27 de dezembro

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Brechós de Niterói mostram que o desapego está na moda

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Simples ou luxuosos, são muitas as opções na cidade. A SEGUIR fez um roteiro de brechós para ajudar na sua escolha
brenda fashion
Brenda Fashion: o brechó é na casa da dona do negócio. Foto: Divulgação

Já foi o tempo em que brechós de Niterói eram sinônimo de bagunça e espirros provocados por poeira. Cada vez mais, seus responsáveis  buscam criar espaços organizados e confortáveis.

O A SEGUIR fez um roteiro por seis deles, em Niterói. São de diferentes perfis, simples ou luxuoso – sim, existe brechó de luxo, na cidade.

Cada um deles tem suas regras de comercialização. Seja ligado a alguma instituição de caridade ou particular, todos têm algo em comum: fazem o possível para facilitar a vida dos clientes.

Confira o nosso roteiro cuja ordem não expressa qualquer tipo de ranqueamento.

 

Bazar Dom Bosco

Bazar Dom Bosco: 500 peças em exposição, com novidades todos os dias. Não tem provador. Foto: Sônia Apolinário

 

O brechó existe há, pelo menos, 25 anos. Há nove, ocupa o centro comunitário da paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, da Congregação Salesiana. Fica bem em frente à basílica, em Santa Rosa.

Lá, todo tipo de doação é aceita, em qualquer estado: de roupas a brinquedos, passando por calçados, livros ou itens para casa. Na hora de vender, os preços vão de R$ 1 a, no máximo, R$ 25.

– É difícil um único dia que não recebemos algo. Então, tem sempre novidade – conta a chilena Cecília Galloso Navarro que há dois anos atende o público do brechó.

Ela explica que as doações passam por uma triagem. O que está limpo e em condições de uso, vai para a arara. As roupas são divididas por peças para facilitar a procura. O que não é aprovado para vendas, segue direto para doação.

No Dom Bosco, são cerca de 500 peças em exposição, todos os dias. Quem chega e alega que não tem condições para comprar, pode pegar uma roupa.

– Somos, antes de tudo, um espaço de acolhimento – afirma Cecília.

Tatiana Moura em total look com peças do brechó. Foto: Sônia Apolinário

Lá não tem provador. Isso, porém, não é problema para Tatiana Moura, de 45 anos. Ela mora bem perto do brechó e, sempre que coloca o pé na rua, dá um confere nas araras.

 

– Chego a vir até duas vezes, no mesmo dia. É uma terapia. Para escolher peças legais, não pode vir com pressa e tem que ter bom olho. Eu costumo encontrar pérolas, principalmente, na parte que custa R$1, onde as pessoas acham que não vão encontrar nada bom – diz ela com “total look” do brechó: blusa, casaquinho, short e bolsa.

Serviço

Bazar Dom Bosco – Rua Santa Rosa, 216

Funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h

Pagamento apenas em dinheiro

 

 

Brenda Fashion

Brenda Fashion: em uma das araras, só com peças em preto e branco. Foto: Divulgação

Quem vê apenas uma foto do espaço principal do brechó comandado por Brenda Bernardes não imagina que se trata da sala da casa onde ela mora, em uma pequena travessa, em Santa Rosa.

São cerca de quatro mil peças catalogadas. Quando vão para as araras, são  separadas por cores. A visita, com hora marcada, garante atendimento mais do que exclusivo: podem contar com Brenda para montar looks ou fazer as mais variadas composições, sem pressa.

Trabalhar com roupas foi uma opção que ela fez em 2016. Naquela época, porém, eram peças novas, que comprava em São Paulo, para revender em Niterói. Veio um filho e ela buscou uma forma de seguir no negócio sem precisar sair muito de casa. Foi quando uma amiga lhe pediu para vender algumas roupas que não queria mais usar que ela vislumbrou a mudança de foco no negócio.

– Nessa transição de venda de roupas novas para desapego, perdi muitas clientes. Havia muito preconceito em comprar roupas usadas. Foram dois anos patinando, aprendendo e melhorando, desde o processo de seleção das peças até a disposição nas araras – conta Brenda.

Hoje, ela recebe muitas ofertas de peças para vender. Dá preferência para novas, sem marcas de uso – tem várias até com etiquetas, em exposição. O estilo corporativo predomina, bem como os tamanhos G e GG – pouco comuns nos brechós.

Modelo com vestido em Chifon que sai a R$ 30, na Brenda Fashion. Foto: Divulgação

Os preços costumam ser cerca de 40% menos do que se cobraria em uma loja convencional. É possível achar, por exemplo, vestidos entre R$ 20 e R$ 30, calça jeans por R$ 40, blazer de linho a R$ 100. Tem peça tanto de marca nacional conhecida quanto “anônima”.

Para manter as vendas durante a pandemia do Coronavírus, Brenda criou um delivery que batizou de “malinha”: cliente liga, diz mais ou menos o que quer e ela manda, literalmente, uma mala com várias opções de modelos e preços. A cliente pode ficar com as roupas por 24h, sem compromisso de compra. Porém, se não ficar com nada, paga a taxa do motoboy.

O esquema deu tão certo que Brenda mantém até hoje, mas esse é um serviço que ela presta somente para clientes antigas, devidamente cadastradas.

Serviço

Brenda Fashion – contato: (21) 98499-2465

Instagram: @brendafashion

 

Bazar São Vicente de Paulo

Bazar São Vicente de Paulo: as peças são expostas pelos diversos cômodos da casa. Foto: Sônia Apolinário

 

A casa onde funciona o brechó pertence, há 122 anos, à Associação das Damas de Caridade de São Vicente de Paula.

A instituição cuida de três creches que atendem, juntas, 260 crianças, entre 2 e 6 anos. Também distribui 60 cestas básicas, por mês, para senhoras já cadastradas. As vendas do brechó ajudam a custear esse trabalho social.

– As doações caíram muito depois da pandemia do Coronavírus. Recebemos, hoje, cerca de 70% menos do que já recebemos, mas  o movimento no brechó está igual  – conta Sonia Vivas Motta, de 83 anos, presidente da Associação.

O vendedor David Marques “garimpando” no Bazar São Vicente de Paulo. Foto: Sônia Apolinário

Todo tipo de doação é bem-vinda: roupa, sapato, livros, discos de vinil, CD, bijuterias, peças de artesanato, itens para casa.  São cerca de duas mil peças, separadas, que ficam expostas pelos cômodos da casa.

Tem roupas masculinas, femininas e sapatos a partir de R$ 5 e femininas a partir de R$ 10. O garimpo pede atenção porque algumas peças podem ter  pequenos defeitos.

O vendedor David Marques, de 21 anos, aprendeu com a irmã o caminho do brechó e, agora, volta sempre.

– Não posso bancar roupa nova. Então, venho sempre aqui, que tem um canto só para roupas masculinas. Quando encontro alguma coisa legal, compro. Acho que tenho bom olho para pinçar coisas boas – conta.

 

 

 

Serviço

Bazar São Vicente de Paulo – Rua Mariz e Barros, 222, Icaraí

Funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 13h às 17h

Tem provador e aceita cartões

 

Brechó Meninas de Niterói

Brechó Meninas de Niterói: mil peças em exposição com novidades todos os dias. Foto: Divulgação

Quem passa em frente à loja custa a acreditar que se trata de um brechó. Era exatamente isso que a idealizadora do negócio, Marcela Braga, queria, há 12 anos, quando começou a vender roupas usadas.

– Naquela época havia muito preconceito contra brechós. Associavam esse tipo de negócio a roupas velhas, mofadas, sujas. Por isso, fiz questão de abrir um espaço muito organizado, bonito e cheiroso – conta ela que tem 41 anos.

Tudo começou quando Marcela promoveu uma troca de roupas entre amigas. Registrou tudo em um blog e, com a (boa) repercussão, percebeu estar diante de uma possibilidade de negócio para explorar.

Sim, já teve quem entrasse na loja toda animada e desse meia volta ao saber que as roupas à venda eram usadas. Atualmente, segundo Marcela, isso não acontece mais.

A partir da pandemia do Coronavírus, a oferta de peças para ela aumentou. Marcela acredita que as pessoas usaram o tempo em que foram obrigadas a ficar em casa para fazer uma boa arrumação nos armários e nos próprios hábitos. E tomaram gosto por desapegar de roupas que não estão mais usando.

Conjunto Maria Filó: Blusa R$ 45; Calça R$ 48. Foto: Divulgação

Ela recebe todo tipo de peça. Não faz questão que sejam de marca, mas precisam estar em perfeito estado. Na loja, são cerca de mil itens constantemente em exposição. E todos os dias, Marcela providencia peças novas nas araras. Os preços vão de R$ 20 a R$ 70.

Além da loja, o brechó também faz vendas por whatsapp (são dois grupos, divididos por tamanhos: P e M; G e GG).  É possível fazer reservas de peças.

Serviço

Brechó Meninas de Niterói – Rua Francisco da Cruz Nunes, 280, loja 103, Piratininga.

Funcionamento: segunda a sexta-feira, das 9h às 18h; sábado, das 9h às 13h

Instagram: @brechomeninasdeniterói

Facebook: @brechomeninasdeniteroi  

 

Bazar Solidário Gepar

Bazar Solidário Gepar: peças entre R$ 10 e R$ 40 e saldão mensal com muita coisa a R$ 1. Foto: Divulgação

 

É o brechó do Grupo Espírita Paz, Amor e Renovação, que existe há cerca de 30 anos. Porém, se profissionalizou há cinco, como uma forma de ajudar a custear as ações sociais do grupo. Que são muitas: creche para 100 crianças, entre 2 e 5 anos; oficinas de contraturno para 80 crianças entre 6 e 14 anos, aulas de culinária para a comunidade, distribuição de legumes para 280 famílias cadastradas e enxoval para gestantes, dentro da Obra do Berço.

Na loja tem sempre, no mínimo, mil peças disponíveis. Uma pequena parte é colocada à venda com preços entre R$ 3 e R$ 10; o restante, entre R$ 10 e R$ 40. Vestidos de festa custam, em média, R$ 30. Uma vez por mês, rola saldão com muita coisa a R$ 1.

– Estamos sempre inventando alguma coisa. Tem que ficar de olho – diz Taís Messas, gestora da instituição.

Ela conta que foi o brechó que permitiu que o Gepar continuasse atuando, durante a pandemia. O grupo passou a trabalhar fortemente na Internet e manteve o negócio. Atualmente, vendem também por intermédio de grupos no Telegram e Whatsapp. Em cada um deles, são postadas 25 fotos, por dias, de itens que acabaram de chegar e ainda serão expostos no brechó.

Blusa Zinzane a R$ 28 e short tamanho 34 a R$ 20, anunciados no Instagram. Foto: reprodução rede social

O Gepar aceita todo tipo de doação, inclusive móveis. No brechó, pode fazer reserva, formar fila quando mais de uma pessoa se interessa pela mesma peça , pegar e pagar em até 30 dias. Eles fazem entregas, só não fazem trocas. Quem quiser experimentar, antes de comprar, tem que ir na loja.

Das roupas que recebem como doação, só as que estiverem em bom estado são colocadas à venda. O que não vai para a loja, vai para doação.

– Para tudo, sempre, tem um destino – comenta Taís.

Serviço

Bazar Solidário Gepar – Avenida  Francelino Barcellos, 333,  Piratininga, uma rua atrás do novo Supermercado Rede Economia do Cafubá.

Funcionamento: segunda a sexta-feira, das 9h às 18h; sábado, das 9h às 17h

Contato Whatsapp: (21) 34929451

Instagram: @bazarsolidariogepar

 

Blume Bazar

Blume Bazar: loja funciona no shopping I Fashion, em Icaraí. Foto: Sônia Apolinário

 

Em um dos pontos mais concorridos de Icaraí, funciona um brechó de luxo onde encontrar marcas como Dior, Versace, Chanel ou Miu Miu faz parte da rotina.

O Blume – cujo lema é: New For You, ou seja, Novo Para Você – funciona no shopping I Fashion desde dezembro do ano passado. No comando estão Bernardo Rangoni e Carolina Porto. De vendedores de loja de marcas grifadas, passaram para o outro lado do balcão e assumiram o papel de empresários quando perceberam uma oportunidade de negócios no ramo de roupas usadas, na verdade, praticamente não usadas ou nem mesmo usadas, mas já enjoadas.

– Quando era vendedor, percebi como as clientes usavam pouco as peças. É toda uma produção em massa, no ramo da moda, para saciar desejos das clientes que diziam ter enjoado de uma roupa que só tinham usado uma vez. Isso nunca fez muito sentido para mim. Comecei, então, a fazer intercâmbio de peças entre elas – conta Bernardo, que tem 26 anos.

Ele começou a fazer essas trocas de modelitos há cinco anos. Para registrar o movimento, criou uma conta no Instagram “no capricho”. Seu objetivo era fisgar o interesse das pessoas a partir de belas imagens – exatamente como faz a publicidade. E deu certo. Aos poucos, o perfil começou a chamar a atenção.

Foram as clientes mais próximas e fiéis que se “sujeitaram” a participar dos primeiros intercâmbios de roupas.

– Muitas me ligavam antes de ir para dizer que nunca tinham comprado nada usado. Diziam que só iriam por ser um evento meu. Superar essa primeira barreira foi engraçado. Com as postagens, as peças eram valorizadas. E teve quem me contasse que tinha ficado chocado e arrependido por ter desapegado de uma peça. Ou seja, passaram a ter o desejo de ter a peça que já tiveram – lembra.

No começo, os intercâmbios eram feitos em tom de “eventos exclusivos”. Tudo era vendido. E o mailing de clientes, que já nasceu poderoso, só aumentava.

Quando estavam para realizar o quarto evento, foi dado um passo um pouco maior: a abertura da primeira loja, um espaço pequeno na Lopes Trovão, em Icaraí. Foram três anos no endereço até que o I Fashion convidou a Blume para ocupar a loja que já tinha sido da Cavendish, no shopping.

Bernardo conta que, no início, as fornecedoras de peças eram todas de Niterói. Hoje, essa não é mais a realidade. Metade ou mais das atuais três mil fornecedoras são do Rio de Janeiro e outros estados.

– As fornecedoras do Rio têm acesso a marcas que as de Niterói não têm. Isso ajuda na hora de fazer a curadoria das peças. É tudo muito bem escolhido – explica.

O Blume busca ter peças de todos os tamanhos, mas Bernardo admite que os PP e P acabam sendo maioria porque essas modelagens têm mais desapego do que as G. Atualmente, 7 mil itens fazem parte do estoque. Absolutamente todos são de grife, seja nacional ou do exterior. Em termos de preço, a regra é vender até 80% mais barato do que na loja original da marca.

Blusa Versace na Blume. Foto: Sônia Apolinário

Às vezes, rolam promoções. No final de outubro, por exemplo, teve liquidação de algumas peças. Os preços variaram entre R$ 75 e R$ 155. Na mesma época, fora da parte de liquidação, uma blusa Versace estava disponível por R$ 555 (foto).

Nesse momento, o Blume (palavra que, em alemão, significa flor) está dando mais um passo na expansão do negócio: a venda on-line via site. Em breve, os eventos, origem de tudo, estarão de volta.

– É um desafio diário. Vendas via site é outra expertise que ainda estamos aprendendo. No Instagram, que a é a grande vitrine da loja, postamos 100 stories, por dia. Porém, nada disso importa se não houver bons produtos e ótimo atendimento. Nossa loja é linda e é comum as pessoas entrarem sem entender bem do que se trata. Eu grito logo, ‘é um brechó’, para as pessoas chocarem e desmistificar esse tipo de mercado – comenta Bernardo.

Serviço

Blume Bazer –  Rua Paulo Gustavo 241, 2 piso, shopping I Fashion, Icaraí

Funcionamento: segunda a sábado, das 10h às 21h

Instagram: @blumebazar

Site: blumebazar.com.br

 

 

 

 

 

 

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