23 de novembro

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Sinfônica Ambulante é o novo orgulho do ‘meu país Niterói’

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Ao vencer concurso que escolheria o melhor bloco carioca de carnaval de rua, Sinfônica Ambulante garante vitória do italiano sobre o “joelho”
sinfônica ambulante 2
Fanfarra niteroiense é presença certa em vários momentos do Carnaval do Rio de Janeiro. Foto: @adorofrozen

Era uma brincadeira de carnaval. Estava aberta a votação para o público escolher o melhor bloco de rua carioca de 2022. De repente, uma fanfarra de Niterói surge na disputa e chega à final do prêmio Estandarte de Ouro. Não mais do que de repente, os prefeitos da Cidade Maravilhosa e da Cidade Sorriso entram na campanha e passam a pedir voto para o bloco das “suas” respectivas cidades.  Virou “joelho” X italiano. E o italiano venceu, quer dizer, Niterói  venceu, ou melhor, a Sinfônica Ambulante venceu.

O concurso foi promovido pela mídia especializada AboutCarnaval, que criou a premiação em 2020. Naquele ano, o vencedor foi o Ibrejinha, derrotado, agora, pela Sinfônica.

Que ninguém estranhe um bloco niteroiense vencer um concurso entre pares cariocas. A Sinfônica é presença certa em vários momentos do Carnaval do Rio de Janeiro. A “união entre os povos” acontece, principalmente, no domingo momesco quando o grupo de Nikiti faz o já tradicional “cortejo marítimo”, com o embarque na estação da Praça Arariboia, em uma “barca de linha”. A folia começa no meio da Baía de Guanabara e não para mais: segue após o desembarque na Praça XV e continua com o grupo percorrendo as ruas do centro histórico do Rio de Janeiro, geralmente, junto com o também tradicional bloco carioca Boi Tolo. Não por acaso, a Sinfônica, desde 2018, é Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Rio de Janeiro, a partir de uma iniciativa da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

Criada em 2011, a fanfarra cresceu nas ruas de Niterói, onde realiza seus ensaios. Tornou-se um dos pontos altos do Carnaval da cidade com seu desfile realizado, anualmente, no sábado pós-Carnaval. Com um repertório repleto de versões de sucessos nacionais e internacionais, tocados com instrumentos de sopro e percussão, sempre temperando seus arranjos com os mais variados ritmos brasileiros. A Sinfônica é um grupo instrumental. Seja no Carnaval ou em qualquer apresentação, quem canta é o público.

De tanto ser apresentada como “a Sinfônica Ambulante de Niterói”, o grupo se tornou uma espécie de embaixada informal da cidade onde quer que vá. Mais ainda. Se tornou motivo de orgulho dos niteroienses, o que aumentou ainda mais após a conquista do Estandarte de Ouro. A façanha rendeu uma Moção de Aplauso por iniciativa do vereador Paulo Eduardo Gomes, que levou a fanfarra para a Câmara municipal, na última quinta-feira (7).

A Seguir Niterói conversou com um dos fundadores do grupo, Edison Matos (os outros são Rafael Tereso e Eduardo Magliano), sobre esse momento “orgulho nacional de Niterói” da Sinfônica Ambulante. E ele avisa: os integrantes já reservaram o dia 6 de agosto para fazer uma grande festa junina – agostinha, no caso. Só falta decidir onde será.

Como vocês encararam a mobilização que a premiação provocou entre os niteroienses?

A votação é uma grande brincadeira, até porque, todo mundo é amigo. Todos se conhecem, nos blocos. Era uma enquete de Instagram. Da fase semifinal para a final, quando vimos, vários artistas, personalidades e até políticos de Niterói estavam pedindo voto para nós. As principais páginas e veículos de comunicação da cidade entraram na campanha também até que o perfil oficial da prefeitura de Niterói fez um post pedindo voto. Acho que, nesse momento, o niteroiense abraçou pra valer a causa. Já estava quase no final, o bloco concorrente percebeu que tinha uma cidade inteira em campanha por nós e se mexeu. Eles conseguiram acionar o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que pediu voto para eles, nas suas redes sociais. Isso  mexeu com os brios do niteroiense e virou guerra (risos). O pessoal daqui também agiu e o nosso prefeito Axel Grael entrou em campo também. Foi assim que o italiano venceu o joelho (risos).

Vai ser, então, uma responsabilidade a mais manter o título, no próximo Carnaval?

É possível que, nos próximos anos, mude a regra: quem já venceu não poderá concorrer outra vez. Sem problemas. Dá um trabalho danado pedir voto!

Oficialmente, os blocos de rua estavam proibidos de desfilar tanto no Rio quanto em Niterói. Porém, vocês (e outros) desfilaram e os respectivos prefeitos pediram voto para escolher o melhor bloco de rua de 22. Como avalia essa situação?

Em janeiro, o Carnaval de rua foi cancelado no Rio e em Niterói. Assim, em fevereiro, não teve nada de rua e a Sinfônica respeitou isso. Rolaram festas particulares que estavam permitidas. Quando jogaram os desfiles das escolas de samba para abril, as ligas dos blocos de rua  resolveram não sair, no Rio. Mas as fanfarra não pertencem a nenhuma liga e não precisam daquela estrutura de carro de  som e palco como os blocos grandes. As fanfarras fazem cortejo e tocam. Nós saímos no Carnaval de abril que não estava proibido, mas também não estava organizado. O Carnaval de rua acabou sendo esquecido. Ao mesmo tempo, os prefeitos do Rio e Niterói sabem que o Carnaval de rua movimenta uma economia muito grande. Acredito que eles tenham colocado a mão na consciência. As fanfarras não precisam de grandes estruturas, mas seria ótimo poder contar com banheiros, segurança e apoio. No final, os prefeitos entraram na brincadeira da premiação. Esperamos que o Carnaval seja mais estruturado, a partir do ano que vem. A Sinfônica saiu, em Niterói, de forma espontânea, no final de abril, no dia do desfile das campeãs do Rio. A gente não tem patrocínio e não precisa de autorização para desfilar porque é uma livre manifestação cultural e não tivemos problema de repressão, nem no Rio nem em Niterói.

O grupo tem noção que virou orgulho de Niterói?

Temos essa noção e também que somos uma espécie de embaixadores de Niterói. Isso aconteceu de uma forma muito natural. Somos moradores da cidade, ensaiamos na rua. Desde o início, levamos conosco o nome da cidade porque éramos (e ainda somos) apresentados como a Sinfônica, de Niterói. Isso até criou um certo bairrismo, no início, quando íamos para eventos no Rio. Consideramos o dia 20 de março de 2011 como a data da nossa fundação porque foi o dia em que fizemos o primeiro ensaio. Éramos 20 pessoas. Não tinha (e ainda não tem) um estúdio grande em Niterói onde pudéssemos ensaiar, então, fomos para a rua, mais precisamente, para a praça Getúlio Vargas, em Icaraí, que se tornou o ponto de partida dos nossos cortejos. Passamos a ensaiar, também, no Campo de São Bento, uma vez por mês.

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Por que vocês optaram por criar uma fanfarra?

Porque não tinha nada parecido, em Niterói. A Orquestra Voadora é parte da nossa inspiração porque, quando começamos, não tinha também nada igual a eles, no Rio. A Orquestra abraçou muito a gente. O Boi Tolo também.

A ideia era criar uma banda ou um bloco de Carnaval?

Uma banda, para tocar em qualquer época. Somos amigos de escola. A maioria é ex-Abel. Tocávamos, desde criança, no colégio. Muitos de nós somos professores de música e não vivemos somente da Sinfônica. Somos uma banda independente, sem patrocinador. Mas é o Carnaval que nos alavanca.

O grupo é muito grande, não?

Nossa banda é formada por um núcleo fixo de 14 músicos, mas, no Carnaval, os alunos das oficinas chegam para tocar junto. Saímos pelas ruas com uma média de 150 integrantes.

A procura pelas oficinas é grande?

Desde o início, as pessoas nos procuravam pedindo para aprender a tocar. Assim, criamos as oficinas para adultos em 2015, no Clac (Clube Livre de Arte e Cultura), no Vital Brazil, onde estamos até hoje. Damos aulas para pessoas entre 16 e 70 anos. No momento, temos duas senhoras como alunas de flauta.

Encarar o Carnaval só com música instrumental e deixar o “gogó” para o público foi um risco calculado?

A maioria das músicas, o público gosta. Não precisamos escolher só pop farofa para tocar, mas criamos versões mais dançantes de diferentes músicas, que acaba por atingir diferentes públicos. A grande sacada foi fazer música para as pessoas dançarem. Algumas não podemos deixar de tocar como, por exemplo, “Tempos Modernos” do Lulu Santos – ele, inclusive pediu voto pra gente. O frevo “Vassourinha” é o nosso encerramento, sempre. Mesmo com as pessoas cansadas, ninguém fica parado quando tocamos essa música.

O “cortejo marítimo” já virou tradição de vocês. Teve um ano que a concessionária das barcas tentou impedir que vocês embarcassem, não foi?

Sim, mas não conseguiram. Atualmente, evitamos divulgar o horário que faremos a travessia e também não chegamos  tocando, de cara, na estação. Mas todo mundo sabe que pegamos a barca do domingo de Carnaval, bem cedo. E na barca, começa a festa.

Qual a formação atual da Sinfônica?

Cauê Machado (bateria), Fabiano Marçal (bateria), Rafael Marcolino (bateria), Leonardo Perlingeiro (bateria), Edison Matos (Saxofone), Raphael Lopes (Saxofone), Vinícius Bergamaschi (Saxofone), Thaísa Fredo (Flauta Transversa), Vanessa Onofre (Flauta Transversa), Fred Rodrigues (trompete), Marcelo Benvenuti (trompete), Ricardo Benvenuto (trompete), Matheus Miranda (trombone), Matheus Luiz (trombone) e Lucas Souza (trombone).

Cortejo marítimo: de Niterói para o Rio de Janeiro, de barca de “linha”. Foto: Divulgação/Tai Ravedutti

 

 

 

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