A virada de 2022 marca o fim da tensão de uma campanha eleitoral tornada permanente, desde o primeiro dia da eleição de Bolsonaro, em 2018, até a concentração de seus eleitores rezando diante dos quartéis. Nenhuma cidade, nenhum eleitor, ficou alheio a esse processo de conflagração desencadeado por ataques às instituições, disseminação de mentiras e ataques às instituições como a Justiça, a Ciência e a Cultura, na campanha mais suja que o país experimentou, na democracia. O ano termina e deixa para trás o clima beligerante da eleição e, só por isso, 2023 começa com uma boa notícia.
Niterói viveu intensamente a campanha, não apenas pela polarização da eleição nacional. Também por ter um candidato ao governo do estado: o ex-prefeito Rodrigo Neves, depois de cumprir oito anos de mandato e eleger o seu sucessor, Axel Grael, no primeiro turno com mais de 60% dos votos. A candidatura botou Niterói na mira do governador Claudio Castro, que construiu forte aliança bolsonarista com os prefeitos da baixada e praticamente não pisou na cidade.
Não se pode dizer que atrapalhou, mas tampouco ajudou a cidade. Tomou do município a bandeira da Segurança, assumindo a gestão do Niterói Presente, de resto uma obrigação do estado. E deixou a gestão das barcas afundar com o projeto de integração dos transportes, maior investimento da administração de Rodrigo Neves – que construiu um terminal em Charitas e um estacionamento subterrâneo para receber os moradores da Região Oceânica, que jamais usaram o Catamarã, com horários muito espaçados e tarifas a R$ 21, impagáveis. Castro começa o novo mandato, agora reeleito, sem ter a menor ideia de como vai resolver o problema das barcas, que já empurrou para 2025. Como também não sabe o que vai fazer com os trens, o metrô e os ônibus.
Niterói sobreviveu a todas as crises provocadas pelo bolsonarismo: a da Saúde, a da economia, a da gestão pública, que entrega quebrada, sem recursos para vacinas, remédios, merenda escolar, que teriam parado o Brasil não fosse a PEC da transição.
O município mostrou que tem resiliência, projetos e recursos para enfrentar seus problemas, com autonomia. Enfrentou a Covid sem filas nos hospitais, socorreu empresas e moradores e tem um plano de obras que mantém a economia em funcionamento. A agenda cultural abraçou a cidade e foi saudada pelos moradores, que ocuparam Niterói, com pertencimento e orgulho.
Niterói foi das raras cidades do Rio a dar mais votos a Lula do que a Bolsonaro. Isso não é pouco, na política do estado, no governo Lula, que ainda constrói alianças. Rodrigo Neves e o prefeito Axel estabeleceram pontes com a prefeitura do Rio, num estado varrido pelo voto evangélico e pelas milícias. Terão importante presença política além dos limites do município, em Maricá, São Gonçalo, Itaboraí e até Campos, entre outros.
O ano que começa, livre da tensão eleitoral, não estará livre dos desafios da política. Porém, dá uma chance para Niterói mergulhar nas questões que mais impactam a vida da cidade. Das mais imediatas, como a mobilidade e a crescente violência do trânsito. Ou as mais recorrentes, como a educação, por exemplo, incapaz de gerar indicadores compatíveis com os investimentos anunciados.
O aniversário de 450 anos é uma boa oportunidade para este mergulho, muito além da realização de eventos festivos.
O plano de obras da cidade, com recursos acima de R$ 1 bilhão, por si só, promete uma grande transformação na vida da cidade. O parque da orla de Piratininga resgata um território que parecia perdido e vai mudar a forma do morador viver a cidade. E a revitalização do Centro pode entregar muito das esperanças colocadas no papel.
A pausa no calendário eleitoral dará a chance da Prefeitura ouvir o morador da cidade e estabelecer uma gestão técnica e voltada a resultados, além das eleições.
Mas vamos combinar: 2024 está logo ali. Quais serão os candidatos à prefeitura?