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A crise econômica e a pandemia castigaram especialmente a população mais pobre. Em Niterói, como em todo o país, o destino de muitas dessas pessoas foi viver precariamente nas ruas, contando com a solidariedade e com a sorte. Pensando em conhecer suas histórias e proteger seus direitos e interesses, uma associação entre o Conselho Municipal de Crianças e Adolescentes (CMDCA), a UFF e outras entidades e voluntários retomaram em maio o Ocupa Praça, que estava suspenso havia dois anos, por causa da pandemia. A ação foi realizada no último dia 11, na Praça da República (Centro).
O projeto foi criado em 2016, por um grupo de extensão da Universidade Federal Fluminense (UFF), em parceria com o Conselho Municipal de Direitos de Crianças e Adolescentes, o Fórum de Direitos de Crianças e Adolescentes e também profissionais que trabalham em prol da infância e juventude no município. Havia dois anos que a atividade fora interrompida, por causa da pandemia, e a ideia é retomar os trabalhos.
Ocupa Praça de 11 de maio, na Praça da República. Foto: Jovens Comunicadores BemTV
A professora Sônia Berger relembra o início desse trabalho, lá em dezembro de 2016, quando a Praça Vital Brasil foi a primeira da cidade a receber o projeto:
– É uma ação coletiva. Quanto mais instituições que prestam serviços para esta população estiverem aqui, melhor. Nosso objetivo é fazer um trabalho de resgate dos direitos dessa população: à alimentação, ao brincar, especialmente as crianças e adolescentes, que são muito criminalizados na nossa sociedade, não são vistos como crianças. Quando sentamos na praça e brincamos, estamos dizendo à população: são crianças sim e têm direitos sim – afirmou.
O evento também contou com representantes de projetos sociais que têm como luta a vulnerabilidade social, como o Projeto Grael, que promove a cultura da vela e amplia o acesso aos esportes náuticos, instrumentos de educação e estímulo à profissionalização, promovendo a cidadania e a inclusão social. E representantes de órgãos públicos, como a Coordenação Técnica de Prevenção às Violências e o NAECA – Núcleo de Atenção Especial à Criança, Adolescente e Adulto vítima de violência.
A retomada aconteceu em um dia de sol forte. A maior parte das atividades estava sendo liderada por mulheres, que levaram corda, brinquedos e jogos para as crianças brincarem. Serviram brigadeiro, pipoca, refrigerante, entre outros comes e bebes. Um varal solidário foi montado, onde diversas pessoas penduravam roupas e doações para serem usadas por quem vive na praça.
Histórias invisíveis
Muitas mulheres com filhos pequenos se aproximaram ao ver o movimento das atividades. Thais Conceição de Oliveira Santos é mãe de quatro, e os cria sozinha desde o assassinato do companheiro, o jovem Hiago Bastos, morto em Fevereiro por um policial à paisana enquanto vendia balas em frente às barcas de Niterói.
– O Hiago era um menino trabalhador que tinha sonhos. Ele saiu de casa em busca do melhor pra família dele e infelizmente teve a vida interrompida, brutalmente assassinado enquanto estava trabalhando (…). Eu e minha família estamos desmoronados, destruídos, era ele que lutava pela gente – desabafou.
O relato da viúva de Hiago faz lembrar os milhares de casos semelhantes que acontecem todos os dias aos jovens negros no Brasil, e que acabam sem solução. Ela pediu que fosse feito um ato pedindo justiça por Hiago, pedindo continuidade na investigação e apuração do caso.
Outra participante da atividade, a jovem Marcela (18) anos, vive e dorme onde encontra espaço na Av. Amaral Peixoto, no Centro. Ela pedia ajuda para o irmão, que se encontra em uma cadeira de rodas após ser atingido em um tiroteio em uma comunidade de São Gonçalo.
A ação solidária durou por toda a manhã, e atendeu cerca de trinta pessoas compareceram ao evento. Segundo os organizadores, o evento deve ser bimestral e a próxima edição deverá acontecer em julho. Associações e voluntários que queiram participar, podem entrar em contato com a professora Sônia através do email projetoniteroi.mps.isc@id.uff.br ou no Instagram da campanha Para Cuidar de uma criança! no @umacidadeinteira_
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