COMPARTILHE
Enquanto alguns furam filas por motivos variados e os “sommeliers” seguem na corrida pela vacina de preferência, adolescentes com deficiência permanente e/ou comorbidades, na faixa etária de 12 a 17 anos, não foram contemplados no grupo prioritário de vacinação contra a Covid. O surgimento de novas cepas, incluindo a Delta, que vem da Índia e pode provocar o aumento de reinfecção da doença, gera preocupação nos pais desses jovens. Pensando nisso, o movimento #UmaDosedeRespeito lançou um abaixo-assinado que tem como uma das líderes em Niterói, a pesquisadora da área de desenvolvimento e aprendizagem de pessoas com Síndrome de Down.
Além do abaixo-assinado, uma carta aberta foi enviada para o Prefeito de Niterói, Axel Grael, e ao Secretário de Saúde de Niterói, Rodrigo Oliveira, solicitando uma reunião para tratar da inclusão de adolescentes no grupo prioritário da vacinação. A gravidade da situação impõe urgência ao momento.
Militante há 15 anos dos direitos das pessoas com deficiência, desde que seu filho nasceu, a professora da UERJ e moradora de Niterói, Marinalva Oliveira explica que as pessoas com deficiência e/ou comorbidades apresentam maior vulnerabilidade e risco de contrair a Covid-19 e de desenvolver formas mais graves da doença. Diante da vulnerabilidade a que esses adolescentes estão sujeitos, caso não seja priorizada a vacinação, não há como se estipular uma perspectiva de retorno escolar, às terapias ou à qualquer atividade presencial necessária para sua estimulação e desenvolvimento.
– Não havia vacina autorizada para menores de 18 anos e, a partir do momento que Anvisa autorizou o uso da vacina Pfizer para adolescentes na faixa etária de 12 a 17 anos, um grupo de mães de adolescentes que tem Síndrome de Down foi formado. Nos organizamos e fomos convidando outras mães e pais de adolescentes com deficiência e/ou comorbidades. Em uma semana conseguimos alcançar mais de 50 famílias fazendo parte do movimento aqui em Niterói. Em Macaé, surgiu um movimento semelhante a partir do nosso. Considerando que entes federativos têm autonomia para definirem suas prioridades no calendário vacinal contra a Covid-19, avaliamos que era hora de pressionar o poder público municipal. É questão de vida e de direitos – ressaltou.
As pessoas com deficiência permanente e/ou comorbidades acima de 18 anos fizeram parte do grupo prioritário na vacinação, a partir dos critérios de maior vulnerabilidade e amparadas pela Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.164/2015) que garante o atendimento prioritário às pessoas com deficiência. No entanto, os menores de 18 só não foram incluídos no mesmo calendário porque, na época, não havia vacina com autorização a eles.
Relatos de óbitos
– Temos relatos e casos de complicações e até de mortes. Por vários motivos: imunidade mais baixa e comorbidades associadas a problemas cardíacos, respiratórios, diabetes e outras; dificuldade para seguir protocolos de segurança, como uso de máscaras, higienização das mãos e afastamento social; dificuldades de identificar e comunicar os sintomas da doença. Pessoas com deficiência intelectual têm dificuldade de compreender os sintomas e, nós, de identificar. Acontece que quando eles chegam ao hospital o quadro já é grave e muitas vezes irreversível – explicou.
A carta aberta elaborada pelo movimento #UmaDosedeRespeito teve mais de 5 mil adesões nos perfis de redes sociais. Além disso, o movimento recebeu muitas mensagens de apoio, inclusive de pessoas de outros municípios e estados estão utilizando a mesma carta para pressionar o poder público em seus locais de origem. Além da carta aberta, um abaixo-assinado, este de âmbito nacional, já alcançou a marca de quase 10 mil assinaturas.
Marinalva faz parte do movimento nacional e também do estadual. Ela conta que a luta foi grande, mas já considera a inclusão de adultos com deficiência como grupo prioritário uma vitória. Mas ainda falta chão. Uma carta aberta já foi enviada ao Prefeito Axel Grael e ao Secretário de Saúde de Niterói solicitando uma reunião para tratar da inclusão de adolescentes com deficiência e/ou comorbidades na prioridade da vacinação. No momento, está sendo feita uma seleção de vídeos com depoimentos de adolescentes com deficiência e/ou comorbidades.
Audiência pública na próxima segunda (5)
Uma audiência pública na Câmara Municipal, convocada pelo Presidente da Comissão dos Direitos das Pessoas com Deficiência, será realizada na próxima segunda-feira (5). O tema é a Inclusão Escolar dos PCDs e o impacto da ausência da vacina em adolescentes com deficiência e/ou comorbidades.
– Vamos abordar de que forma a ausência da vacina em adolescentes com deficiência e/ou comorbidades aprofundará e, muito, a exclusão em todos e de como isso é extremamente prejudicial ao desenvolvimento deles. Também teremos uma live chamada pela OAB Niterói, da Comissão de Pessoas com Deficiência, na terça-feira (6). Estamos buscando apoio de parlamentares municipais, estaduais e federais para as nossas reivindicações – destacou.
De que forma a sociedade pode colaborar com o movimento?
Como há casos de adolescentes com deficiência que não conseguem usar máscaras como instrumento de proteção, a exemplo de pessoas com autismo, o ensino à distância tem excluído os adolescentes com deficiência, já que necessitam de apoio presencial. Qualquer atividade remota se torna uma tarefa desafiadora. A impossibilidade das idas às terapias, necessárias diariamente, e às aulas presenciais têm consequências graves no desenvolvimento desses adolescentes, podendo até ser irreversível. Em caso de muita exposição, eles podem contrair a Covid e até irem ao óbito.
Outra questão fundamental é que as pessoas com deficiência têm direito ao atendimento preferencial, conforme assegura a Lei Brasileira de Inclusão (LBI): Seção Única Art.9º – “A pessoa com deficiência tem direito a receber atendimento prioritário, sobretudo com a finalidade de: I. proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; II. atendimento em todas as instituições e serviços de atendimento ao público.”
– Pedimos a compreensão da sociedade, pois nossos filhos com deficiência e/ou comorbidades e suas famílias tiveram uma mudança drástica em suas rotinas com a pandemia da Covid. Não estão sendo realizadas terapias e não existe a possibilidade do retorno seguro das aulas presenciais. Isso por conta do isolamento social, pois são mais vulneráveis e correm risco de contrair a Covid e desenvolverem formas graves da doença. Estamos reivindicando a prioridade na vacina para nossos filhos a partir de critério da preservação da vida como direito inalienável. Os critérios para vacinação são científicos, legais, concretos e objetivos – reforçou.
COMPARTILHE