22 de dezembro

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Luiz Cláudio Latgé

Jornalista, documentarista, cronista, atuou na TV Globo por 30 anos, como repórter, editor, diretor. Consultor em estratégia de comunicação, mora em Niterói e costuma ser visto no Mercado de São Pedro.
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Por que votamos?

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A campanha política em Niterói. Foto: leitor

A obrigação do voto no Brasil às vezes nos distrai daquilo que vamos fazer quando nos encaminhamos para as urnas nas eleições. Votar não é obrigação. Na verdade, muito mais que um direito, é uma conquista. Nem sempre pudemos votar. No período republicano, instituído a partir de 1889, vivemos quase metade do tempo em regimes que impuseram algum tipo de restrição à escolha popular. Na ditadura militar de 64, que o presidente Jair Bolsonaro gosta de reverenciar, ficamos 35 anos sem votar para presidente. O Brasil sempre foi prodigioso na hora de criar restrições ao voto de acordo com interesses políticos. O negro já foi proibido de votar. Despois da Abolição da Escravidão foi cassado o voto do analfabeto, para afastar das urnas a enorme massa de recém-libertos. O voto da mulher é de 32, no governo de Getúlio Vargas. O voto do analfabeto é ainda mais recente, só foi garantido a partir de 1985. O voto dos jovens de 16 anos data de 1988. É bom relembrar este percurso histórico para saber por que votamos.

Uma escolha tão valiosa que tantas vezes se tentou impedir, ou comprar, ou pendurar num cabresto. Quantos governos usurparam da vontade popular, usando os piores expedientes para controlar o poder. Coronelismo, Política do café com leite, Bancada do Agronegócio, Bancada da bala, Milícias digitais… Tentaram até estabelecer voto com recibo. Outras vezes, foram criadas dificuldades para o eleitor chegar aos locais de votação e deixar populações enormes, invariavelmente os mais pobres, mais longe das urnas. Por isso, por tudo que passamos até poder chegar às urnas, é preciso valorizar o voto.

As eleições costumam carregar muitos interesses, com seus truques de tv, redes de mentiras e promessas de bica dágua e emprego público. Às vezes nos deixamos enganar por fantasmas e medos ou por discursos vazios de salvadores da pátria em quem não deveríamos confiar na compra de um carro usado, quanto menos para dirigir o país. Mas são nosso as escolhas e é preciso respeitar as regras do jogo, porque é assim que funciona a democracia. Nenhuma ameaça, motociata, megafone, panfleto, miliciano ou pastor pode nos intimidar na cabine de voto.

A escolha que fazemos ao votar renova o país, a cada eleição. É reparadora, porque podemos rever nossas escolhas e avaliar o que deu certo e o que deu errado. E é enorme a lista de coisas que deram errado, com o país na fila da fome. Quando votamos, é sobretudo a nossa crença no futuro que depositamos nas urnas. A nossa confiança para ver o país melhor nos próximos quatro anos. Por isso é tão ruim quando vamos votar movidos por outra motivação. Votar contra alguma coisa, alguma ideia, nos afasta do propósito do voto. O ódio não constrói. Votamos porque acreditamos que é possível fazer melhor, na Educação, na Saúde, na Segurança, no Saneamento, no Meio Ambiente, na Economia. Quando sabemos disto, enxergamos melhor o que vai à nossa volta e os riscos que corremos e votamos melhor.

Votar nos permite construir a nossa identidade como nação. No dia 2 de outubro vamos dizer nas urnas quem somos. E que país queremos.

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