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Uma grande instalação, com 107 esculturas, fotografias e vídeos. É assim que Laura Freitas costura pedaços da parede da Sala de Exposições do Reserva Cultural de Niterói como se estivesse fazendo um curativo das feridas provocadas pela pandemia de Covid e o isolamento social. Precisando fazer manutenções em casa e sem poder chamar um pedreiro, a artista resolveu fazer outros tipos de conserto. Com atadura, cimento e linha, Laura costurou as fendas abertas na parede como se fossem curativos.
– Primeiro preencho com atadura, depois coloco o cimento por cima, o que cria uma plasticidade, e vou costurando com agulha e linha, como se fosse um machucado, como se eu estivesse suturando uma ferida. Cuido das ‘feridas’ da casa, tentando reparar as dores e a violência causadas em nosso corpo, principalmente o das mulheres, dando um novo sentido para o lar e para a vida – conta a artista. A exposição “Costurar fendas de outros tempos”, que será inaugurada nesta quinta-feira (13), às 19 h, no Reserva cultural de Niterói, oferecerá também oficinas de arte para crianças.
As fendas de outros tempos
Laura Freitas vive e trabalha em Niterói (RJ). Graduada em Educação Artística com formação em Arteterapia e piano, faz parte do grupo formado pela Escola de Ates Visuais do Parque Lage. Fez exposições individuais e coletivas em locais como a Galeria Cândido Portinari da UERJ, o Espaço Cultural Correios Niterói, a Galeria de Arte da UFF, o Centro de Artes Calouste Gulbenkian, a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, e o Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro, entre outras.
Nascida em uma família de mulheres muito religiosas, dedicadas ao lar e aos filhos, Laura Freitas busca, através de suas obras, a libertação e a autonomia dos corpos, sobretudo, o da mulher. “São corpos muitas vezes controlados, tensos e violentados. Eu trago essa sensação no meu corpo junto à vontade de libertar isso – não só de mim, mas de outras pessoas”, afirma a artista.
A costura sempre esteve presente na vida e na obra de Laura Freitas, que já trabalhou com moda, produzindo roupas e pintando tecidos. Em seu trabalho como artista, além da costura, a questão da casa sempre foi muito presente. Se hoje ela está costurando a parede de sua moradia, no passado, já cerziu cascas de ovos e porcelanas.
Todo o processo de costura das paredes de sua casa foi registrado em fotos e em um vídeo, que fazem parte da exposição. Esculturas feitas em blocos de concreto, com reproduções das rachaduras costuradas, ganharam o nome de “Cotidianas” e farão parte da mostra como uma instalação de parede, de modo a criar relevos. “A montagem sugere nuvens densas, que flutuam pesadamente, ou mesmo lápides mortuárias. Ao mesmo tempo repercute as
janelas do entorno da casa da artista, bem como a relação estabelecida com as telas e os dispositivos”, ressalta a curadora Fernanda Pequeno no texto que acompanha a exposição.
As costuras produzem formas diversas, não intencionais, uma vez que a artista segue as falhas já existentes na parede da casa. “Texturas e manchas, rachaduras e costuras criam desenhos que, por vezes, sugerem antropomorfismos e paisagens e, em outras, enfatizam grafismos, formas lineares e abstratas. Linhas, estrias e colunas indicam relevos e
caminhos, bem como feridas abertas e cicatrizadas pelo tempo. Antes reclusas, agora afirmam-se e expandem-se, tanto em escala quanto em alcance, reverberando em outros corpos e casas, conectando vivências e memórias”, afirma a curadora.
Oficinas de arte
A coordenadora do projeto, a produtora cultural Ana Pimenta, também moradora da cidade, entende que a experiência da casa não está contida entre paredes, uma vez que estabelece relações mais profundas em nossas vidas. Daí a ideia de oferecer oficinas e visitas de escolas, em contato com a artista.
– Através do esforço da sua sutura, Laura nos lembra das profundas relações existentes entre casa e corpo. Realizar uma exposição que conecta esses temas na cidade em que cresci, com um programa de oficinas e visitas de escolas, ativa muitas memórias.
Como parte da exposição “Costurar fendas de outros tempos”, no mês de outubro, serão realizadas oficinas gratuitas, voltadas para crianças, idealizadas e ministradas pela própria artista. As oficinas partem da pesquisa de Laura Freitas sobre a nossa casa/corpo/paisagem. Serão utilizados materiais recicláveis e cotidianos do universo de
trabalho da artista. Além disso, também serão realizadas visitas guiadas à mostra para escolas da rede
municipal e da Universidade Federal Fluminense.
No dia 19 de novembro, às 16h, será lançado o catálogo virtual da exposição, com uma conversa com a participação da artista Laura Freitas e da curadora Fernanda Pequeno.
Serviço: Exposição Costurar fendas de outros tempos, de Laura Freitas
Abertura: 13 de outubro de 2022, às 19 horas.
Exposição: até 20 de novembro de 2022
Av. Visconde do Rio Branco, 880 – São Domingos, Niterói – RJ, 24020-007
Telefone: (21) 3604.1545
Horário de funcionamento: todos os dias, das 12h às 22h, Gratuito
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