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Duas das promessas nas Olimpíadas de Tóquio, que começam nesta quinta feira (22), são as atletas de Niterói Martine Grael, na vela, cujo nome carrega um legado conhecido no meio esportivo, e Fabiana da Silva, no badminton, a grande novidade em sobrenome e categoria. Sua origem e história no esporte servem de inspiração para muitos meninos e meninas que passaram a ter um espaço para treinar e sonhar, em uma das áreas mais estigmatizadas da cidade: o Parque Esportivo e Social do Caramujo (Pesc).
Entregue em 2020, o local nem lembra mais o terreno barrento onde atletas do Clube de Corredores de Niterói se sujavam de lama para treinar. Hoje, atletas de renome o vice campeão sul-americano de atletismo Carlos Henryque Aveiro preparam a nova geração. Aveiro hoje é treinador de levantamento de pesos, e já levou seus pupilos a conquistarem o campeonato mundial, e como coordenador do Parque Esportivo, ajuda a construir base para formar uma nova geração de atletas.
Ele diz que parte de seu trabalho é apontar novas perspectivas de vida para as crianças moradoras do entorno do Pesc, a quem muitas oportunidades são negadas, mas já percebe algumas promessas em modalidades como atletismo, tiro com arco, e no próprio Badminton:
– Um atleta de alto rendimento precisa de pelo menos 10 mil horas de treinamento. Isso corresponde a dois ciclos olímpicos, ou seja, duas olimpíadas. Mas hoje, nós temos lá, facilmente, cerca de 10 jovens que já podem a partir de 2022 estar compondo seleções, sub 17.
O Pesc inaugura uma nova possibilidade no esporte de Niterói, oferecendo aulas de modalidades até então consideradas esportes de elite, para quem podia pagar, como política pública de desenvolvimento social e investimento em esporte:
– Há dois meses, incluímos duas modalidades novas: o badminton e o tiro com arco. Trouxemos essas modalidades através de um convênio com a Federação de Badminton do Estado do Rio de Janeiro e com a Confederação Brasileira de Tiro com Arco, que doaram todo o material. Uma flecha custa US$ 60, então, dificilmente uma criança do Caramujo teria acesso a esse esporte.
A treinadora de levantamento de peso Aline Campeiro tem uma história brilhante no esporte e serve de espelho para os alunos. Aos 13 anos, a então pequena notável do atletismo ganhou sua primeira competição de velocidade, treinando em um projeto na Mangueira, onde morava. Já adulta, vendo seu rendimento cair por causa de sua altura – ela tem 1,48m -, Aline acabou se apaixonando pela modalidade que a destacaria no mundo todo, o levantamento de peso, ao ver a atleta Maria Elizabeth competir.
Por causa da altura e idade, muitas pessoas duvidaram dela, mas seu treinador foi fundamental para que ela alcançasse destaque e se tornasse uma atleta de elite:
– Me enfiei no meio das crianças em um treino, aos 23 anos, com meu 1,48m de altura, e o treinador da época falou pra mim: “Você vai bater os recordes da Maria Elizabeth”. E um ano depois, eu bati.
Aline se tornou uma atleta de elite, e hoje é uma das mais respeitadas do país. Usa seu exemplo para motivar seus alunos no Pesc, ensinando que quando se tem muito pouco apoio, antes de tudo é preciso sonhar grande:
– Primeiro, ele [o aluno] precisa sonhar. Ele precisa olhar, por exemplo, a Olimpíada, e acreditar que é possível. Às vezes ele vem de uma realidade tão dura, que nem sonhar é permitido. Você é do tamanho do seu sonho, sempre falo isso para os meus alunos.
O apoio fica por conta das parcerias com federações esportivas e da política pública de incentivo ao esporte, que mantêm o Pesc funcionando. A ideia é que, a longo prazo, jovens atletas possam ter oportunidades que venham a partir do esporte:
– Quando é criança, tudo bem. Agora, quando vai chegando os 18 anos, eles começam a receber uma cobrança, até por parte da família, sobre o que vão fazer da vida. Então, se eu ofereço pra eles, além do treino, uma ajuda de custo e a possibilidade de uma universidade, eu mantenho esses atletas treinando comigo mais quatro anos. Eu acredito que no Pesc eles vão ter essas possibilidades. É um trabalho pensado para ser de longo prazo, para poder encaminhar os atletas.
Espaço de possibilidades
O Pesc busca parcerias para oferecer mais modalidades esportivas e se tornar cada vez mais plural, mas já faz parte da vida esportiva da cidade. Em novembro, o Parque Esportivo de Inclusão Social do Caramujo vai sediar o campeonato escolar de Niterói de Western (Luta Olímpica) e também o campeonato brasileiro universitário da mesma modalidade. Com a pandemia, a competição não terá público, mas os atletas precisaram cumprir protocolos de segurança.
O espaço teve sua última parte entregue em agosto de 2020 e conta com quadra poliesportiva coberta, campo de futebol, pista de atletismo, de bicicross e um skate park e oferece levantamento de peso olímpico (LPO), luta greco-romana, atletismo, skate e outros esportes olímpicos. As atividades em grupo, como aulas de dança e esportes coletivos, estão suspensos por causa da pandemia, mas a proposta é que o local possa ser usado até a noite, para o lazer dos moradores do entorno.
Para se inscrever, é preciso ser morador do Caramujo e adjacências e procurar a secretaria do Parque, na Rua do Alto, número 130, Caramujo, de 8h às 17h, levando certidão de nascimento da criança e documento do responsável. Atualmente, o espaço está funcionando com turmas menores para respeitar o distanciamento entre os alunos.
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