preciso entender isto. Assim como os filósofos discutem o que é a realidade ou o que é a verdade, o futuro é uma construção social. A projeção de onde queremos chegar. É este o futuro que perdemos.
Estabelecer o que é o futuro é mais difícil, porque é preciso conciliar uma visão de mundo e a maneira de atingir os nossos objetivos, as regras do jogo. Hoje, uma parte de nós gostaria de voltar ao tempo em que a terra era plana e profetas anunciavam a salvação. Rezam diante de quartéis pela “liberdade” de um golpe militar. A eleição definiu a nossa escolha, mas não reconcilia a nação.
O desafio de 2023 será reinventar o futuro.